quarta-feira, abril 30, 2008

pedro passos coelho

Não sei porquê, mas o argumento de Pedro Passos Coelho de que a política, apesar de séria, não deve ser feita por pessoas sisudas, não me convence de todo. Olha-se para a personagem e não se vê um homem de 43 ou 44 anos. É, no fundo, a velha questão da idade, entre o ser e o parecer. Nas últimas presidenciais tivemos este dilema: afinal quem era o candidato mais velho: Cavaco Silva, com 70 anos, ou Mário Soares, com 80?
Por falar em Mário Soares, lembro-me muito bem, aqui há uns 10 anos atrás, de Passos Coelho, no ímpeto da sua juventude partidária (estes rapazes das juventudes partidárias envelhecem precocemente e, depois, fazem umas malabarices mediáticas para mostrarem a sua irreverência) ter dito que Mário Soares estava já fora de prazo de validade (teria então mais ou menos 70 anos), a respeito de uma qualquer intervenção do ex-presidente da República. Lembro-me também da advertência de Pacheco Pereira ao "irreverente" Passos Coelho, ao afirmar que o argumento da idade não é relevante nem deve ser considerado em questões de debate ideológico-político.
Por isso, é irónico que o agora maduro ex-líder da jota social democrata seja visto como um jovem ainda inexperiente para exercer o cargo de líder do seu partido e, consequentemente, candidato a primeiro-ministro. Mas concordo com Pacheco Pereira: a idade é um argumento que não deve contar.

terça-feira, abril 29, 2008

o polícia solitário numa esquadra

Afinal, Portugal ainda é um país de bons costumes à beira-mar plantado. Um polícia, sozinho, numa esquadra de Moscavide (pouco mais de 12 000 habitantes, segundo os últimos censos), reflecte a santa ideologia que foi apanágio durante todo o consolado salazarista. Arrepia só de pensar o que é aconteceria se, por exemplo, no Brasil, nos arredores do Rio de Janeiro, houvesse uma esquadra com um simpático polícia lá metido.
No entanto, o episódio da esquadra de Moscavide, em que um desgraçado perseguido por uma turba de arruaceiros procurou uma desolada protecção (policial... sem ironia) não passou despercebido ao Ministro de Administração Interna. Atento, Rui Pereira veio logo em solene recomendação: "Não é prática aconselhável haver uma esquadra da PSP em que esteja apenas um agente da polícia", adiantando que "as esquadras não podem ser locais vulneráveis".
É evidente que não, sr. Ministro da Administração Interna, é evidente que não!..

o discurso de jardim visto por manuela ferreira leite

No programa Falar Claro, da Rádio Renascença, onde é comentadora permanente, Manuela Ferreira Leite desvalorizou as palavras de Alberto João Jardim, quando este apelidou de bando de loucos os deputados do Parlamento Regional da Madeira. Os argumentos por ela apresentados não podiam ser mais disparatados: "Aquilo [a Madeira] é um ambiente específico com uma linguagem específica". Deu, de seguida, para melhor elucidar o seu raciocínio, um exemplo, comparando as assimetrias vocabulares entre o norte e o sul do continente: "O que aqui [Lisboa] é um palavrão, lá [no norte] não é. [Por isso], é preciso dar um desconto.".
Perante isto, eu não digo mais nada (f...!, c...!).

segunda-feira, abril 28, 2008

manuela ferreira leite

Começou a campanha de Manuela Ferreira Leite. Nada surpreendente, aliás, as primeiras palavras da candidata. De facto, a declaração da apresentação formal de Ferreira Leite andou em volta de áreas vocabulares bem definidas. Anotei umas poucas: "rigor", "respeito", "reformista", "confiança", "responsabilidade", "ponderação" (que levou ao sacrifício pessoal), "rumo" (outra vez o leme).
Manuela Ferreira Leite pouco divergirá desta orientação programática. Em primeiro lugar, porque é incapaz; por outro lado, é precisamente o sentido cavaquista de homem do leme que está na base da sua própria mistificação. De qualquer modo, as contas saíram trocadas a Sócrates: quando esperava a dupla titubeante Menezes e Santana, aparece-lhe o oposto, verdadeiramente um outro partido.

fim dos contratos colectivos

"[Os contratos colectivos de trabalho que] "nunca caducam (...) um atraso de vida e um factor de bloqueamento para a economia e para os trabalhadores."
Quem assim falou foi o nosso primeiro-ministro e não um qualquer líder da oposição à esquerda do PS. Quer isto dizer que José Sócrates iniciou, aqui, uma estratégia que vai durar até à eleição legislativa de 2009 (ainda mais quando Manuela Ferreira Leite se adivinha como o próximo líder do PSD) e que passa por fazer oposição ao seu próprio governo, no sentido de encaminhar a memória colectiva do povo português para um passado que o PSD, previsivelmente mais forte, fez parte. Vai ser, portanto, um ano de "deixem-nos acabar a obra", com assombros passadistas.

sábado, abril 26, 2008

o estudo de paula espírito santo

Paula Espírito Santo, professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, elaborou um estudo que chega a uma conclusão nada admirável: os discursos de tomada de posse dos presidentes da república, ao longo destes 34 anos de democracia, têm-se pautado por um mimetismo lancinante. Com efeito, desde Eanes até Cavaco, a ética discursiva presidencial gira em volta de preocupações de conciliação, coesão nacional (e a importância do cargo de Presidente da República para atingir, cabalmente, essa mesma coesão), política externa (a imagem de Portugal no mundo), aproximação entre os eleitores e os eleitos, resignação e pessimismo e, invariavelmente, a economia. Conclui, portanto, a investigadora: "não existem traços distintivos marcantes entre os diversos discursos de tomada de posse".
Ouvindo a recente reacção de José Sócrates ao discurso de Cavaco no Parlamento, no dia 25 de Abril, poderíamos, por empréstimo, chegar à mesma conclusão, isto é, nada tem mudado, principalmente quando estamos perante um refinamente da chamada hipocrisia política. Transcrevo as palavras de Sócrates: "Só posso concordar com o presidente e manifestar a vontade de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para chamar a atenção dos jovens para a política". Basta ler os jornais do ano passado do dia 26 de Abril.

o estudo de cavaco

Cavaco Silva, no silêncio da sua presidência, deu ordens para que, em completo segredo (este homem é realmente muito sóbrio!...) um estudo provasse o conhecimento dos jovens portugueses sobre a realidade política. Foram três as perguntas elaboradas: o número dos estados membros da União Europeia (não sei), o nome do primeiro presidente eleito após o 25 de Abril (é difícil, mas sei) e se o PS dispunha ou não de uma maioria absoluta no Parlamento (esta é fácil). Ora, como é óbvio, estas três questões, de cartilha, não provam absolutamente nada quanto ao conhecimento dos jovens portugueses relativamente à nossa realidade política. Quando muito, provam que o Presidente da República acredita em inquéritos que, através de duas ou três perguntitas, resultam completamente enviesados.
Um exemplo: aqui há tempos, Cavaco Silva foi criticado por não saber que Os Lusíadas, expoente literário e cultural de todo o espaço lusófono, é composto por dez cantos (ele disse que tinha nove). Provavelmente, os mesmos jovens que responderam errado ao inquérito da presidência, acertariam, de olhos fechados, no que falhou o presidente. Agora, perante o erro de Cavaco relativamente ao épico de Camões, é-me permitido afirmar, categórico, que estamos perante o presidente mais inculto da nossa República? Obviamente que não! Cavaco Silva é, naturalmente, um presidente culto, apesar de não ter um tipo de cultura abrangente, vincadamente humanista. Aliás, se o eleitorado fosse atrás de perfis culturalmente abrangentes, não teria escolhido Cavaco Silva para o mais alto cargo da nação. Com efeito, tanto Soares como Alegre ficam a milhas de distância de Cavaco quanto a perspectivas culturais, sejam elas nacionais, como universais.
Deste modo, não quero com isto dizer que está tudo muito bem relativamente ao conhecimento que os jovens têm da nossa história recente. Mas culpabilizar os deputados (mesmo colocando-lhes uma quota parte da culpa) parece-me estupendamente abusivo.

(publicado no jornal Público no dia 3/Maio/2008)

os dois milhões a tiago monteiro

Li, na secção "A semana que passa", no Expresso, uma curta frase de Laurentino Dias, Secretário de Estado do Desporto, em que refere que os dois milhões de euros de apoio estatal ao corredor de automóveis Tiago Monteiro, aquando a sua efémera passagem pela fórmula 1, "é quase o nome no retrovisor de um F1" e que, segundo o jornal, acha normal este tipo de apoio estatal.
Esta pequena frase, a ser verdade (e eu acredito, lastimosamente, que sim), poderia ser desenvolvida, criticamente, em várias áreas do saber: política, sociologia, economia, etc. Mas é, sobretudo, na pura análise psicológica que ela adquire maior pertinência decomponível.
Na verdade, um membro do governo reflectir, assim, a um jornal, perante os esforços que diariamente são pedidos aos portugueses, a falta de apoios a desportos que verdadeiramente trazem reputação a Portugal, a crise do desemprego que afecta milhares de famílias, os milhares de contratos a prazos de alguns trabalhadores, os recibos verdes de outros tantos trabalhadores, o cabaz básico da alimentação a subir cada vez mais, os juros do crédito à habitação em ascensão sistemática, os pais que não têm dinheiro para dar aos filhos o mínimo de dignidade social, as famílias que pouco têm para comer... perante isto, Laurentino Dias - que não fez mais do que exibir o seu cérebro provinciano (naquilo que o provincianismo tem de pior, evidentemente) - arrota, nos jornais, que dois milhões de euros são só (quase) "o nome no retrovisor num fórmula 1".
Por tudo isto, este senhor devia explicar muito bem o que quis dizer, mas, principalmente, toda esta história do apoio a Tiago Monteiro. Sabemos (segundo a imprensa) que tudo se inicia com o governo de Santana Lopes. Mas também ficámos a saber que este governo tem mais um daqueles cromos... das corridas... de fórmula 1, claro!

sexta-feira, abril 25, 2008

santana lopes

Eu desconfio que Santana Lopes está mesmo convicto que o melhor candidato para derrotar o PS seja ele próprio. Ouvi-o na SIC-Notícias e não o entendi muito bem. Primeiro fala criticamente de alguns dos seus colegas no partido, ao ponto de deixar a ameaça da expulsão (ou auto-expulsão) a pairar (se for eleito); depois, para o fim, como que a despedir-se dos portugueses que o escutam, refere que é esta divergência que faz a força do PPD-PSD. Fala como um livro aberto, é verdade! Chega a ser descarado em algumas coisas que diz como, por exemplo, na obra que tem desenvolvido nos mais diversos cargos que ocupou: na Câmara de Figueira da Foz, em Lisboa (ponto de admiração), na Secretaria de Estado da Cultura (dois pontos de admiração). E, claro, para terminar, o seu principal arrazoamento, que o vai acompanhar diariamente no próximo mês: a fidelidade ao líder Menezes. Uma coisa é certa: vamos ter campanha.

santana e manuela

A pergunta que formulei para a candidatura de Manuela Ferreira Leite, exponho-a em Santana Lopes: o que é que traz de novo, para o país, Santana? A resposta é, igualmente, óbvia: nada!
Só quem andasse muito distraído é que não conseguia perceber a extraordinária ligação a Luís Filipe Menezes. Só que o ainda há um ano líder do PSD teve que reformular a sua meia travessia do deserto, com o abandono de Menezes (muita gente tem abandonado este partido, ultimamente!...). Por isso, antecipou o que esperava vir a fazer dentro de um ano: candidatar-se, como o salvador íntegro (que nunca se opôs ao líder), do seu PPD-PSD fiel ao Sá-Carneirismo (não perdeu tempo Santana, ao afirmar que é o único ismo que tem seguido. Ele sabe que as bases do partido gostam. Só não sabemos é se ainda gostam. Um mês de campanha social democrata. Muito festival em perspectiva. Gostava de saber se a Manuela Ferreira Leite já se arrependeu. Jardim é, afinal, um medricas. Tanta bazófia para nada. Primeiro eram as tropas; agora são as facções. Tudo para acabar a ver de binóculos. Dêem-me dinheiro que eu também faço obra!).

quinta-feira, abril 24, 2008

tabu santana

É simplesmente Santana igual a ele próprio, com a invenção de um novo tabu. Para Santana Lopes, o pior mesmo é que este momento de grande exaltação patriótica, que antecede a sua esperada decisão se é ou não candidato a líder, tenha um fim. Por ele, estes momentos vagueavam permanentemente numa espécie de nave enterprise em busca de um qualquer espaço sideral, em busca do não encontrável. O pior, para Santana Lopes, é ter mesmo que desfazer o tabu.

quarta-feira, abril 23, 2008

guilherme silva tem pressa

Guilherme Silva quer ser presidente da Região Autónoma da Madeira, isto é, quer o lugar que é agora ocupado por Alberto João Jardim. Para que esse seu desígnio aconteça, o deputado sabe que o apoio de Jardim é fundamental. Isto se Jardim entender que deve apoiar alguém.
Ora, o que Jardim não precisa, neste momento, é do apoio de Guilherme Silva para uma eventual candidatura a presidente do PSD nacional. Tudo porque é um apoio que reflecte uma manhosice política que, consciente ou inconscientemente, Guilherme Silva protagoniza.
Faltam tropas a Jardim, como ele próprio já referiu. Por toda as circunstâncias e mais algumas, Guilherme Silva faz parte, naturalmente, do exército jardinista. O que lhe fica mal é recordá-lo.

a desmistificação do mito manuela ferreira leite

Há personalidades que, por qualquer motivo aparentemente não explicado, são sujeitas a uma ascensão que nem elas próprias se revêem. Manuela Ferreira Leite é um desses casos. Foi ministra de Cavaco Silva (das finanças e da educação) e a sua passagem por essas pastas não originou nenhum rasgo de genialidade, que comprovasse que estávamos perante uma política extraordinária. No entanto, a sua postura de exigência e rigor fizeram dela, na área dos números, alguém em quem os portugueses (social-democratas) poderiam confiar.
A respeito de números, saliento uma curiosidade de Patinha Antão (opositor de Manuela Ferreira Leite nas eleições para liderar o PSD) no programa Prós e Contras. Dizia então o professor catedrático de economia (como ele próprio fez questão de sublinhar), que dos três candidatos a líder até então conhecidos - ele próprio, Passos Coelho e Ferreira Leite - todos eram economistas. Patinha Antão, obviamente, trouxe este facto à conversa para sublinhar que a economia - a macroeconomia - ocupa, nas sociedades actuais, o lugar cimeiro ("it's the economy, stupid", disse, irónico, Clinton). Curiosamente (outra curiosidade), foi Cavaco Silva, na sua primeira ou segunda campanha eleitoral, na década de oitenta, que esboçou, ainda tímido, um primeiro elogio aos políticos-economistas (ou economistas-políticos), ao afirmar que ele era o primeiro candidato a primeiro-ministro economista (os outros eram todos advogados).
Ora, o que para Patinha Antão é uma espécie de valor celestial e cristalino, revela-se, para mim, um dado muito pouco interessante. Na verdade, vivemos numa ditadura de números há já muito tempo! Números sem pessoas, números despidos de alma!
Deste modo, e dando como certa a eleição de Manuel Ferreira Leite, importa questionar o que é que ela traz de novo à política portuguesa. A resposta é, para mim, óbvia: nada, ou melhor, mais do mesmo.

segunda-feira, abril 21, 2008

líder para o psd e o futuro do PS

Não há fome que não dê em fartura! Se há uns meses atrás ninguém avançava para líder do maior partido da oposição, agora, com Sócrates em possível queda, alinham-se os candidatos com sonhos de curto, médio e longo prazo. O último foi Manuela Ferreira Leite.
Na verdade, a antiga ministra de Cavaco Silva, com a sua áurea sebastiânica, é uma má notícia para Sócrates. E a razão é só uma: Ferreira Leite é melhor que Sócrates naquilo que Sócrates tenta ser bom. Explicando: José Sócrates granjeou um determinado capital de confiança em parte devido a um modus faciendi que não se coadunava com o PS tradicional, isto é, um partido em que as pessoas estavam, efectivamente, em primeiro lugar ("os portugueses não são números", lembram-se do slogan guterrista?). Neste sentido, Sócrates é um socialista atípico, pois desbaratou (não determinantemente, graças aos chamados históricos, como Alegre ou Soares) um capital doutrinário que vem do tempo da Primeira República e reformulado em 1973, na cidade alemã de Bad Munstereifel, aquando do nascimento do partido, consequência natural do desmembramento da Acção Socialista Portuguesa (ASP).
Ora, com Manuela Ferreira Leite na corrida a líder do PSD - e com clara vantagem com os seus adversários (alguns completamente inócuos, outros completamente estratégicos, outros ainda completamente ausentes) -, os portugueses vão ter a oportunidade, em 2009, de confrontar duas faces da mesma moeda.
A questão que se coloca, a um ano de distanciamento, é se, por um lado, Sócrates irá nortear a sua política, nestes treze ou catorze meses que faltam até às eleições, com um sentido socialmente mais apelativo, mais humanista, mais... socialista ou, por outro lado, continuará num trilho despersonalizado (tendo em conta o património do partido), liberal, ao jeito dum PSD cavaquista, isto é, ao jeito dum PSD de... Manuela Ferreira Leite.
É que se for este o caminho, Sócrates não tem hipóteses: não só perde a maioria absoluta, como também perde as eleições. Quem ganha, para além do PSD, é também o PCP. Mas isto, sendo a mesma história, é já uma outra história.

domingo, abril 20, 2008

o problema de ângelo correia

Ângelo Correia anda em pulgas com medo que Menezes continue igual a si próprio, isto é, que dê o dito pelo não dito e retorne ao tempo do ser candidato a líder. Na verdade, Ângelo Correia demorou seis meses para perceber a asneira em que se meteu ao apoiar Menezes. Por isso, agora tem declarações verdadeiramente obscenas: "Ele [Menezes] disse-o na quinta-feira à noite, repetiu na sexta-feira numa entrevista à SIC Notícias, que não se recandidatava. O doutor Luís Filipe Menezes é um homem de palavra e disse isso duas vezes."
De facto, uma recandidatura de Menezes colocava o barão do PSD numa posição incómoda, ao não apoiar o candidato que apoiou há seis meses atrás.

benfica 0, académica 3; sporting 5, benfica 3; leiria 4, sporting 1

Três resultados apenas. Poderiam ser mais. Gostava de saber por que é que os nossos extraordinários comentadores desportivos continuam a insistir na tecla que o campeonato português não é competitivo. Olhem para a tabela classificativa. Comparem-no a outros campeonatos.
Um outro ponto interessante para entendermos a cabecinha dos nossos jornalistas: quem não conhecesse as duas equipas e estivesse a ver o jogo de Leiria, pensava muito naturalmente que havia uma equipa portuguesa (Sporting) a jogar contra uma equipa estrangeira (Leiria), pois o tom de voz, a tentativa de explicações reflectiam um desaire que, para eles, era inexplicável.
Do mesmo modo, convém não esquecer as equipas portuguesas que ganharam recentemente taças europeias (Porto), chegaram às finais (Sporting) e às meias-finais (Benfica, Boavista) dessas mesmas competições.
Finalmente, quem defende a redução de equipas no campeonato pode olhar para estes resultados: menos equipas, menos surpresas.
Se há alguma coisa má no futebol português, para além dos tradicionais dirigentes que mais não fazem do que despistar as suas incapacidades de gestão desportiva, os jornalistas e comentadores desportivos estão, indubitavelmente, em primeiríssimo lugar.

sábado, abril 19, 2008

madeira e portugal

Confesso que ando confuso com a visita (que hoje termina) do Presidente da República à Região Autónoma da Madeira. Para além da despropositada duração da visita (tendo em conta o programa da mesma) e das vulgaridades sobre o clima que Cavaco Silva, amiudadamente, referiu (o que levou um jornalista local a designá-las de metáforas!...), algumas frases que ouvi deixaram-me perplexo. Por exemplo:

  • "sentimento inquebrantável entre portugueses e madeirenses” (Cavaco);

  • "Não será por causa dos portugueses da Madeira que o Estado deixará de alcançar os objectivos que todos desejamos" (Jardim);

  • "Conheço o patriotismo das gentes desta Região Autónoma e o sentimento profundo e inquebrável que as une a Portugal" (Cavaco).

E eu que pensava que a Madeira era também Portugal!...

confusão no psd

Ribau, que poucas horas antes da declaração de Menezes que proclamou a sua renúncia do cargo de presidente do PSD ainda afirmava que o líder do partido nem à bomba saía, diz agora que Menezes poderá candidatar-se, de novo, ao cargo que, surpreendentemente, abjurou. Ora, o que Ribau Esteves afirma, nesta entrevista à TSF, não é mais do que a sua própria disponibilidade para uma candidatura. Logo ele que, dois ou três dias após a eleição de Menezes, já preconizava, num futuro próximo, a sua própria quimera como putativo líder do partido.
De qualquer modo, se tivermos em conta o afã que neste momento sobrevoa o PSD, com candidatos a líder para o curto, médio e longo prazo, não surpreende que Ribau esboce, também ele, o seu próprio ante-projecto. É só uma questão de democracia interna.

tiago monteiro na fórmula 1

Ficámos hoje a saber que o prodigioso ex-piloto de fórmula 1, de seu nome Tiago Monteiro, beneficiou de uma dádiva do governo de dois milhões de euros. Tudo para que a sua permanência no "circo" tivesse a respectiva continuidade mediática.
Em primeiro lugar, uma palavra para este jornalismo de investigação, através do qual conseguimos ter acesso a muitos disparates que políticos com responsabilidades sistematicamente teimam em produzir. Deste modo, aparece-nos agora esta pérola da arte de bem governar, que começou, segundo os jornais, com... adivinhem... o governo de Santana Lopes. No entanto, segundo o pai do piloto, todos os protocolos (que protocolos?...) foram já assinados pelo actual governo.
Não vou agora aqui falar da falta de apoios que outros desportos, com incomparável maior tradição e sucesso, advogam por parte do Estado. Os exemplos são numerosos e passam, na maior parte dos casos, pela escassez de infraestruturas (não estou a referir-me aos estádios de futebol) que permitam aos atletas desenvolverem, com qualidade aceitável, a prática dos seus desportos. Assim, gostaria mais de sublinhar, em jeito de comparação, que dois milhões de euros são, de facto, muito dinheiro. Dinheiro que daria muito jeito às escolas degradadas que o país ainda possui, a muitos hospitais para comprar equipamentos e ambulâncias com melhores valências, a muitas instituições de solidariedade, a muitas famílias que deixaram de receber o subsídio de desemprego, àqueles dois milhões de pobres que persistem ainda em Portugal...
Sócrates responderá que tudo isto é demagogia. Mas não é! São, simplesmente, os números... da fórmula 1 em Portugal.

assim se faz um senador

As pessoas cavalgam muitas vezes em sonhos. Luís Filipe Menezes andou, nos últimos sete meses, orientando-se em mantos diafanogénos que lhe permitiram acalentar uma certa dose de irrealidades, como, por exemplo, o de conseguir convencer a maioria dos portugueses das suas capacidades políticas, ao ponto de o elegerem primeiro-ministro. Agora, determinou que não, que já não queria ser primeiro-ministro. E desiste. Logo ele, que sublinhou que não desistia nem à bomba!...
O que fazer agora? Nova cavalgada: nem mais nem menos que uma espécie de referência moral da nação PSD. Tal como o outro, o Santana Lopes. Ele foi claro na entrevista à SIC: [tenho recebido] "centenas, milhares de apelos para ser candidato."
Tal como o outro (o Santana), também este vai andar por aí. Tal como os outros (cansava-me a enumerá-los), também Menezes prefere ser senador. E é assim que eles se fazem.

quinta-feira, abril 17, 2008

aguiar branco e o seu voto apagado de intenções

Não entendo este permanente e despropositado laconismo dos nossos políticos (ou de alguns). Como se a arte de não dizer, de deixar a pairar ideias no ar, tipo os homens (e as mulheres) do futebol ("você sabe do que estou a falar!...", diria alguém que não recordo o nome) fosse, efectivamente, uma espécie de fronteira ou de exame obrigatório para os candidatos a qualquer coisa na política.
Por isso, ouvir Aguiar Branco, hoje, na rádio, a respeito duma hipotética candidatura à liderança do PSD foi confrangedor. O jornalista questiona-o: "Mas já começou a recolher assinaturas?" Resposta de Aguiar Branco: "Está tudo na entrevista". O jornalista não desiste: "Vai concorrer à liderança?" Aguiar Branco: "Está tudo na Visão". Etc. etc. etc.
Fale, homem... Desembuche! Deixe lá o "está tudo na entrevista" e diga o que tem a dizer. Não seja como muitos dos seus colegas. As pessoas querem, cada vez mais, alguém que lhes fale claro, com objectividade, sem subterfúgios retóricos nem habilidades desse tipo.
Aprenda, mas veja com quem!...

quarta-feira, abril 16, 2008

banco de portugal encerra em vila real

A Agência do Banco de Portugal (BdP) de Vila Real encerra no dia 31 de Maio. É um edifício com características únicas, datado do século XIX (1893) e foi alvo de obras de remodelação há cerca de seis anos, que custaram seis milhões de euros. Além disso, é a única agência do BdP da região.
O governo prossegue, assim, o seu ímpeto de encerramento de serviços públicos na região. Quando a palavra de ordem deveria ser descentralizar (por exemplo, com a solidificação da presença de pessoas e de famílias no interior e não o contrário, como vai acontecer com as que trabalham, actualmente, na agência do BdP), os contabilistas, encerrados num qualquer gabinete duma qualquer secretaria de estado, ajudados por cérebros que continuadamente querem provar alguma coisa, gizam planos de supostas sinergias sociais, os quais, se porventura esta estratégia geocêntrica continuar, se transformarão em autênticos rastilhos de desconexão e implosão social.

terça-feira, abril 15, 2008

acordo ortográfico

Como alguém disse em relação à política, em que se defende que esta é demasiada séria (ou importante) para ser deixada exclusivamente aos políticos, o mesmo se pode aferir em relação à língua. Por isso, os linguistas que declaram, semi-ofendidos, que deveriam ter um papel preponderante no que concerne ao Acordo Ortográfico (ou reforma ortográfica) estão, implicitamente, a instituir-se como os verdadeiros donos da língua, mesmo que advoguem o argumento mais vulgar de todos - que vem nos manuais - que defende que a língua é de todos, isto é, dos falantes.
Neste sentido, importa sublinhar que, no que diz respeito a uma espécie de desamarramento linguístico, é no Brasil que tudo se inicia. Na verdade, a polémica duma maior ou menor emancipação foi, desde a independência do Brasil, em 1822, motivo que gerou, em terras brasileiras, grandes controvérsias. Basta lermos um pouco aqueles autores brasileiros de oitocentos como José de Alencar ou Gonçalves Dias (ou mesmo Machado de Assis) para verificarmos que os sinais independentistas em relação à língua foram, a seu tempo, motivo de intensa polémica, pois, segundo estes autores, a expressão intrínseca do verdadeiro sentir do povo brasileiro só se poderia efectuar através duma língua brasileira.
Mais tarde, através do Movimento Modernista Brasileiro, por volta de 1922, outros autores, com Mário de Andrade à cabeça, tentaram retomar o ímpeto nacionalista de oitocentos. Felizmente, estas opções ideológicas nunca tiveram seguimento e a prometida Gramatiquinha da Fala Brasileira, do líder incontestado dos modernistas brasileiros, nunca chegou a ver a luz do dia.
O que está em causa com o Acordo Ortográfico não é mais do que uma unificação ao nível da grafia. Se quisermos, podemos entender isso como um meio meramente institucional de afirmação internacional da língua, visto que, por muito que os defensores do não-acordo expliquem, não se compreende como é que uma língua consegue possuir, oficialmente, duas ortografias. A imagem que podemos esboçar em que alguém, neste momento, se encontra a verter documentos ou livros do brasileiro (e uso o vocábulo sem aspas) para o português ou vice-versa é hilariante e ridícula.
Por ser somente ortográfica, esta reforma não altera em nada aquilo que é verdadeiramente a riqueza duma língua, a qual se pode resumir à afortunada expressão unidade na variedade. Cito Coseriu, um linguista romeno: "Na linguagem é importante o pólo da variedade, que corresponde à expressão individual, mas também o é da unidade, que corresponde à comunicação interindividual e é garantia de intercompreensão. A linguagem expressa o indivíduo por seu carácter de criação, mas expressa também o ambiente social e nacional, por se carácter de repetição, de aceitação de uma norma, que é ao mesmo tempo histórica e sincrónica: existe o falar porque existem indivíduos que pensam e sentem, e existem 'línguas' como entidades históricas e com sistemas e normas ideais, porque a linguagem não é só expressão, finalidade em si mesma, senão também comunicação, finalidade instrumental, expressão para outro, cultura objectivada historicamente e que transcende ao indivíduo".
Deste modo, é em nome duma maior instrumentalização da língua que devemos todos unificar as nossas vontades, pois como salientou Celso Cunha, "uma língua é tanto mais prestigiosa quanto mais comunicada e comunicável". Assim, um acordo que unifique a grafia (e nunca, como é óbvio, a oralidade, até porque eu consigo entender melhor um falante do Rio de Janeiro - a norma padrão do português brasileiro -, do que um outro falante do concelho da Povoação em S. Miguel, nos Açores), só pode influir nessa mesma comunicabilidade da própria língua, que é, como sabemos, a sua maior vitalidade e o seu maior seguro de vida.
De facto, a língua é um assunto demasiado sério para ser deixado aos linguistas...

(publicado no jornal A Voz de Trás-os-Montes, em 24/Abril/2008)

segunda-feira, abril 14, 2008

as declarações de alberto joão

De vez em quando, Alberto João Jardim, o maior senhor da ilha da Madeira, brinda-nos com estrepitosas declarações, as quais têm, como único fito, aquilo que ele definiu (a respeito dos outros, claro) como uma espécie de auto-masturbação espiritual, seja lá o que isso representa na sua massa encefálica.
Porém, o que me espanta é a reacção que se gerou às palavras do presidente da Região Autónoma da Madeira. É que Jardim já proferiu, ao longo destes decénios, afirmações bem mais gravosas para a sanidade e equilíbrio da vida política regional e nacional. Por isso, as declarações do dirigente do PS-Madeira, as quais divagam sobre uma putativa ofensa ao Presidente da República são, simplesmente, patéticas. A ofensa - que existe - é sobretudo para os partidos que compõem a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, sobretudo para os deputados da maioria social-democrata, pois, como salientou Marcelo Rebelo de Sousa, é a esta instituição que Jardim, enquanto presidente, tem que prestar contas, e não o contrário. Só que as coisas por lá andam de tal maneira enviesadas que já ninguém sabe, ao certo, os papéis que a cada um cabe.
Por outro lado, se alguém espera de Cavaco um posicionamento político diferenciado daquele que foi o dos seus antecessores, pode esperar sentado. De preferência com uma cama ao lado.

domingo, abril 13, 2008

o presidente na madeira

Cavaco Silva vai visitar, pela primeira vez desde que é Presidente da República, a Região Autónoma da Madeira. É uma visita de natural expectativa, até porque Cavaco nunca foi à bola com o outro presidente, o Alberto João Jardim. Mas a expectativa maior liga-se às recentes e desastrosas declarações de Jaime Gama, precisamente a segunda figura da República, que colocou Jardim como o paradigma nacional da democraticidade. Cavaco já deu o mote, ao elogiar, no site da presidência, o progresso e o desenvolvimento económico da Região Autónoma da Madeira. Será que nos vamos, novamente, surpreender?

descentralização de serviços: uma proposta de Menezes

Entre os muitos alvitres de Luís Filipe Menezes, há um ou outro que deve ser levado em conta. É o caso da descentralização de serviços. Nada de novo, é verdade. Já o extraordinário Santana Lopes, quando foi primeiro-ministro, transferiu parte dos serviços do Ministério da Agricultura para Santarém. Além disso, essa ideia nunca foi, efectivamente, posta de lado por ninguém, apesar de se ter tornado, aos poucos, peregrina.
Todavia, uma real descentralização de vários ministérios (e não falo aqui de serviços mais ou menos secundários), abrangendo todo o território nacional, é uma ideia que não deveria ser colocada na penumbra do esquecimento, mas, pelo contrário, ser levada (muito) a sério. Com efeito, não se vislumbra razão alguma, com um mínimo grau de racionalidade, para que o Estado - o Governo - se concentre, todo ele, no Terreiro do Paço. Afinal, vivemos num mundo globalizado, não é verdade? E Portugal, nesse campo, tem também de se globalizar, começando, obviamente, cá por dentro.

sábado, abril 12, 2008

as maternidades e o tgv

A secretária de Estado dos Transportes já afirmou que o TGV Lisboa-Madrid é um investimento que nunca será recuperado, isto é, a sua exploração dificilmente será rentável. Tenho para mim que, no que concerne ao Estado, existem parâmetros estruturais que não devem ter o lucro como objectivo primeiro. A saúde, por exemplo, é uma delas. Porém, todos sabemos que um dos motivos que levou ao encerramento de urgências e de maternidades foi, no caso destas últimas, o facto de não preconizar um número mínimo de partos por ano. Foi assim em Chaves, por exemplo. Como sabemos, nasceram, no Hospital de Chaves, no ano de 2006, 455 crianças, que é um número que não se adequa à margem de lucro que proporciona, segundo a óptica do Governo, a continuação física de uma maternidade. Outros exemplos poderiam ser aqui avocados, desde o encerramento de urgências até – pasme-se! – o encerramento de linhas de caminho-de-ferro que se revelaram não-lucrativas para o governo central.
Ora, com esta orientação governamental – que privilegia os empreendimentos sumptuosos como o TGV, pontes e aeroportos à volta da capital do país que, por acaso, é a região da União Europeia com mais auto-estradas – ficámos a saber, incrédulos, que para este governo socialista é mais importante um TGV que dê prejuízo do que uma maternidade que origine menor prejuízo, o que não confere, digamos, uma sintomatologia aprazível para um governo de esquerda. Só se for isto a tão proclamada esquerda moderna com que José Sócrates ganhou as eleições.

(publicado nos jornais Público, em 15/04/2008, e A Voz de Trás-os-Montes, em 17-04-08)

a sucessão de jardim

É evidente que a putativa liderança de Alberto João Jardim - que até já esboçou uma predita reverência ao seu sucessor através duma salva de palmas no recente congresso do PSD madeirense - é apetecível. Até porque quem pensa que poderá haver uma reviravolta governativa dentro de três anos simplesmente por abandono do timoneiro, pode estar muito equivocado. Por isso, os pré-candidatos posicionam-se. Com efeito, vão ser interessantes estes três próximos anos lá para a ilha.

lisboa à frente nas auto-estradas

Leio no Expresso como título que tutela a primeira página do jornal: "Lisboa é a região da UE com mais auto-estrada". Fico satisfeito? A resposta revela-se, para mim, negativa. Aliás, a sensação que me provoca este tipo de notícia (eventualmente motivo de orgulho para muitos dos nossos governantes e portugueses) é de um certo constrangimento, o qual se edifica por pertencer a um país cujo perfil identitário se baseia num confronto, permanente e inalterado, entre fortes desigualdades socio-económicas, em que a visão de dois países num só, próprio de países subdesenvolvidos e com dimensões completamente diferenciadas do nosso, se torna cada vez mais verdadeiro.

sexta-feira, abril 11, 2008

turma do 9 C castigada com formação cívica

Saiu a sentença definitiva do episódio do telemóvel da turma do 9º C da Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto. Para além da dona do aparelho, do operador de imagem e de um outro ajudante que impediu que fosse prestado auxílio à professora (!), é a própria turma que se vê abrangida pelas ponderações punitivas da investigação. Deste modo, a turma do 9 C vai ser obrigada, fora do horário escolar, à frequência de aulas de Formação Cívica. No entanto, convém lembrar que estes alunos já têm largas centenas de horas a esta disciplina, pois ela é iniciada no 5º ano de escolaridade. Aliás, custa-me imaginar o que é que os professores irão desenvolver nestas aulas. Mais do que uma penalização para a turma, esta medida revela-se, sobretudo, um castigo para os professores.

quinta-feira, abril 10, 2008

avaliação dos professores: faz-se luz

A crer no DN, está para breve (como, aliás, convém, pois estamos a findar o ano lectivo) um acordo entre a plataforma sindical e o Ministério da Educação. Cedências de parte a parte e pronto, faz-se, finalmente, luz. Ao que parece, a maior cedência da equipa de Maria de Lurdes Rodrigues tem a ver com a não punição (que podia abranger, em última instância, o abandono da carreira) do professor que tenha, nesta primeira fase avaliativa, uma classificação de "regular" ou "suficiente". Assim, o ministério dá uma segunda oportunidade a estes professores, podendo estes submeterem-se a um novo processo de avaliação no ano seguinte (pobres os que apanham, outra vez, com uma turma desgraçada...). Acho muito bem. A avaliação destes professores foi já, no passado (recente ou não) criteriosa (pois é assim que tem que ser!...), aquando da sua passagem pela faculdade e/ou pela triagem que constitui o estágio pedagógico.
Ora, já aqui escrevi que os professores sempre foram avaliados, e que bastava um refinamento desse processo para que tudo funcionasse de um modo mais proeminente e positivo, isto é, com uma maior capacidade de objectivar critérios que, por norma, são dificilmente mensuráveis, designadamente aqueles que dizem respeito a parâmetros qualitativos. Porém, noto que, paulatinamente, com as cedências mútuas, tudo se vai confluindo - se não houver aqueles arqui-zelosos tradicionais que, em todo o lado, infestam os mais variados serviços - naquele vasto espaço em que quase tudo é possível e aceitável. Ainda bem! É que avaliar professores é mesmo assim!

quarta-feira, abril 09, 2008

psd, o passado e o presente

Palavras de Luís Montenegro, o primeiro vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, defendendo a tese de uma responsabilidade colectiva relativamente ao estado que o seu partido chegou: "ainda não fomos capazes de nos concentrarmos mais na actuação política e valorizar menos as questões internas, que devem ser discutidas apenas nos órgãos próprios do partido”. Tudo a propósito das críticas de Ângelo Correia sobre a sua insatisfação com o PSD (há pouco, ouviu-o na SIC a embrulhar-se numa desculpa tola, afirmando que estava a falar da política em geral e não no seu partido em particular).
Andamos nisto: de um lado, o governo passa a vida a falar na pesada herança do passado; do outro, o "passado" não faz mais do que se desculpar do presente.
Vejo e ouço Luís Filipe Menezes na televisão e observo que o fundo azul se tornou menos azul, alterando entre o azul CDS-PP inicial e um azul-bebé renovado. Continua, portanto, o partido à procura duma identidade... comunicacional, claro.

terça-feira, abril 08, 2008

ângelo correia: o desassossego afortunado ou o princípio do fim

Finalmente, um dos catedráticos da nossa social democracia, apoiante de Luís Filipe Menezes, insurgiu-se contra o rumo que o actual PSD - o da setinha virada para cima - está a tomar. Neste sentido, os parâmetros que o ex-mandatário nacional da candidatura de Menezes (e actual presidente do Conselho Nacional do partido) evoca são elucidativos daquilo que tem sido o PSD ao longo destes meses: "refazer a qualidade do partido, que foi perdida nos últimos anos, e refazer a necessidade de pensar". Pois é: qualidade e racionalidade, ou, se quisermos, qualidade de pensamento é o que falta aos dirigentes que actualmente desenvolvem as suas actividades no topo da pirâmide do PSD.
Ângelo Correia acordou agora. Talvez por que não queira ficar ligado, inexoravelmente, à tragédia.

a estátua de jardim

Confesso que fiquei abismado com a leitura da notícia sobre uma putativa estátua, a Alberto João Jardim, para comemorar um fim de ciclo que se aproxima (30 anos de governação inexorável). De facto, iniciar o dia lendo uma coisa do género "estátua de Jardim com 50 metros" não é, digamos, o modo mais saudável o fazer. Porém, passado o momento de incredibilidade, observei que toda a notícia se baseava em pressupostos irónicos que o partido de Manuel Monteiro, na Madeira, nos tem vindo a habituar. Fiquei, portanto, mais tranquilo e, na quietude desse instante, retomei, placidamente, a leitura do jornal.
Mas um novo desassossego se apoderou, novamente, da minha cinzenta manhã, pois pensei que o PND fantasiou um cenário que muitos madeirenses social-democratas estarão já, a três anos de distância, a estruturar.

segunda-feira, abril 07, 2008

o presidente do benfica


Torna-se inacreditável ouvir o presidente do Benfica falar de futebol. Servem de exemplo as declarações a respeito do jogo Boavista – Benfica. O homem quer a Polícia Judiciária metida ao barulho! Chama ladrão ao árbitro, virando as costas aos jornalistas para não responder às perguntas.
Lastimavelmente, o treinador Chalana vai pelo mesmo lamiré. E as pessoas escutam-nos, os jornalistas pelam-se, o Secretário de Estado da Juventude e dos Desportos, Laurentino Dias, intervém... É uma tristeza (escrevi primeiro alegria, mas renunciei a ironia...).
O futebol é das poucas actividades sociais e profissionais em que isto se passa, assim, desabrigada e extrovertidamente. Viva!

novos protestos de professores

A Fenprof ameaçou, através de Mário Nogueira, com novos protestos no início do próximo ano lectivo. Haverá sinal mais evidente de fraqueza?!...

domingo, abril 06, 2008

O erro corrigido de Correia de Campos e a Ministra da Educação

A ministra da Saúde, Ana Jorge, reconheceu o erro do seu antecessor no cargo, relativamente ao encerramento das urgências em Anadia. É, pois, uma boa notícia para aquela gente que, galhardamente, se manifestou contra a prepotência dum ex-ministro.
Uma leitura igualmente consequente - que com legitimidade se pode distinguir -, tem a ver com a própria racionalidade das decisões governamentais. O reconhecimento do erro é sempre melhor do que a sua obstinada sublimação. E, muitas vezes, a razão (também) se encontra no lado que, aparentemente, é o mais emocional. Por isso, continuam caprichosas as declarações de Correia de Campos, quando afirmava, categórico, que as pessoas irão, numa fase posterior, dar razão ao governo. Não é, pois, verdade!
Neste sentido, podemos construir, sem grande esforço, um paralelo com o posicionamento dogmático da Ministra da Educação. Na verdade, também ela se encontra pairando por cima duma suposta emotividade que os professores, a cada dia que passa, evidenciam com maior acutilância (ao ponto de, aparente e paradoxalmente, não saberem o que hão-de fazer mais...). Quando ela for substituída (naturalmente por uma arquitectada abdicação), também os seus erros virão ao de cima e, mais uma vez, a razão estava ao lado do...coração.

sábado, abril 05, 2008

novo projecto inovador na educação

Segundo a Lusa, o governo prepara um (novo) projecto inovador na educação, o qual passa pela criação de escolas-piloto de excelência no combate ao insucesso escolar. Para isso, existem já os jargões habituais dos especialistas. Cito, aqui, alguns:
"projecto inovador", "combate ao insucesso escolar", "Escolas de Excelências", "melhorar as condições de ensino e aprendizagem", "participação qualificada de pais, autarquias e de instituições da sociedade civil na vida da escola", "diversificação das estratégias pedagógicas", "melhorar a qualidade do ensino e conseguir melhores resultados no que respeita aos indicadores de sucesso".
Vou reler a notícia!

ministra já conhecia os dados sobre a violência

Se a ministra já conhecia os dados sobre a violência escolar que Pinto Monteiro, Procurador-geral da República (PGR), relatou há dias, os quais referem que existem alunos que levam para as escolas armas de calibre de guerra e diversos tipos de facas, por que razão, ainda há bem pouco tempo, sublinhou que, a respeito deste mesmo assunto, o "PGR fez eco da sua preocupação, mas não há motivos para isso porque a violência escolar é uma situação rara e não está impune. O que existem é situações de indisciplina e incivilidade", adiantando que não queria que fossem criminalizados "actos que têm características específicas porque acontecem no meio escolar".
Ora, as expressões de Lurdes Rodrigues são bem típicas de quem não faz parte de uma solução para todo o imbróglio em que a educação se encontra, neste momento, inserida. Na verdade, quando um responsável por uma política, seja de que ministério for, passa a ter, como principal preocupação, a disseminação das críticas a problemas (emergentes ou não) concretos, não se lhe augura, portanto, um grande futuro.
Aliás, é curioso verificarmos o discurso desta equipa ministerial e não vemos outra coisa senão discursos ocos, vazios, inertes. O exemplo da réplica que o extraordinário Valter Lemos, à margem do 9.º Fórum da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Corporativo, que ontem se realizou no Porto, esboçou (a respeito das observações que têm vindo a ser feitas à escola), serve de paradigma ao que se encontra por detrás da filosofia comunicacional e apaziguadora do ministério da educação: "está-se a fazer uma campanha totalmente imerecida porque, para a maior parte dos portugueses, não existe alternativa ao ensino público". Depois, como os jornalistas lhe pediram para ser mais preciso, responde, ao melhor estilo de Octávio Machado: "eu vejo as vossas notícias, vocês é que saberão".

sexta-feira, abril 04, 2008

acordo ortográfico

Um estudo divulgado pela APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros), a uma equipa de linguistas, revela que o acordo ortográfico é inútil. O documento projecta, assim, que pouco ou nada vai mudar, visto que as duas variantes continuarão a "manutenção das diferenças frásicas e vocabulares", sem, contudo, particularizarem essas mesmas diferenças.
Mas a grande preocupação revelada pela APEL tem a ver muito mais com as vendas e com a intrusão das editoras brasileiras no nosso país e nos palop's, do que com sensibilidades linguísticas. Daí afirmarem que Portugal sairá muito mais prejudicado que o Brasil, pois as "as instituições internacionais, a partir do momento em que Portugal ceder às intenções do Brasil, não hesitarão em ter como referência o Português daquele país" e que o objectivo de globalizar a Língua Portuguesa será defraudado".
É evidente que a preferência pelo português do Brasil será sempre muito maior, nas instâncias internacionais, do que a variante do português europeu. Mas é precisamente este argumento que patrocina uma das razões fundamentais da urgência dum acordo ortográfico que unifique a vertente ortográfica da língua portuguesa, respeitando sempre, evidentemente, as diversas diversidades regionais, no que à oralidade diz respeito (entende-se muito mais facilmente um brasileiro do Rio de Janeiro do que, por exemplo, um açoriano do concelho da Povoação).
O acordo ortográfico é, pois, relevante e urgente, mesmo que isso implique, nas editoras, uma profunda reformulação (e investimento) nas suas estruturas.

quinta-feira, abril 03, 2008

o grande mal de Portugal


Atentemos nestas extraordinárias frases do nosso primeiro-ministro:

  • "É da maior importância esta decisão que hoje foi tomada. O país tem que fazer um investimento sério na modernização das suas infra-estruturas";

  • "Uma vez que já temos deliberada a localização da nova travessia do Tejo, estão assim definidas as duas principais infra-estruturas que vamos construir nos próximos anos: o aeroporto e a nova ponte".

Quem aplaude?... Eu não. Sublinho a prepotência provinciana, a visão desgastada de uma opção ultra-centralizadora. Penso na ideia de país desta gente, na verdadeira modernização das infra-estruturas, nos "investimentos sérios" e o que realmente vislumbro é um país cada vez mais desigual e centralizado, em que a desertificação do interior, iniciada há décadas, se torna hoje num verdadeiro paradigma de modernização. Os exemplos são muitos e variados e vão desde o encerramento de serviços de saúde (maternidades, urgências), de escolas, de GNR, de agricultura, de finanças, de tribunais, até às próprias linhas de caminho de ferro, por onde os comboios outrora passavam. Mas tudo isto tem sempre alicerçado o padrão (justificação) semântico duma maior proximidade e melhor qualidade de vida e de atendimento. Tudo em nome dos cidadãos, claro.

pinto monteiro e a violência nas escolas

O Procurador-geral da República referiu, hoje, que o incidente na escola Carolina Michaëlis, do Porto, "é insignificante quando comparado com outras situações bem mais graves". E as situações "bem mais graves" que Pinto Monteiro lembrava são, nada mais, nada menos, que "alunos com pistolas de 635 e 9 mm" acrescentando, em tom já descomprimido, que nem falava "de facas, que essas são às centenas".
Ora, o que se estranha, no meio de tudo isto, é que Pinto Monteiro não tenha uma atitude de coerência com o que tem vindo a advogar, isto é, a obrigação social de todos os cidadãos (incluindo escolas, professores e funcionários, obviamente) de denunciar os actos agressivos dos alunos. Que eu saiba, uma pistola de 9 mm nas mãos de um garoto de 12 ou 13 anos é muito mais perigosa de que a maioria das agressões que se passam nas escolas.

jorge coelho e a política

Afinal, também Jorge Coelho vai tratar da vidinha!
É difícil não se gostar do ex-dirigente do PS. Incendiário mas também bombeiro (apesar de ser mais conhecido por este último epíteto), Coelho apareceu com uma expressão de maior visibilidade no PS de António Guterres. Este, com a sua inclinação para frases tonitruantes ("picareta falante", disse dele Vasco Pulido Valente), chegou mesmo a afirmar que o antigo ministro da Administração Interna era "imprescindível". Daí ter chegado a número dois do partido, com uma suposta arte de engendrar tácticas e estratégias orientadoras do PS (pelo menos é com esta áurea com que os jornalistas, na sua globalidade, o interpretam). Por isso, um deputado desta maioria chega mesmo ao ponto de declarar, segundo a edição do DN de hoje, que "Jorge Coelho é um senador" (quem será o deputado?!...).
Todavia, este "senador" foi tratar da vidinha, afirmando que não é rico e precisar de "ganhar a vida". Nada, aliás, que outros "senadores" (agora estou a sorrir, ao contrário do deputado do PS que teria dito o mesmo sem se rir...) não tivessem já feito. Quatro exemplos que o DN de hoje invoca: Pina Moura, Ferreira do Amaral, Armando Vara, Fernando Nogueira. Há outros, muitos outros. Só que ainda não chegaram a senadores...

quarta-feira, abril 02, 2008

ver para crer!

Uma auxiliar de acção educativa queixou-se aos pais dos alunos que o professor da escola básica de Lagos, em Vila Nova de Gaia, maltratava os alunos. Consistia o procedimento do docente em colocar, na boca dos alunos - todos com necessidades educativas especiais e epilépticos -, pedaços de papel, com o fim último de os calar. Como consequência (natural), os pais apresentaram, em Março, uma queixa-crime. O professor, encontra-se, assim, afastado da escola, apesar da decisão definitiva do tribunal ainda não ser conhecida.
Uma outra queixa do mesmo teor, manifestada pelos pais de três crianças, agora na escola básica do Salgueiral, em Guimarães, foi também apresentada no tribunal, acusando a professora de maus tratos, ao proceder ao fechamento da boca dos alunos através duma fita adesiva, impedindo, portanto, os discentes de falarem ou mesmo bocejarem.
Posto isto, é caso para dizer a falta que um telemóvel faz nestas ocasiões.

terça-feira, abril 01, 2008

o silêncio e a quietude na sala de aulas

Vi ontem o Prós e Contras e retenho uma das ideias que tiveram o alto patrocínio de todos os intervenientes. Alguém disse que, hoje, já não há motivo para aquelas aulas em que os alunos estão em silêncio e quietos no seu lugar.
Eu entendo a lógica deste raciocínio. Os jovens, actualmente, absorvem o mundo mediático que diariamente gravita nas suas imberbes cabecinhas e, consequentemente, essa atmosfera não se coaduna com uma lógica de esforço, tendo em consideração que estar em silêncio e quieto no seu lugar, exige um quinhão de empenho considerável. Por outro lado, a ideia do aluno contrária a uma proactividade interventiva, irrequieta, é considerada, aprioristicamente, altamente negativa para aquilo que a chamada pedagogia nova (que estava bem representada no programa por aquele professor do primeiro ciclo que agora não recordo o nome), tem vindo, de há uns anos a esta parte, a professar com efectiva receptividade. Daí a proliferação, nos currículos escolares, das disciplinas (que já fiz aqui e aqui referência) inseridas nas chamadas áreas curriculares não disciplinares (só o nome disto, revela um posicionamento ideológico-pedagógico da coisa), pois são disciplinas (apesar de se denominarem "não disciplinares") que habituam o aluno a um posicionamento altamente interventivo, altamente "motivador", altamente proactivo, transformando uma turma num conjunto de jovens hiperactivos (nesta contextualização, o 2º ciclo é um verdadeiro paradigma...).
Ora, as disciplinas não são todas iguais. Se eventualmente as há muito parecidas a estas não-disciplinas, outras existem em que a concentração, o esforço, a quietude, o silêncio são imprescindíveis a uma recepção apropriada da mensagem, em que o professor continua ainda a ser o seu (inter)locutor privilegiado.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...