quinta-feira, março 28, 2013

o espião carvalho

Silva Carvalho foi um espião português. Um dia, demitiu-se e passou-se para uma empresa privada de comunicação. Esta recebeu-o de braços abertos, pois não é todos os dias que se é subordinante de um homem cheio de segredos públicos e privados. Silva Carvalho era amigo do senhor dr. Relvas (de quem?!... Ah!...). Silva Carvalho foi acusado de violação do segredo de Estado e de abuso de poder e de divulgação de dados pessoais alheios à sua insigne pessoa. Deixou-se de falar de Silva Carvalho. De repente, Silva Carvalho aparece nos noticiários porque foi reintegrado na função pública, nada mais, nada menos do que a presidência do Conselho de Ministros. Justifica-se, candidamente, o Governo de que há uma lei que obriga a reintegração de quem cumpriu, pelo menos, seis anos em cargos públicos. Elevadamente, presume-se. Silva Carvalho já afirmou que serve o país há vinte anos e que continuará, satisfatoriamente, a honrá-lo.
Esta é apenas uma narrativa dos nossos dias políticos, atabafada por uma outra, que tem mais encanto e share televisivo.

inconstitucionalidades

A senhora deputada do PSD Teresa Leal Coelho acha que o Tribunal Constitucional "deve, no exercício das suas funções, assumir a sua quota parte de responsabilidade", caso aponte desvios à lei fundamental da República.
Não entendo este raciocínio. A questão, para o TC, é de análise direta e límpida: ou são inconstitucionais as diretrizes em análise, ou não o são. Ponto. O que o grupo parlamentar do PSD, pela voz deste senhora deputada, e também o próprio Governo, pela voz agastada de Passos Coelho, tenta contextualizar, é nada, isto é, constroem uma história (uma narrativa) ficcional, a qual tem somente ligeiros contactos com o real.

quinta-feira, março 21, 2013

a (in)sustentável leveza das petições

Sabemos que estão na moda as petições por tudo e por nada. A última (a última é como quem diz... nos últimos cinco minutos já devem ter surgido uma poucas...) tem José Sócrates como centro potestativo. Quando se soube que o ex-primeiro-ministro fora contratado pela RTP para um programa de comentário político, aqui del rei que há que fazer alguma coisa. O quê? Petição, pois claro. O título é claro, límpido: "Recusamos a presença de José Sócrates como comentador da RTP". E recusam porque o homem arruinou o país, segundo advogam. O contra-argumentário foi lapidar e célere. Nova petição: "Petição a favor da presença de Sócrates na RTP".
Será isto a cidadania? Decerto que não. Esta descarga biliática, intempestuosa e raivosa mostra, de facto, muito do tecido psicossocial dos portugueses. Os que colocam o seu "voto" na petição do não, não constatam, por exemplo, que existe uma série de ex-governantes com culpas relativamente à atual situação do país. A começar por Cavaco Silva (e acabando em Passos Coelho, obviamente). Sócrates, é, simplesmente, mais um, o qual, por acaso, e vendo bem as coisas, é bem melhor do que o último elegido. este, sim, uma desgraça.

quarta-feira, março 20, 2013

moções e decisões

O PS foi desafiado pelo PCP para apresentar uma moção de censura. O partido comunista tem razão. O momento é dramático e decisório. Do mesmo modo, seria bom verificar até que ponto a maioria sustentava o executivo com o seu voto. Poder-se-ia dar o insólito caso em que seriam deputados do PSD e do CDS-PP a votarem no sentido da exoneração de Passos e Gaspar. Por outro lado, Cavaco Silva seria igualmente obrigado a fazer alguma coisa. Ou seja: tudo não passaria do normal funcionamento da democracia. Não é disto que o Pesidente gosta?

adenda: seria bom olharmos para O Chipre. O come e cala luso não faz escola. Ainda bem. É pena que assim seja. Os pequenos países, ao contrário do que pensam as senhoras Merkel's, têm também voz. Não é a economia que comanda a política. Foi esta a grande lição que o Parlamento cipriota concedeu à Europa.

terça-feira, março 19, 2013

o aureolado gaspar

O sr. Vítor Gaspar disse hoje no Parlamento que Portugal está livre da experiência cipriota, pois os bancos portugueses recomendam-se. Pergunto: o que vale esta opinião? Eu sei que o homem é um crânio e muito conceituado lá para Bruxelas. Estou mesmo propenso a crer que o sr. Gaspar aspiraria a um lugar igual ao destes técnicos da troika, porventura noutro país. Seria um consolo de alma ver-se sair do aeroporto, aureolado como líder de equipa, a qual estaria investida na mui nobre tarefa de desenhar um plano de contenção. Ah, Gaspar, como espumarias de ânimo, como rejubilarias, como o teu colega Borges te enalteceria. Enquanto isso, vais perorando entre lusos muros, amarfanhando voos e silenciando os borges que te inventaram.

cristas cunha

Assunção Cristas, ministra da agricultura da república, admitiu, para o seu ministério, dois ex-colegas da faculdade. Nada de novo, por aqui. Afinal, este procedimento em nada difere dos seus colegas, atuais e/ou anteriores. Obviamente, que o argumetno da ministra também não foi particularmente original: foram escolhidos pela capacidade de trabalho, pela provas dadas, pela... pela distinta lata dela e deles, acrescento eu, humilde observador revoltado com a gerência da res publica. Ora, toda esta dinâmica nomeadora acaba por significar uma espécie de fim de ciclo, ainda que não se possa falar, apropriadamente, de uma implicação cíclica do agir mandante de Cristas. Esta está, pois, a arrumar a casa. Sabe qeu, provavelmente, não voltará a sentar-se na cadeira do seu gabinete, quando regressar da natalidade.
Nada de novo, portanto.

segunda-feira, março 18, 2013

a loucura

No mesmo dia em que o sr. Vítor Gaspar, ministro das Finanças, declarava a sua total errância no que às contas públicas diz respeito, Durão Barroso, que jurou um dia cumprir o seu mandato que o povo lhe outorgou, mas que à primeira oportunidade egoísta rumou para Bruxelas, afirmava, lá no Olimpo europeu, que Portugal estava no bom caminho e que a última avaliação da Troika tinha sido um sucesso.
É triste o ponto a que chegamos, estarmos assim entregues a esta gente. Adormecemos, candidamente, com o peso do desastre em cima de nós. Fatalmente, uma coisa chamada sociedade vai-se degradando, olhamos uns para os outros e vemos olhos tristes. Lá em cima, nos lugares de mando, todos vão cumprindo o programa.
Para isso, não era preciso tanta coisa, tanto aparato e tantas troikas.

domingo, março 10, 2013

seguro: o cravo e a ferradura

O que será que passou pela cabeça de António José Seguro ao afirmar que o último prefácio de Cavaco Silva, nos seus Roteiros, foi uma clara mensagem ao Governo: "Há uma clara mensagem dirigida ao Governo: se houver instabilidade e uma crise política em Portugal, a responsabilidade não é do senhor Presidente da República. Isso quer dizer que será do governo", afirmou, interpretativo, o líder do PS. Quando o país necessita de um PS claramente oposicionista e defensor do que foi o consulado Sócrates, mesmo admitindo os erros e as "loucuras" de alguns incompetentes ministros, Seguro assume-se um verdadeiro nim. A questão que Seguro deveria colocar, após o prefácio de Cavaco Silva, seria, simplesmente, esta: entre Sócrates e Passos, quem foi, afinal, melhor? Só mesmo para algumas cabeças feitas de enchidos comunicacionais (quem diz que o Governo não comunica bem?), a resposta calha na segunda opção.
Quero esclarecer o seguinte: eu fui muito crítico de José Sócrates e de muitos dos seus ministros, a começar pela inenarrável Lurdes Rodrigues, no espetáculo da educação, passando pelo Lino e Pinho, etc. Mas o que está a aconteceer neste momento ao país revela-se demasiado confrangedor e grave para ser aceitável. O que temos desde há um ano é um Governo que nunca o foi, um departamento incapaz de agir, incompetente e desconhecedor da realidade do país, ou melhor, das pessoas.

descomunicando

o tempo foi passando... Os dias, as semanas e os meses estiveram sempre carregados com um dedo acusador de incapacidade de comunicação. O ministro Relvas, aquele naturalmente incumbido de fazer a ponte entre o Governo e a Assembleia e, decorrentemente, o povo, afundava-se de dia para dia, semana após semana, na sua própria incompetência, a qual, mais uma vez decorrentemente, espelha a incapacidade orgânica do Governo. Marcelo, sem muito para ficcionar (o outro, o Marques Mendes, cada vez mais parecido com o títere "grande nóia", prefere o caminho preditivo, que já lhe valeu uma transferência para outra equipa), repetia-se, semana após semana, a seguir ao telejornal da TVI: não há quem explique nada no Governo, não pode ser. E tinha razão, afinal: a Troika dixit. Tudo vai agora ser agora diferente. Os gabinetes de comunicação do primeiro-ministro e ministro das finanças serão, decerto, catalisados para novos empreendimentos comunicacionais. A propaganda vem aí. Ficaremos todos mais satisfeitos.

quinta-feira, março 07, 2013

os borges

Estes iletrados sociais retomam sempre a litania da redução de salários, para que o país possa dar o salto. O sr. Borges andou um tempo ausente. Mas bastou hoje uma agência de rating carimbar Portugal com uma subidita (estabilizou, dizem) para este consultor vir logo dar sinal de vida e de - ele sim - prosperidade. "Ninguém quer um país pobre", afirmou Borges, acrescentando que "o ideal era que os salários descessem como aconteceu noutros países como solução imediata para resolver o problema do desemprego". Ele não sabe, não quer saber, que, dos países da zona euro, é Portugal que tem o menor salário mínimo. Ele também não sabe nem quer saber que 20% da população vive no limiar da pobreza. Ele também não sabe e não quer saber que é a segurança social que impede que esses 20% não se transformem em 40%. Ele também não sabe e não quer saber que há muitos trabalhadores em Portugal que estão na pobreza. O sr. Boreges, vetusto consultor do Governo, aparecerá sempre quando o Mercado quiser.

quarta-feira, março 06, 2013

a saída de daniel oliveira

Pareceu-me expectável, a partir de certa altura que não sei precisar (um ano a esta parte?) a saída de Daniel Oliveira do Bloco. Na verdade, a roupagem de comentador político investido de liberdade opinativa não se adequava a uma militância política, naturalmente ativa. A renúncia de Francisco Louçã trocou-lhe as voltas (ele gostaria de ter tomado esta atitude com Louçã a liderar o partido, para melhor apontar o dedo acusador). Como não foi possível, justificou-se desta maneira um pouco aturdida, numa declaração de cinco páginas, sem direito a resposta, como convém (está tudo nas cinco páginas que escrevi, terá dito aos jornalistas).
Não há, pois, crise. Pelo menos, esta não virá por aqui. O Bloco perde um opaco militante, mas o comentário político ganha um eficaz protagonista. O défice, aqui, é positivo.

cavaco, o inerte

Ouvi agora o delicado Cavaco Silva - merecedor, aliás, de uma interrupção em direto do debate parlamentar (um tédio...) -, numa visita a uma fábrica de cereais, afirmar que tem uma experiência que mais ninguém tem, pois foi primeiro-ministro durante dez anos e vai a caminho dos dez enquanto Presidente da República e que - last but not least - conhece profundamente a realidade do país (como ninguém, presumo). Porém, à primeira pergunta incómoda, a qual teve a ver com a eventual maturação para quinze anos do empréstimo obrigacionista da troika, reorientou de imediato o norte discursivo para salientar que é o Governo que tem os dados todos e é ele (Governo) que responde perante o país.
Eu sei, eu sei que é assim... Do ponto de vista constitucional - o único que conta, afinal - o Governo não tem de responder perante o Presidente da República e só tem de merecer o apoio do povo, isto é do Parlamento. Ora, é precisamente neste ponto que um Presidente da República deve justificar a sua existência política, isto é, ter a capacidade de ler os sinais desse mesmo povo que ele - mais do que qualquer outro, representa (gosta ou não gosta de se intitular uma espécie de provedor do povo?). E Cavaco é um redondo falhanço enquanto Presidente porque é demasiado apático e pouco influído politicamente. E logo ele que sabe, "por experiência própria", que quanot mais um Presidente da República aparecer em público, menor é a sua capacidade de influência nos decisores políticos. Mas onde é que vai buscar estas ideias?

a não demissão

Uma pergunta me tem ecoado semana sim, semana não desde há uns meses: por que razão este Governo não apresenta a demissão ao Presidente da República? Neste momento, não existe absolutamente nenhum pressuposto governativo inicial, visto que todos eles não têm, atualmente, ajustamento programático. Deste modo, este é um Governo que não tem já legitimidade democrática, nem sequer eleitoral. A partir do momento em que praticamente todas as diretrizes eleitorais são arrastadas para o limbo fantasmático da politiquice, o Governo deixa de ter plausibilidade governativa. O que fazem os governantes? Nada. Sem rumo, arrastam-se ao sabor das lunáticas ideias do senhor Gaspar.
Vivemos um indubitável tempo de mudança. Vários protagonistas políticos deixarão de o ser. E isso é bom.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...