sexta-feira, abril 30, 2010

o novo velho mundo

Digam-se, por favor, se o que se está a passar no mundo da finança bolsista não é, invariavelmente, mais do mesmo. Em dois dias, uma agência de rating, com o curioso nome de Standard & Poor's, pôs a União Europeia, designadamente as suas economias mais débeis, num rodopio contagioso e profundo. Em dois dias, milionários tornaram-se mais milionários e os remediados mais remediados. Em dois dias apenas, a bolsa portuguesa transaccionou centenas de milhões de títulos, centenas de milhões de euros. Em dois dias apenas, a Europa tremeu. Portugal era dado como perdido, seguindo-se a Espanha e depois, quem sabe, a Itália. Nestes dois dias, ouviu-se apenas uma voz crítica. A do inabalável Strauss-Kahn, director do Fundo Monetário Internacional, que disse simplesmente isto: não se deve acreditar demasiado nas agências de notação financeiras; elas reflectem apenas o que recolhem sobre o mercado.
As outras vozes sapientes dedicam-se tenazmente a seguir estudos cada dia mais aprofundados, cada dia mais originais. Os comentadores da economia estão cada vez mais parecidos com os do futebol: estão sempre na onda.
Retomo as palavras do director do FMI: as agências de rating limitam-se a reflectir o que recolhem sobre o mercado. Sobre o mercado! O deus inabalável do mercado! As pessoas, essas, o que são?

canduras

O tempo é de crise e a crise não costuma ser tempo de grandes convergências. Exemplo disso é o óbvio desencontro entre o Ministro das Obras Públicas, que continua a apostar nas obras emblemáticas, como o TGV e o Aeroportode Lisboa e o Ministro das Finanças, o qual parece ter refreado o conceito Keynesiano na aposta desenfreada do investimento público, mesmo que este não tenha, como parece ser o caso da linha TGV Lisboa-Madrid, jamais retorno financeiro suscetível de equilibrar o investimento feito.
Entretanto, as sondagens vão surgindo e os medos emergindo. O PS é, agora, um partido em claro declínio. Vai perder as próximas eleições legislativas, sejam elas antecipadas ou não. A não ser, é claro, que mude de candidato a primeiro-ministro. Agindo deste modo, dava um sinal claro de revitalização partidária. Os líderes só são "eternos" em ditadura. Na verdade, o invencível Sócrates está esgotado e, com ele, todos os ministros que há muito percorrem os corredores da administração. Teixeira dos Santos é um deles. Ouvindo-o, anota-se o titubear do registo discursivo, a confusão da ideias, o paradigma distorcido. O apoio à Grécia resolvido em Conselho de Ministro foi transmitido por Teixeira dos Santos do seguinte modo: a matéria deve envolver o país (restantes partidos parlamentares, presume-se) e, por isso, não deve apenas ser decidido pelo Governo. Extraordinário! Então uma ajuda de 700 milhões de euros a um país da União que atravessa gravíssimos problemas financeiros é caso de união parlamentar; mas investimentos de milhares de milhões de euros são casos de união socialiasta...

domingo, abril 25, 2010

o fenómeno Inês de Medeiros

É verdade que este folclore em torno da deputada socialista Inês de Medeiros ocupa um lugar vago nas preocupações nacionais. No entanto, é revelador de como há ainda chicos-espertos nos lugares da Assembleia da República e nos partidos políticos. A deputada concorre pelo círculo de Lisboa e tem residência em Paris, apesar de na sua declaração de candidatura ser a capital portuguesa o local da residência e estar também aqui recenseada. Obviamente que este pequeníssimo pormenor não passou despercebido ao partido que a convidou para as suas listas. O que se me afigura singular, o meio de tudo isto, é ela não se ter apresentado no círculo eleitoral da Europa.

sp. braga

Tenho defendido que o futebol é um dos mais perfeitos espelhos da nossa sociedade. Neste sentido, não haverá decerto muitos países europeus em que três clubes de futebol granjeiem, possivelmente, cerca de 90% de entusiastas ou mesmo sócios de clubes de futebol. Acrescentando o pastoreio televisivo dos comentadores deste desporto, temos então o retrato quase perfeito. Olhamos para o país e o que vemos? O que vemos é uma cidade (inserida numa região que alberga 33% da população portuguesa e se insere nas mais ricas regiões da Europa) e depois outra, é uma linha junto ao mar que denominamos convenientemente de litoral, é um interior desabitado, onde se fecham, consequentemente, escolas e centros de saúde em que algumas das suas parcelas territoriais aparecem na lista das regiões mais pobres da Europa.
Por isso é que o presente feito futebolístico do Sp. Braga representa mais do que futebol. Reflecte, no fundo, a capacidade que podemos adquirir, enquanto país, para superar a nossa pior e sulcada fraqueza: as profundas desigualdades num pequeno país de 92 090 km².

discursos abrilistas

Ouvidos os discursos dos agentes políticos hoje na Assembleia da República, dois foram efectivamente surpreendentes. O do serenado José Pedro Aguiar-Branco, de índole teorético-combativo, com intertextualidades objectivamente esquerdizantes, e o do Presidente Cavaco Silva. Dizem que os homens, com a idade, vagueiam na direcção de posições mais conservadoras, efectuando, portanto, um caminho da esquerda (extrema-esquerda, por vezes) para a direita (extrema direita, por vezes). Temos nós alguns exemplares autóctones, a começar, desde logo, pelo actual presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso. Se quisermos, também podemos alinhavar aqui o partido Socialista ou mesmo o Partido Social Democrata (embora naturalmente menos, este último). Existem, no entanto, outros que efectuam o percurso inverso: originários de posições políticas mais conservadoras, movem-se em direcção a uma espécie de revolucionamento social, muito embora estas personagens não tenham, no seu adn político, quaisquer sinais sublevadores da ordem estabelecida. Estou em crer que o Presidente da República é uma destas personalidades.
Voltemos então ao discurso efectuado hoje na Assembleia da República. Cavaco Silva foi ponderado e corajoso. Criticou o estado actual do país quando referiu as tremendas e tenebrosas desigualdades sociais, principalmente quando estas advêm de uma real politik que, como já abundantemente vimos, não serve os interesses nacionais, começando desde logo por afirmar que nacionais aqui são, primeiramente, as pessoas. Para chegar a este ponto passou pela escandaleira que é os ganhos milionários dos gestores de empresas com participações públicas, ainda para mais quando o que estes gestores gerem são empresas fundamentadas num monopólio que o próprio Estado - a meu ver bem - modela. Falou, pois, bem, o Presidente da República. Gostei, sobretudo, do oportunismo temporal destes seus reparos. Na verdade, a menos de um ano de eleições presidenciais, Cavaco posicionou-se à esquerda do próprio Governo.

maioria parlamentar?

É recorrentemente obsessiva a lamúria: Portugal precisa de uma maioria parlamentar. Os chamados partidos do poder tentam invariavelmente alcançar esse mirífico e místico objectivo. Daí que nas campanhas eleitorais o partido que parte melhor colocado nas sondagens esboce sistematicamente o discurso demagógico do ou nós ou o caos. Na verdade, foi Cavaco Silva o introdutor desta sintomatologia apocalíptica, ainda que não passasse de mera retórica eleitoral. Mas é um facto indesmentível que o cheiro do poder maioritário, da tal maioria parlamentar, inebria os espíritos mais lúcidos. Esquecem no entanto que vale mais uma oposição responsável, construtora de um entendimento maioritário nacional (via Parlamento), do que qualquer Governo apoiado por um partido amorfo e submisso. Aparentemente, a metamorfose que o PSD se encontra a passar vai nesse sentido. O seu líder foi já claro nos seus intentos: não tem pressa de chegar ao poder. Do mesmo modo, pôs de lado (disse-o de forma objectiva) o chamado ataque de carácter, o qual não pretende senão descredibilizar o primeiro-ministro inserido numa perspectiva que raramente ultrapassa o pessoal (tenho-o, porém escrito: José Sócrates tem-se posto muito a jeito para estes tipos de investidas, ora através das do seu percurso político-profissional, ora mesmo através de um certo porreirismo nacional que leva a que, por exemplo, se efectuem exames universitários num domingo, ou mesmo através das suas já tradicionais afrontas aos órgãos de comunicação social que não partilham a sua visão avaliativa do executivo que lidera). De facto, os primeiros sinais de Passos Coelho são reveladores dessa sua postura. Apresentou já uma outra visão para o PEC (o plano B), a ideia um tanto romântica de um grupo de senadores da República (o Conselho Superior da República) com um fim específico de fiscalização dos cargos de nomeação política (e o Parlamento?), um reforço do Parlamento na nomeação de quem vai exercer cargos públicos, a separação das magistraturas judicial e do Ministério Público (retirando a esta o estatuto de órgão de soberania) e uma série de pontos de vista que tem sempre como base a visão dicotómica entre mais ou menos Estado, entre mais ou menos ingerência do Estado na regulamentação da economia e em sectores-chaves como a educação e a saúde. Neste ponto, não é, todavia, claro. Por vezes, Passos Coelho parece render-se a um a um liberalismo capitalista que desencadeou a crise que ainda passamos; outras vezes, parece não se conformar com o primado da economia sobre a política. Por isso, faz bem esperar pela sua oportunidade e não ter pressa em chegar ao poder. Mas, como nós sabemos, este inebria o mais lúcido dos espíritos. Vamos ver qual será o seu discurso quando as sondagens lhe confiarem uma aproximação virtual de uma maioria parlamentar.

sábado, abril 17, 2010

política a "la carte"

Desde que vi José Sócrates e Alberto João Jardim, na Madeira, numa revelação entusiástica de amizade e empatia política, confesso que o meu próprio olhar sobre este status quo político ficou determinantemente desfigurado. Somos governados por pessoas que não têm pejo algum em passar por cima de convicções e dos próprios partidos que representam. Retiro aqui o nome convicções, pois começo (tardiamente, é certo) a entender que o único postulado que esta gente segue é um olhar obscuramente narcísico, o qual se inicia e perfaz invariavelmente neles próprios.
Um outro exemplo desta visão do país político tem a ver com o suposto (parece que já conformado) apoio do PS a Manuel Alegre para a campanha presidencial que se avizinha. Não tenho dúvidas que ainda vamos ver José Sócrates empolgado nos comícios ao candidato. Basta, para isso, que os seus conselheiros e operadores de sondagens lhes transmitam que a sua própria existência política só tem a ganhar com uma derrota de Alegre. Este anda, com se vê, a mendigar o apoio do seu partido de sempre. É, aliás, um preceito que ele próprio faz questão de, sistematicamente, recordar, ao afirmar, insistente, que a sua casa política é o PS.
Penso convictamente que José Sócrates quer que Alegre perca as eleições presidenciais. Toda esta indefinição em redor da sua candidatura prova isso mesmo. A partir daqui, qualquer apoio do partido ao candidato encontra-se fragilizado, visto que o mesmo não é, claramente, unificador. Por outro lado, o perfil "rédea curta" de Cavaco Silva (com as suas inevitáveis juras de fidelidade e amor ao país) serão sempre mais convenientes a José Sócrates do que um Manuel Alegre de risco pseudo-revolucionário e de algum assomo rancoroso.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...