domingo, outubro 28, 2012

ministério da segurança social

O próprio nome elucida-nos. Segurança Social quer dizer mesmo isso: contribuir para melhorar a vida das pessoas que estão temporária e/ou definitivamente mais desfavorecidas (no fundo, será sempre temporariamente, visto que ninguém viverá duas vezes - um aspeto que se tem vindo a esquecer neste cenário de resolução da crise). Aponta-se o dedo acusador para a forte despesa deste ministério. Há, pois, que reduzi-la. Ser desempregado nunca foi um estado de alma apaziguador. Agora, porém, acrescenta-se-lhe um dogma culpabilizador.

refundação

Refundação do memorando! Eis a frase mais histriónica saída das não menos burlescas jornadas parlamentares conjuntas do CDS-PP e PSD. Na verdade, nota-se, por parte desta desolada maioria, um crescendo desacreditar das opções tomadas no âmbito do Orçamento de Estado para o próximo ano. De repente, surge um plano B. De repente, Paulo Portas agarra-se desesperadamente ao mote dado por Christine Lagarde de que só a austeridade não chega. De repente, o inacreditável Ministro da Segurança Social desiste da redução dos subsídios sociais. De repente, Gaspar inventa uma comparação maratonista para se desculpabilizar do insucesso do seu miserável desenho financeiro...
A refundação mal pensada pelo PSD só vem entregar ao Presidente da República mais um argumento para a urgente demissão deste Governo. Falharam! Está à vista! Faça-se, pois, a refundação. Governativa e partidária.

quarta-feira, outubro 24, 2012

ao contrário

É já tempo de dizer basta. A desolada escalada deste Governo contra os mais desfavorecidos abarca um claro preconceito ideológico: os desempregados, os que recebem prestações sociais do Estado, são uns mandriões. Daí que se torne incontornável um corte nas prestações mínimas do subsídio de desemprego e do rendimento mínimo garantido. Aquele ficará assim abaixo do limiar da pobreza, nos 377 euros mensais.
Depois, há esta coisa de lançar para a praça pública estas propostas e, quase no imediato, mostrar humildade democrática, afirmando que existe uma disponibilidade total para negociar e até recuar, como já o declarou Mota Soares.
É, pois, já tempo de dizer basta. Nunca vi um governo tão incompetente como este. Sinceramente, nem o de Santana Lopes. O país não pode continuar com este triunvirato, constituído pelos senhores Gaspar, Passos e Borges. O que vier será certamente melhor. Até porque pior é impossível. Parem, por isso, de anunciar que não há alternativa. Até porque Cavaco Silva pode acreditar.

ps. Estou em crer que é precisamente nestas alturas que se deve impulsionar a economia dos mais fracos. O aumento do ordenado mínimo, por exemplo, estaria, pois, neste enquadrado neste devir económico-social.

sábado, outubro 20, 2012

isto começa a cansar

António Seguro, hoje em Felgueiras: "[o país] não está condenado ao caminho da austeridade há um caminho diferente (...) o PS tem uma ideia para Portugal (...) [os socialistas] continuarão a assumir as suas responsabilidades (...) nós estamos a matar a economia, a sufocar as pessoas, a atirar os portugueses para a pobreza (...) a margem é curta, mas há outro caminho".
Perante este trágico cenário, o que faz o líder do PS? Pede a todos os santos para que o Governo se entenda e que aguente até ao fim da legislatura.

sexta-feira, outubro 19, 2012

o eterno conflito democrata-cristão

Vi há pouco Paulo Portas na televisão, após uma prolongada reunião da sua Comissão Política (ao que parece, a moda agora é avaliar as reuniões não ao metro mas às horas). E o que ele veio dizer, ligeira e propositadamente desgastado, foi que o país não aguentava agora uma crise política e blá, blá, blá e mais blá, blá, blá. Falou também na conjuntura externa, relacionando-a com o país, o qual tem de estar preparado para uma eventual alteração dessa mesma conjuntura. Mas a questão fundamental ficou por resolver: revê-se o CDS nesta coligação? A resposta é clara e negativa, embora omissa.
O CDS-PP de Paulo Portas corre um sério risco de quase extinção parlamentar. Na atual situação que o país atravessa e que há de ainda vir, a pior decisão que este partido pode tomar é a de aniquilar por completo o seu ADN político. Coligado a um partido verdadeiramente popular, esponjoso no país rural, com algumas franjas também urbanas, consoante o desgaste do PS, a diferença de Paulo Portas deveria ser a de uma assunção plena das divergências, de um evidente projeto nacional. Daí que a decorrente saída deste executivo, com o sem acordo parlamentar não se afiguraria trágico para o país. Com eleições antecipadas ou sem elas, haveria soluções. Até porque este CDS-PP encontra-se, neste momento, mais próximo do PS do que do PSD. Ironias do destino.

quinta-feira, outubro 18, 2012

presunçosos académicos

Há, neste Governo, uma espécie de autoclassificada elite, vinda dos meios académicos. Os sinais são sistemáticos e vão desde, por exemplo, do incontornável Borges e aquele tosco episódio da reprovação dos empresários no primeiro ano da "seu" curso na universidade, passando pelo Gaspar, com as décadas passadas a estudar proporcionadas galhardamente pelo Estado (estando ele, agora, na condição de cidadão exemplar e abnegado) e o tom de voz que será ligeiramente diferente se o jornalista continuar a teimar com a mesma pergunta, acabando, naturalmente, nos encómios que estes dois senhores se dirigem de forma descaradamente espelhar.
O pior disto tudo é que esta imagem de competentíssimas criaturas vendeu muito bem ao princípio, não só entre a própria classe política (o mito do tecnocrata brilhante que salvará o mundo, relevando aquele aforismo de que a política é demasiado importante para ser deixada aos políticos...), como também para os jornalistas. A este propósito, houve até quem enaltecesse o tom de voz utilizado pelo Sr. Gaspar, dissonante no meio, como se o estafado tom de voz do ministro resultasse de alguma espécie de poção mágica, academicamente elaborada.
A elite é assim mesmo, principalmente quando de elite não tem nada. O que os senhores Borges e Gaspar encontraram neste país foi simplesmente um balão de ensaio para uma qualquer experiência económica, em nome próprio. O memorando é simplesmente um pretexto, como, aliás, se tem vindo a verificar, quando os próprios já o contornaram por variadíssimas vezes. E não me venham dizer que tudo é o resultado de conjunturas económicas inesperadas. Quem, desde o início, se assumiu pró-memorando, jurando ir mais além do dito, foram estes senhores, acompanhados por um perdido Passos Coelho, que dá sempre muito jeito.

o voto favorável

Isto é mais ou menos como no futebol: remete-se o despedimento do treinador para uma pré-declaração de confiança. Esta insólita coligação navega nestas águas: torna-se necessária a pré-declaração de apoio ao Orçamento de Estado.

domingo, outubro 14, 2012

(mais) uma oportunidade perdida

Sabemos que um dos maiores males de Portugal enquanto nação é a profunda desigualdade geral entre os cidadãos. Este extraordinário Governo tem o despudor de esclarecer e acentuar a luta a este combate quando, às pinguinhas, vai ora acrescentando, ora retirando tímidas e pouco esclarecedoras propostas orçamentais para o próximo ano. Uma delas tem a ver com a redução dos escalões do IRS.
Eu até podia aceitar que 40 mil euros anuais é já um muito bom ordenado, tendo em conta, obviamente, que existem, em Portugal, 3 milhões de famílias que auferem entre 4 mil e 19 mil euros por ano (entre os 20 mil e os 50 mil euros serão, segundo a PORDATA, 1,3 milhões de famílias). Por estes números, facilmente se depreende que, no próximo ano, a economia entrará numa nova espiral recessiva, pois esta enorme classe média - baixa, menos baixa e alta - não terá apêndice financeiro para comprar o que quer que seja. Por conseguinte, encerrarão mais micro e pequenas e médias empresas, com um forte incremento do desemprego.
A minha questão é, porém, outra. Se tudo isto é feito em nome de uma maior equidade (do combate à desigualdade social, portanto), segundo o sr. Vítor Gaspar, por que razão não se aumentou o salário mínimo? É que assim continuamos todos a perder. Ou melhor, os que estavam já desesperançados, nesse fundo da pirâmide social, continuarão aí, desoladamente, estacionados; os outros, os que ainda conseguiam vislumbrar alguma coisa, serão esmiuçadamente empurrados para este completo descalabro social.
A conclusão que eu tiro de tudo isto é que esta gente, completamente inócua de sentido social, usa expressões como combate à desigualdade social de forma inacreditavelmente, assustadoramente, tenebrosamente cínica.
A única forma de combater a desigualdade social é subir os ordenados de quem não consegue já sobreviver.
A questão será sempre a mesma: conseguiria o senhor ministro viver com o ordenado mínimo? Se respondeu honesta e afirmativamente, então faça o favor de desculpar. Estamos no bom caminho.

sexta-feira, outubro 12, 2012

a impunidade?... acabou!

A desassombrada ministra da justiça continua na sua senda de justiceira. Hoje, na cerimónia de tomada de posse na Procuradora-Geral da República, voltou ao mesmo: a impunidade acabou! Fico contente por estas palavras. Fico, no entanto, menos animado saber que, até aqui, a impunidade grassava. E não sou eu que o digo: é alguém que anda nisto há muitos anos e que é ministra da justiça há ano e meio!

não havia necessidade

Não creio que deva haver uma obrigatoriedade de atribuição do prémio nobel todos os anos. Se é verdade que no que diz respeito à literatura, por exemplo, este balizamento temporal possa descomplexadamente existir, já o mesmo não se passa com o da paz. Há um ou dois anos, o distinguido foi Obama; este ano, foi a vez da União Europeia. É verdade que os pressupostos justificativos têm razão de existir. Porém, não é menos verdade que haveria (já os houve) decerto melhores dias para que tudo isto acontecesse.

o cardeal

José Policarpo referiu magnificamente hoje que não é com manifestações que se resolve a crise. Do mesmo modo, anotou que estas desvirtuam o preceito constitucional.
Gosto de ouvir estas vozes, sapientes nas suas análises. Fico enternecido com a preocupação de sua eminência reverendíssima com a nossa lei fundamental. Só não entendo a ensurdecedora ausência desta mesma análise constitucionalista quando o Governo se lembrou de eliminar os dois subsídios aos trabalhadores da função pública. Que eu saiba, em democracia, continua a ser o povo quem mais ordena. E o povo, normalmente, anda na rua.

não votem psd, segundo marques mendes

Ao que o PSD chegou!... Marques Mendes, nos Açores, apelou ao voto de Berta Cabral e não no PSD. Não liguem à cor política, defendeu o ex-líder. Porém, depois rematou com esta coisa extraordinária: imaginem o candidato do PS negociar, segunda-feira, com Vítor Gaspar. Em resposta, Berta Cabral, ameaçou que segunda-feira encostará o todo poderoso ministro das finanças à parede, exigindo a retoma dos princípios fiscais. Que confusão!...

domingo, outubro 07, 2012

o gaspar

Com muito atraso, não posso deixar aqui de anotar, na estranhíssima conferência de imprensa da equipa das finanças, no abusivo uso da palavra liberdade proferida, por duas ou três vezes, pelo sr. Gaspar, Ministro das Finanças da República. Dizia então o ministro que temos de prosseguir este caminho da liberdade (não sei ao certo as palavras, mas o sentido seguia, categoricamente, este rumo).
Eu não consegui entender o sentido de liberdade de Gaspar. Sei, simplesmente, que quanto maior as pessoas se sentem em exclusão social, mais esse direito se encontra num processo de coartação. Todavia, não estou claramente certo que exclusão social seja uma das preocupações de Gaspar e companhia.

o morde e foge

É certo que só os mais distraídos poderiam esperar alguma coisa de António José Seguro. Verdadeiro Passos Coelho do PS, lembro-me, há uns dez anos, ouvi-lo afirmar que estava já cansado da extenuante vida política. Estaria na altura Seguro a desempenhar cabalmente o fatigante trabalho de deputado europeu. Lembro-me também de ler, em resposta a esta imbecilidade, um adelgaçado artigo de opinião de Baptista-Bastos no, se não me engano, Diário de Notícias.
Todavia, Seguro é líder do PS, apesar de ter disputado as eleições internas com um militante que apontava caminhos diferenciados e que, a meu ver, era o que melhor respondia a este longo e difícil caminho. Por esta escolha, inteiramente da responsabilidade dos militantes do PS (que não souberam aferir, por exemplo, as qualidades do homem quando iniciou a sua campanha eleitoral no próprio velório do Governo de Sócrates, à porta do elevador do hotel onde se realizava a declaração de vencido do seu partido), se pode ver que também estes não se podem desresponsabilizar do estado a que isto chegou. É que pior do que uma nulidade a gerir os destinos do país, é haver outra nulidade como alternativa...
A orientação de António José Seguro, enquanto líder do maior partido da oposição, tem sido marcada, inelutável e resumidamente, através de uma marca de pura covardia política. Explicando melhor: Seguro não quer ser Governo neste momento; prefere, simplesmente, que o poder lhe caia nas mãos como, aliás, caiu a Passos e, antes dele, a outros. De preferência (condição essencial, presumo) depois desta coisa aborrecida chamada troika ter saído de vez do país e este andar outra vez, cantando e sorrindo, nas ondas do irregular mercado financeiro. Daí que fuja a sete pés das moções de censura apresentadas pelos partidos à sua esquerda (extrema-esquerda, dizem, o que me confunde porque fico sem saber o que é a esquerda neste momento em Portugal), quando passa a vida a apontar - e bem - o descalabro desta coligação. Arranja depois estes joguinhos de baixa política, quando se lembrou (por aqui podemos ver a disposição estratégica dos seus colaboradores, não ficando estes a dever nada aos de Passos Coelho, como se não tivessem todos sido tirados das mesmas sacolas das juventudes partidárias) de apresentar uma proposta de redução de deputados na Assembleia da República. Obviamente que, com esta extraordinária jogada, o que este não menos extraordinário think tank socialista pretende é criar desregulações na coligação. Não seria, pois, necessário. A coligação está já moribunda e não tem pernas para aguentar. O que estes joguinhos farão é criar uma espécie de intervalo (não aconselhável) daquilo que realmente interessa: nós. E nós somos o país.

sexta-feira, outubro 05, 2012

5 de outubro

Foi o último 5 de outubro em que se comemora sendo feriado. O primeiro-ministro faltou com um néscio pretexto de estar numa insignificante cimeira em Bratislava. António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, discursou bem, mas foi covarde quando não deu oportunidade ao povo de se manifestar. O 5 de outubro tem um paralelo com o 25 de abril. Ambas as revoluções são populares. O povo não merece este tipo de desfeitas. Do mesmo modo, revela-se repugnante a eliminação deste feriado. Grandes poupanças!...
O melhor do 5 de outubro de 2012 foi uma rapariga que cantou Fernando Lopes Graça, com letra de João José Cochofel. Mereceu os aplausos finais:




Firmeza

Sem frases de desânimo,
Nem complicações de alma,
Que o teu corpo agora fale,
Presente e seguro do que vale.
Pedra em que a vida se alicerça,
Argamassa e nervo,
Pega-lhe como um senhor
E nunca como um servo.

Não seja o travor das lágrimas
Capaz de embargar-te a voz;
Que a boca a sorrir não mate
Nos lábios o brado de combate.

Olha que a vida nos acena
Para além da luta.
Canta os sonhos com que esperas,
Que o espelho da vida nos escuta.

terça-feira, outubro 02, 2012

pc e bloco

Aparentemente, PCP e Bloco de Esquerda lançaram-se numa coordenação de esforços, ao anunciarem ambos uma apresentação de uma moção de censura ao Governo. Nada mais óbvio, este trilhamento das mesmas veredas do combate político. Penso até que tanto um como o outro, se quiserem contar para alguma coisa num pressuposto mais determinantemente operativo, terão de alinhavar estratégias pré ou pós eleitorais. Por isso não entendo a divergência após aparente convergência. É que tanto o Bloco como o PCP afirmaram já que terão de refletir primeiro sobre o caráter expositivo da moção de cada partido, para assim delinearam o seu sentido de voto. Podiam-nos poupar a estes números e simplesmente convergirem. São estes manobrismos políticos que deitam tudo a perder. Tipo Seguro.

segunda-feira, outubro 01, 2012

o absoluto paradoxo

Ficamos há poucas semanas a saber que, segundo Passos Coelho, 2013 será o ano da retoma, de viragem da crise económica e social. Do mesmo modo, fontes governativas asseveram que a taxa do desemprego para o próximo ano continuará nos 16%. E confesso que não entendo. Afinal, neste desequilibrado guião governativo, o que significará a palavra retoma? O afundamento das pessoas para níveis subcivilizacionais? Um acréscimo tímido nas exportações e o seu correspondente importativo? O que eu temo - e contrario aqui o título deste post - é que não haja nestes pressupostos qualquer sinal paradoxal. O que realmente interessa, para os gabinetes, são estas coisas, assim tristemente, numericamente escalonadas.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...