segunda-feira, julho 20, 2009

o medo de antónio costa

Por muito que se critique Santana Lopes, não deixa de ter razão quando afirma que a recente coligação promovida por António Costa revela, antes de tudo, medo. Por outro lado, não compreendo por que razão é que, numa coligação autárquica, o candidato a presidente tem de ser sempre o do maior partido. De facto, seria uma extraordinária lição cívica e democrática se alguma vez o PSD ou o PS coligados com outros partidos de menor expressão eleitoral preterissem o lugar cimeiro. Já aconteceu uma vez, com Nuno Abecassis.

sexta-feira, julho 10, 2009

novas oportunidades

Lembram-se como foi lançado o programa Novas Oportunidades? Com alguns famosos – Carlos Queirós, Judite de Sousa, etc. – a fazerem de conta que eram caixa de supermercado ou o homem que limpa o que os outros sujaram depois de um jogo de futebol? Em todas estas personagens um traço comum: a tristeza do olhar, a revolta interior de alguém que não está bem consigo próprio, como se alguém que tenha um emprego destes esteja condenado a uma obscuridade interior inultrapassável. Mais uma vez, o marketing publicitário sobrepôs-se ao que deveria constituir o fundamento do programa, o qual, resumidamente, podemos afirmar que não é mais do que uma valorização das aprendizagens ao longo da vida. A técnica publicitária é, pois, a mesma do famoso Allgarve. Só que aqui é ao contrário (parte-se de uma situação de declarada inferioridade social, em que, por exemplo, o Allgarve só poderá ser sonhado). Não constitui, por isso, estranheza que o primeiro relatório de avaliação externa ao programa revele que há um alheamento por parte das pequenas e médias empresas aos novos diplomados do programa. Do mesmo modo, também não resulta em admiração as palavras da ministra, a qual não pode dizer muito mais do que isto: “é preciso tempo”.
Foi, portanto, a pior maneira de iniciar um programa louvável como as Novas Oportunidades. De um momento para o outro, os que se matriculavam faziam-no não pelas melhores razões, mas, antes, para o empregozito atrás duma secretária, que é sempre melhor do que andar com qualquer outro instrumento mais pesado na mão. “Sem o 9º ano não se faz nada, não podemos sequer concorrer para um emprego de escriturária(o)”, era o que mais se ouvia da boca dos formandos. Ninguém do ministério do extraordinário Pinho (que em boa hora circundou a sua cabeça com corninhos) e de Maria de Lurdes Rodrigues (um erro gravíssimo de casting) se lembrou que o programa Novas Oportunidades se destinava, principalmente, àqueles que são movidos pela curiosidade de aprender, precisamente aquela que desde sempre fez mover o mundo. Não importa que sejam jardineiros ou telefonistas ou empregadas de supermercado ou ainda bancários. Importa antes que são pessoas que querem aprender, utilizando um contexto muito preciso, o qual não anda muito longe do duplo sentido do sapere latino, isto é, saber e saborear. O resto é conversa de político. Mas daquele político que não tem na cabeça senão folclore.

quinta-feira, julho 09, 2009

o que é a União Europeia?

É com estas cimeiras G8 ou outros G's afins que me costumo interrogar sobre o que é realmente a União Europeia. Olho para a televisão e vejo um presidente da Comissão Europeia tristemente relegado para um extremo do grupo, mas que ainda tem uma aptidão de fundo que lhe permite esboçar um sorriso vaidoso sempre que um operador de câmara lhe direcciona o sinalzinho vermelho.
Olhando para estes encontros, haverá alguém que possa responder, com honestidade, à pergunta que titula este post?

quarta-feira, julho 08, 2009

manifestação dos estivadores

Uns senhores manifestaram-se hoje junto à Assembleia da República. São estivadores e temem pelos seus postos de trabalho. Não sei se são ou não apoiados pelos sindicatos. Se o são, também estes ficam muito mal na fotografia. É que quem assim protesta não tem razão. Se acaso a teve, já não a tem.

segunda-feira, julho 06, 2009

concurso de professores e a mentira

O que o secretário de estado da educação, o extraordinário Walter Lemos, afirmou hoje aos órgãos de comunicação social a respeito dos 30 mil professores que alegadamente foram colocados tem um nome: indecência. Na verdade, basta um olhar para as listas e facilmente se verifica que os professores que conseguiram um lugar em quadro de agrupamento (o novo quadro criado pelo ministério) não ultrapassam as cinco centenas. Daí que não perceba muito bem o destaque dado pelas televisões a esta mentira do secretário de estado.

o fenómeno ronaldo

Já houve outro fenómeno chamado Ronaldo, mas este nunca adquiriu uma projecção comunicacional tão afincada quanto o Ronaldo português. Este é, obviamente, um produto do marketing, o mesmo marketing que elaborou, por exemplo, o casal Beckam. Tive, no entanto, esperança que um dos telejornais portugueses não abrisse a edição com a notícia Ronaldo. Afinal, hoje dois polícias foram traiçoeiramente alvejados num bairro da Amadora, estando um deles entre a vida e a morte. Do mesmo modo, o Presidente da República vetou uma importante alteração à lei do Segredo de Estado, aprovada pelos dois principais partidos portugueses, na qual o chefe de Estado critica, primordialmente, a possibilidade da nova comissão parlamentar "poder determinar a desclassificação de quaisquer informações ou documentos sujeitos ao segredo de Estado". Era, pois, uma oportunidade magnífica de Portugal se afirmar pela ideia, pela razão, ao não abrir telejornais com a apresentação dum jogador de futebol, mesmo que esse seja português. Isso sim seria uma notícia que elevava o país. Mas esta minha utópica pretensão começou-se a desconstruir quando ouvi o extraordinário embaixador de Portugal em Espanha, realçando o seu orgulho e, também orgulhosamente, debitar uma quantidade enormíssima de imbecilidades, em que a última foi o de relevar que estaria, sim senhor, no Estádio Santiago de Barnabéu como - note-se - embaixador de Portugal. Penso que não é para isso que lhe pagamos e o Presidente da República teria aqui uma útil e pedagógica palavra a dizer.
O que na realidade me choca é a capacidade do ser humano para este tipo de coisas. A paixão é, de facto, impetuosa. Aquelas centenas de milhares de pessoas que esperaram horas a fio e que encheram as bancadas do estádio do Real Madrid são movidas pelo mesmo sentido de irracionalidade (ou, se quisermos, de fé) com que outras, em amplitudes diferentes, rastejam durante horas no chão frio e esmaltado do Santuário de Fátima. Pouco ou nada as distinguem, embora seja mais representada, na manifestação religiosa, uma componente introspectiva naturalmente maior e, portanto, mais profunda.
No caso de Cristiano Ronaldo, ninguém é capaz de parar para pensar numa coisa tão simples quanto isto: por que razão não somos nós, selecção de futebol, capaz de ganhar à Albânia e a outros países que não são duma primeira linha do futebol mundial? Ou estarmos com sérias hipóteses de não sermos apurados para o mundial de futebol? Onde cabe, nestas duas perguntas, o fenómeno Ronaldo? Ainda por cima não se pode dizer, com acontecia com Maradona, que a equipa é de segunda. Na verdade, Portugal tem, na selecção, jogadores que jogam nas principais equipas da Europa. Um jogador como o que foi hoje sumptuosamente apresentado no Santiago Bernabéu deveria ter qualidades suficientes para levar a selecção não só a ganhar a Malta, como também o campeonato do mundo de futebol. Mas eu presumo que sei por que razão isso não acontece. E volto, pois, ao princípio. Cristiano Ronaldo é o produto de um inteligente marketing desportivo, um boneco que se vende muito bem. E foi o boneco que o presidente do Real Madrid comprou, o jogador vem depois.

(publicado no jornal Público, em 10/07/09)

domingo, julho 05, 2009

apresentação de cristiano ronaldo

Amanhã, vamos ter directos na apresentação de Cristiano Ronaldo, suponho que em todas as televisões (mas já com a confirmação orgulhosa da RTP1), no Real Madrid. Quando é que, definitivamente, vamos colocar de lado a boçalidade, a estupidez, a imbecilidade que teima em grassar cada vez com mais fulgor nas nossa comunicação social?

candidaturas duplas

Ana Gomes, protagonista de uma dupla candidatura para as europeias e as autárquicas, vem agora dizer que acha que é uma decisão razoável, por parte do PS, a proibição de tal duplicidade. Acrescenta, no entanto, que a única razão que a leva a tomar esta atitude se deve à "especulação perfeitamente demagógica" que foi feita a propósito da sua candidatura e da candidatura de Elisa Ferreira, a qual perdeu, com a anuência de concorrer a deputada ao Parlamento Europeu, uma belíssima oportunidade de alcançar a vitória na câmara do Porto. Não se compreende, pois, que a deputada sobreponha, uma vez mais, a estratégia em vez das convicções. Por exemplo, Leonor Coutinho que, tal como Ana Gomes, protagoniza este tipo de aberração política, afirmou desde logo que não acredita que a decisão de proibir as duplas candidaturas melhore a democracia. Pelos vistos, Ana Gomes também não acredita, mas compreende. Compreende o quê, afinal?

sábado, julho 04, 2009

o que pode fazer um ex-ministro

Alcançou-se irresponsavelmente a convicção de que, em Portugal, melhor do que ser ministro é tornar-se um ex-ministro. No caso de Manuel Pinho, este matiz veio, mais uma vez, clarificadoramente, ao de cima. O comendador Berardo, glória do coleccionismo português, apelou, através das televisões, para que Manuel Pinho aceitasse o cargo de administrador da sua fundação. É um grande conhecedor de arte, afiançou Berardo. Pois... se o diz, é porque o deve, realmente, ser. No entanto, esqueceu-se de afirmar o seguinte: para além disso, é um ex-ministro. Nada de novo, tendo em conta a promiscuidade que existe há muito entre o Estado e outros empregos (são de empregos que se trata, mesmo que, eufemisticamente, esta palavra nunca seja abertamente exposta). Os nomes abundam e são transversais aos partidos do arco governativo: Joaquim Ferreira do Amaral, Dias Loureiro, Armando Vara, Fernando Gomes, Mexia, e muitos, muitos outros que até se dão ao luxo de acumular o lugar de deputado da nação com cargos nos sectores público e privado. Vitalino Canas, por exemplo, digno porta-voz do PS, entretanto despedido dessas funções, acumulava, carismaticamente, esse cargo com o de provedor das empresas de trabalho temporário. Foi até apelidado, por um jornal, de "rei na actividade de consultoria", pois eram (ou continuam a ser) cinco o número de consultadorias que aglomerava (ou aglomera). A tão convenientemente apregoada ética republicana merecia mais do que este tipo de conduta sôfrega por parte desta classe política. Na verdade, fazendo deste tipo de conduta o estado normal da nação, tudo se vira de pernas para o ar, tendo em conta que a política, no seu postulado mais merecedor, deve personificar o mais exemplar desapego pessoal a determinados tipos de cargos. Dito de outro modo, os políticos devem orgulhosamente servir o país e não servirem-se deste para proveito próprio. Por isso é que nunca entendi, por exemplo, a fuga de Durão Barroso para Bruxelas, ou até mesmo a troca de António Costa de Ministro da Administração Interna para candidato (e certíssimo ganhador de eleições) a Presidente da Câmara de Lisboa.
Um outro ponto que gostaria de alinhavar a respeito da demissão de Manuel Pinho, tem a ver com a rapidez com que José Sócrates decretou a sua substituição (e também, valha a verdade, a sua demissão). Uma vez mais, estão, a meu ver, equivocados a maioria dos comentadores encartados das televisões e jornais. Faz-me lembrar o que li um dia da pena de António Barreto a respeito duma qualquer maratona de ministros que entrou até altas horas da madrugada. Dizia então o sociólogo que não quer ministros que decidam assim, cansados e com sono. Seria, pois, preferível que se deitassem cedo e, depois de uma noite repousante, retomassem, porventura com ideias clarificadas, a reunião. De facto, com esta decisão relâmpago do primeiro-ministro, passa-se mais ou menos o mesmo. Para quê a pressa? Acaso demonstrou alguma capacidade de resolução (sei que muitos se apressaram a enaltecer o regresso do velho Sócrates, aquele que não tem medo, o que, porventura, até seria essa a ideia que o próprio desejava)? Pelo contrário, José Sócrates provou que é um líder em contra-ciclo e que só uma espécie de milagre o poderá levar, de novo, a uma vitória nas duas eleições que se aproximam. Na realidade, Sócrates revelaria maior sapiência se adiasse a decisão da demissão do ministro – e, principalmente, a sua substituição –, para depois de uma reunião com os seus conselheiros. É para isso que eles servem, não é?

sexta-feira, julho 03, 2009

portugal pequenino

Mais do que qualquer outra coisa, o que verdadeiramente revela, principalmente a insípida televisão pública, sobre a cobertura das eleições do Benfica, é o país que somos e o país que esta gente quer continuar a semear. O Benfica é apenas um clube desportivo. Não se pode, em nome do interesse de algumas pessoas, mesmo que sejam milhares, cultivar a boçalidade. E o que a RTP anda para aí a fazer, com variadíssimos programas e com esta cobertura noticiosa em particular, não é mais do que um convite ao desenvolvimento da triste degeneração da nação.

quinta-feira, julho 02, 2009

deixem o mercado funcionar livremente

Liguei a televisão e estava Judite de Sousa a entrevistar alguém que não conheço, mas que penso ser o representante do Banco Santander aqui neste jardim à beira mar plantado, se não mesmo da Península Ibérica. Ouvi a entrevistadora chamá-lo dr. Horta Osório. E ouvi também o seguinte, a respeito da transferência milionária de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid, na qual o Banco Santander teve influência financeira: "deixem o mercado funcionar livremente..." Ora, sabemos que esta operação teve o mérito de originar um debate alargado na Europa (mas não o suficiente), não só sobre a oportunidade do negócio tendo em conta a crise em que vivemos, mas também sobre a eterna interrogação se é realmente este o mundo em que queremos viver. Neste sentido, responder como esse senhor do Santander respondeu, salientando ainda que Tiger Woods e outros ganham muito mais do que o Cristiano Ronaldo é representativo que para esta gente "crise" é uma palavra que entra por um ouvido e sai pelo outro. Bem rapidinho.

manuel pinho na história parlamentar

Afinal, Manuel Pinho sempre acabou por servir alguma coisa na sua passagem pelo governo (ele diz que ainda tem condições para continuar a ser ministro!...). Sem ele, não teríamos o número que hoje nos ofereceu. Pela minha parte, agradeço.

quarta-feira, julho 01, 2009

camisola de sangue

Ouvi no rádio do carro o discurso do sr. Bettencourt aquando da apresentação do jogador Matias Fernandez. O sr. Bettencourt é presidente recém-eleito do Sporting. Parece que é uma grande figura lá para esses lados. Mas confesso que fiquei estupefacto com tamanha alarvidade discursiva. Ele pediu ao jogador chileno uma "camisola suada quase de sangue", pois custou muito dinheiro ao clube. Depois embalou por aí fora com outras tiradas tonitruantes (deve pensar que lá por o jogador ser chileno deve cantar o hino com os dentes e punhos arreganhados de sangue). Mas eu cheguei ao meu destino e desliguei admiravelmente o rádio do carro. É isso a visão do futebol desta gente? Suar a camisola quase de sangue? Que mensagem ele quererá transmitir? Os adeptos gostarão deste tipo de entontecimentos? Se calhar gostam, não sei.

a culpa é do outro

É um filme que estamos habituados a ver em democracia. Este governo tem sido useiro nessa triste estratégia. Refiro-me, evidentemente, à mania que os partidos têm de culpabilizar o outro. O outro é sempre o anterior. No caso da venda da rede fixa à PT, Manuela Ferreira Leite não resistiu e afirmou que foi Guterres o culpado. O anterior, portanto. O PS refuta naturalmente esta teoria. E andamos nisto desde sempre, o que é uma boa maneira de fazer com que o país não vá para a frente. Por outro lado, esta teoria da conspiração (os partidos políticos portugueses são, de facto, especializados neste tipo de orientações conspirativas. Por vezes, penso que é a razão principal das suas existências) pode servir de exemplo de como um governo minoritário poderá ser benéfico para o país. É que desse modo as culpas seriam sempre repartidas.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...