quinta-feira, setembro 30, 2010

o inconstante constâncio

Outro dos que se revelaram incapazes de ver para além do próprio umbigo ocupa agora o charmoso e interessante cargo de vice-governador do Banco Central Europeu. De Bruxelas, vai avisando que a situação orçamental portuguesa é "evidentemete séria". Anoto a anotação do advérbio. Para esta gente, tudo é evidente quando a tempestade acontece. Daí que continue no seu dialogismo surdo: a situação "exige medidas para que Portugal não fique sujeito a grande pressão dos mercados financeiros" e não comprometa "o crescimento para o futuro e consequentemente o futuro crescimento da economia".
Está bem, sr. Constâncio, está bem!...

o alegrete

Quando muitos, incluindo Manuela Ferreira Leite, andavam a pregar num deserto de ideias, os idealistas pingados ao serviço da nação apontavam os dedos acusadores a todos eles. O que é preciso, diziam, é energia positiva, sinergias várias, desdramatismos, não dizer mal, cuidado com o que sai para o exterior, etc. Pois agora a fatura do espiritualismo anti-fraturante assomou com olhos arregalados a uma janela que é tudo menos virtual. Não entendo somente uma coisa: como é possível o primeiro-ministro, após esta verificação dolorosa das suas contas públicas, não ter pedido ao presidente da República a demissão do Governo. E não me venham com a história da crise política. Esta faz parte da democracia, ao contrário da económica.

comentadores

Se existisse uma qualquer determinação legal em que, em nome do bom-senso, se proibisse a repetição de imagens futebolísticas em lances de eventual penalti ou que colocassem em causa os julgamentos dos árbitros, 95% dos comentadores desportivos iam para o olho-da-rua (por conseguinte, os extenuantes programas do género reduziriam claramente o tempo de antena, e as mesas redondas causadoras de férteis e interessantíssimos debates acabariam sem razão plausível de existência). Dedicar-se-iam, talvez, exclusivamente, ao comentário político.

sócrates, o corajoso moicano

Determinar agora uma aura de homem providente e corajoso a José Sócrates, em virtude das medidas de austeridade tomadas, revela-se notoriamente caricato e estúpido. O primeiro-ministro, entretido com nada durante meses, foi um dos últimos moicanos.

quarta-feira, setembro 29, 2010

cortes salariais

Um amigo, em conversa descontraída, dizia-me: "em Portugal, é considerado rico quem ganha 2000 euros por mês". Afirmava isto tendo em conta a previsão dos cortes salariais. Hoje o que se previa concretizou-se: ordenados acima dos 1500 euros sofrerão cortes salariais progressivos. Aparte de uma certa demagogia, quem aufere 1500 euros é realmente rico. É que se olha para baixo e o que se vê é muita gente a passar mal, muita gente com ordenados miseráveis.
Na verdade, em Portugal, como em outros países a caminho do desenvolvimento, é rico quem ganha 1500 euros por mês.

portugal no seu melhor

Haverá uma cimeira da Nato em Portugal, que é o mesmo que dizer em Lisboa e até o presidente dos Estados Unidos marcará presença. Obviamente que até novembro há que arranjar um carro antimotim porque a Polícia de Segurança Pública é a única da Europa que não possui tamanha preciosidade. A GNR tem, nas suas garagens, uma ou duas dezenas de veículos com caraterísticas similares. Não é a mesma coisa, afirmam, afoitos, os polícias. Os carros da GNR estão vocacionados para cenários de guerra, tipo Afeganistão, Bósnia e afins. Daí que cinco milhões a mais ou cinco milhões a menos no patriótico projeto dos carros antimotim é coisa de somenos. O que interessa é fazermos boa figura na cimeira de Lisboa.
Lembrei-me, a respeito destes disparates, das imagens que vi em direto aquando da visita do Papa ao Reino Unido. Um helicóptero pousou suavemente num campo de futebol (vislumbrei vários campos de treino, impecavelmente relvados, impecavelmente pedagógicos, impecavelmente didáticos e a diferença vê-se também nestas pequenas articulações...). Bento XVI seguiu de imediato para um carro que o transportou sobre uma curta estrada de terra batida. O meu pensamento seguiu quase automaticamente contornes maledicentes: se fosse em Portugal, aquela pequena estrada de terra batida, à saída destes verdejantes campos de treino, teria sido visceralmente asfaltada. Em nome do Papa, de Sócrates, e dum Portugal pequenino.

sábado, setembro 25, 2010

o diálogo e o tango

Passos e Sócrates parecem-se. O simples e aparentemente inócuo facto de se terem encontrado terça-feira, longe dos holofotes públicos, revela qualquer coisa da acreditação de uma imagem em contínuo crescendo de fabricação. Mais por parte de Passos, é certo. Acontece que Sócrates não é capaz de sair disso: mentiras e desmentiras. Aconteceu isso mesmo ontem quando o líder do PSD revelou que nunca mais reunirá com Sócrates sem testemunhas. Uma simples reunião e dois líderes de dois partidos alternativos (partidos que nos têm governado e que são, por isso mesmo, os principais responsáveis do atolamento em que isto se encontra) revelam uma curiosa simbiose política Dupond et Dupont. A pergunta que todos esboçam neste momento tem, portanto, uma resposta fácil: em nenhum dos dois!

(pergunta feita por não sei quantos milhões - seremos assim tantos? - de portugueses: em quem acreditar?)

quinta-feira, setembro 23, 2010

novo mundo

Neste novo velho mundo em que vivemos, Portugal tem já selecionador de futebol. Descansamos, pois, todos. Chama-se Paulo Bento e treinou, entre faixas etárias várias, a equipa senior do Sporting Clube de Portugal. Auferirá um ordenado mensal entre 60 a 70 mil euros. Parece que não é muito. Parece que o anterior treinador, tratado por todos por professor, ganhava muito mais (Paulo Bento reduz o vencimento para menos de um terço do que era açambarcado por Queiroz). Tudo parece por aqui. Mas existe em Portugal e também na União (desde que Barroso fez o discurso do estado da União me apraz apelidar assim a instituição) algo que não converge com o parece. São aqueles seres humanos que desenharam as suas vidas em projetos fixadamente académicos (a educação, a educação...) e que não conseguem arranjar emprego.
Não há emprego em Portugal! E há também demasiada gente com ordenados miseráveis. E não se veem no horizonte alternativas credíveis. Só jogatainas de bastidores, gatos e ratos obscuros que continuam a ter o seu umbigo como ponto de chegada. O pior é que nunca chegam a partir.

terça-feira, setembro 21, 2010

o país e cavaco

De repente, acordamos e o país afigura-se falido, à espera da mão protetora do Fundo Monetário Internacional. A dívida sobe, a receita decresce, os juros da dívida aumentam e a Europa reguladora olha para nós a caminho da Grécia moderna. Entretanto, Cavaco aflora sem rasgos de sagacidade o panorama, remetendo cada palavra audível para a meticulosidade duma campanha que se avizinha fácil de ganhar. Importa não perder a áurea sebastiânica do candidato. Cavaco ainda se encontra numa espécie de resguardo político. Há de acabar o segundo mandato e ficaremos ainda à espera do seu regresso.

erc

Um eminente conselheiro da Entidade Reguladora para a Comunicação Social demitiu-se, acusando o regulador de constituir um obstáculo à liberdade de imprensa. Na verdade, quando vejo na televisão pública, num determinado serviço noticioso, a primorosa informação de que Cristiano Ronaldo assinou mais um contrato publicitário com uma qualquer marca de roupa ou de perfumes, o que efetivamente se releva é que esta gente que regula a comunicação social só não é obstáculo a si próprio.

quinta-feira, setembro 16, 2010

isabel alçada e os assuntos de mercearia

Como é possível uma ministra da educação referir-se aos professores contratados do seguinte modo: "vamos ver se é possível abrir um concurso extraordinário". Esta senhora, com este tipo de discurso de dona de casa, não pode, não deve, aludir à vida dos professores como se estivesse a tratar qualquer assunto de mercearia. Os sindicatos, até agora, nada ripostaram.

federação portuguesa de futebol

Gilberto Madaíl foi a Madrid numa desesperada tentativa de contratação do treinador especial José Mourinho. Ao que parece, esta suplica tem a ver diretamente com a imperiosa necessidade de Portugal ganhar à Dinamarca e à Islândia. Esta gente, estes federativos, entretêm-se com estas coisas.

isabel alçada

Parece-me que a simpática ministra da educação anda por aí em busca de alguma reconfiguração idealista-normativa. Será sempre mais uma. Apareceu hoje um vídeo tristemente gravado para o you tube, no qual Isabel Alçada perspetiva toda a narrativa pedagógica inserta num apertado muro de um qualquer jardim de infância.

casa pia

Fiquei com mais dúvidas com a publicitação dos fundamentos do acórdão. O tribunal admite que aparecem pequenas (o adjetivo é primoroso) contradições nos depoimentos das vítimas. Todavia, justifica através duma tese duvidosa que apelidou de recuperação de memória (estarão, assim, as vítimas nesse processo dedutivo), que todo o depoimento processual dos queixosos não poderá ser encarado como uma reconstituição, mas como uma simples reconfiguração de uma realidade passada. Ora, se estamos perante uma reconfiguração, o pendor fatual tende a anular-se e sabemos que o tribunal alicerça-se, essencialmente, nesse pressuposto.
O exemplo da casa de Elvas pode ser considerado paradigmático. Diz o tribunal que as testemunhas abonatórias de Gertrudes Nunes, a dona da casa, apesar de afirmarem nunca terem visto os arguidos a entrar ou sair da casa da vizinha, os seus depoimentos não podem ser levados muito a sério, pois estas mesmas testemunhas revelaram desconhecer fatos da vida de Gertrudes como, por exemplo, a doença do marido ou o seu internamento, contrariando, assim, a alegada intimidade aventada pela arguida.
Tudo isto não é mais do que uma mera perspetiva de análise e o que verdadeiramente se releva é que vale muito pouco. Ou seja: esperava-se mais.

sexta-feira, setembro 10, 2010

o imperturbável judicativo

Sei que os juízes devem ser, por norma, inabaláveis na sua condição de julgadores, avessos a qualquer pressão mediática. De quaqluer modo, este sucessivo adiamento da entrega da fundamentação jurídica que levou à condenação dos arguidos do processo Casa Pia aparenta ser imobilidade mental em demasia. Queixam-se, os juízes, da inadequação do material...

terça-feira, setembro 07, 2010

estado da união

Durão Barroso, o fugitivo, fez o discurso do estado da União. Estado da quê?!...

o futuro da equipa

Só mesmo o Joaquim de Oliveira para afirmar, depois dos jogos contra a Noruega e Chipre, uma coisa assim: "temos futuro com esta equipa". Sigo as análises imediatas ao jogo, as teorias ajuntivas, as técnicas e a autoestima e as frustrações e penso que não existem realmente paliativos tão fortes como o futebol. Numa palavra: diversão.

segunda-feira, setembro 06, 2010

protagonismos

De repente, exclusivamente por culpa do titubeante Passos Coelho, José Sócrates surge como um paladino do Estado Social, quase siamês de um Manuel Alegre alegremente eleitoralista, quase uma cópia do estafado e resistente PCP. Enquanto isso, Cavaco lá vai tecendo com cautela a trama do tempo que chegará breve. Afinal, o país precisa de uma viragem à esquerda, a crer nas palavras do primeiro-ministro.

sábado, setembro 04, 2010

a campanha presidencial

Torna-se necessário entender uma coisa simples: um Presidente da República paira numa espécie de etéreo espaço político. A culpa não é só do figurino constitucional que origina esta partilha de poderes (semipresidencialismo). A sebastianicamente frívola mentalidade dos portugueses e dos órgãos de comunicação social alimentam fortemente este pressuposto. Daí que um Presidente da República, qualquer que ele seja, se tranfigure num espécime inexoravelmente sobredimensionado: um presidente-rei. Por isso, o desgastado argumento de que Cavaco Silva anda em pré-campanha eleitoral há já não sei quanto tempo (Manuel Alegre, Defensor Moura e, agora, Francisco Lopes) é revelador dum típico amorfismo normativo. O que é que eles queriam que Cavaco fizesse? O contrário de Eanes, Soares e Sampaio, os quais só disponibilizaram publicamente a sua decisão de recandidatura dois ou três meses antes do dia eleitoral? Que alterasse o seu modus faciendi? Se há coisa em que Cavaco Silva é, de fato, imutável, é na sua própria imutabilidade.

casa pia

Por que será que o falso final deste tenebroso processo judicial se espelha de implausível? Ao ver aquela juíza arrumar estranha e penosamente os papéis enquanto ouvia um dos advogados dos réus algo se projeta deslocadamente naquele insólito espaço físico. Não sei muito bem o quê, mas eu não gostava, enquanto réu condenado, que uma juíza ou juiz ouvisse o meu advogado ao mesmo tempo que limpava, atarefada, a secretária.
Por outro lado, há algumas questões que me sobressaltam: quem são as vítimas no meio disto tudo? Qual a razão que leva a instituição Casa Pia a sair incólume disto tudo?

quarta-feira, setembro 01, 2010

ministério da educação: os serviços

Deixo aqui uma amostragem do que é o Ministério da Educação. Outro dia vi um filme em que um polícia, encarregado de formar uma equipa altamente especializada (à boa maneira americana), referiu que não podia confiar num polícia que não comesse um bom cachorro quente (era vegetariano o preterido). Pois bem, com esta gente do ministério, com a cabeça cheia de siglas, passa-se o mesmo.
A educação é, em Portugal, uma gigante siglação, configurando infindáveis diretrizes. Perdemo-nos na visita à página da internet. Atentem:
CCAP, CCPFC, DGIDC, DGRHE, EME, GAVE, GEPE, GGF, IGE, SG, DREN, DREC, DRELVT, DREALENT, DREALG, ANQ, PNL, RBE, PRODEP, ANSOCLEO, JNE, CENOR, CNE.
Cada grupo destas simpáticas letras abrem mais uns não sei quantos links, cheios de decretos-leis e de portarias várias. Podem crer que há mentes (brilhantes) que reconhecem esta coisa de trás para a frente e de frente para trás.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...