domingo, janeiro 31, 2010

penas pesadas, diz vitor constâncio

Ouvir o extraordinário presidente do Banco de Portugal pedir penas pesadas para os responsáveis dos bancos que faliram (BPN e BPP) é hilariante. Não é que não mereçam. Acontece que Constâncio, um dos ordenados mais chorudos da nossa função pública (mais carrões, representações, prémios, etc., etc.), viveu, durante os anos que antecederam a crise, numa completa atmosfera límbica. Agora, com aquele ar de justiceiro, candidato a uma vice presidência do Banco Central Europeu, mostra que, afinal, a farinha pode mesmo sair toda do mesmo saco.

domingo, janeiro 24, 2010

os premiados

Vítor Constâncio anda a prestar provas para a vice-presidência do Banco Central Europeu. Durão Barroso prestou-as, também para um emproado lugar nas elites burocratas europeias, há uns anos, na palidez hipócrita da sombra da política. Na base, o mesmo argumento saloio: um português nas altas instâncias europeias. Fico, no entanto, sem entender os critérios que levam estas instituições europeias a determinar quais as pessoas que se encaixam nos seus enquadramentos administrativos e decisórios.
Durão Barroso, enquanto primeiro-ministro, não existiu. Não fora António Guterres, numa impetuosa e mentirosa desculpa que glosava o resultado das eleições autárquicas, e Barroso provavelmente estaria a perorar, conjuntamente com outros seus colegas social-democratas, pelas bancadas parlamentares. Ou talvez optasse (penso que se enquadraria melhor com o seu perfil), à Jorge Coelho, por um dos prováveis convites na administração de uma qualquer empresa portuguesa, de preferência daquelas que têm ligação directa com os negócios do Estado e que, geralmente, movimentam milhões de euros dos contribuintes. Por outro lado, o agora recém-reconduzido Presidente da Comissão Europeia não teve pejo em deixar a presidência do governo português, a liderança do seu partido (deixando-o de tanga, para usar uma sua expressão politicamente vazia, mas tonitruante), para se dedicar em exclusivo ao seu umbigo.
Quanto a Vítor Constâncio, outra das sumidades do regime que, após uma efémera passagem pela política, optou pelo confortável posto de Presidente do Banco de Portugal (cargo que conseguiu por ter sido, precisamente, um candidato derrotado a primeiro-ministro), com base nos seus elevados conhecimentos macroeconómicos, não teve engenho nem arte em antever o descalabro que foi o desenho administrativo do BPN e do BPP e também das engenhosas falcatruas que, durante anos, gravitaram à volta do maior banco privado português. Convém notar que, para um país com a dimensão do nosso, já não é coisa pouca. Mas Constâncio deve andar já farto da exiguidade do meio e, como nestas coisas as cunhas têm o nome de governo da República (Barroso sabe-o bem), anda neste momento a fazer pela vida. Entretanto, nós, pequenos portugueses encalhados entre a Espanha e o Atlântico, lá nos teremos de congratular com mais esta vitória de um patrício. Mais um para a galeria.

sábado, janeiro 16, 2010

alegre outra vez

O reboliço presidencial inicia-se assim com as declarações de disponibilidade de Manuel Alegre, seja lá o que essa disponibilidade, efectivamente, representa. Os jogos de palavras, as interpretações exaustivas, o apoio paranóico dos partidos, as reacções, os outros disponíveis (ausentes, presentes), tudo serão, a partir de agora, escrutinados. Noto, desde logo, que Manuel Alegre iniciou esta sua pre-pre-campanha com três extorsões. Uma, aliás, devidamente assumida. Diz esta respeito à reivindicação do seu "grande amigo" Jorge Sampaio de que há mais vida para além do défice. Alegre substituiu o défice pelo orçamento e chutou para a frente. Depois, pegou naquilo que constituiu, em certa medida, um leit motiv de Soares na última campanha presidencial, quando acusava Cavaco de não passar de um tecnocrata, de um razoável economista sem grande entendimento das ciências sociais e humanas. Ou como falta, sobretudo, mundo ao nosso Presidente da República. Diz Alegre que não será um presidente de estatísticas e que será "pela pedagogia do gesto, da palavra" que orientará a sua acção a partir do palácio de Belém. Ora é precisamente aqui que reside a sua terceira empalmação. É que toda a gente se lembra do candidato Cavaco Silva enaltecer a palavra do presidente como forma suprema de orientação presidencial.
Entretanto, o Bloco de Esquerda espreitou esta janela de oportunidade para se adiantar no apoio a Alegre. Este, aparentemente, não se demarcou deste manhoso suporte eleitoral, o que não joga a seu favor. Na verdade, o que leva o Bloco a sustentar a candidatura do ex-deputado socialista é, sobretudo, uma vontade de afirmação eleitoral num espaço em que pouco ou nada riscaria. É que os fios com que se tece uma eleição presidencial são diferentes dos de uma legislativa. A desastrosa experiência autárquica, que por pouco fez esquecer o excelente resultado nas legislativas, originou indubitáveis mossas no partido de Francisco Louçã. Por outro lado, os apoios partidários numa eleição marcadamente unipessoal são sempre presentes envenenados. Em Portugal, um Presidente da República tem a área de acção demasiadamente bem definida, para podermos desenvolver qualquer episódico programa presidencial. Por conseguinte, o que estará sempre presente na eleição para o mais alto cargo da nação terá sempre mais a ver com o estilo individual, com aquilo que às vezes ajuda a transportar de forma clarificadora uma mensagem, do que com qualquer ideologia político-partidária. Acaso a visão mais esquerdista de Alegre ajudaria Sócrates a ultrapassar os impasses existenciais da última maioria absoluta? A resposta é negativa. Daí que tudo gravite à volta de meia dúzia de palavras, as quais farão inexoravelmente parte do glossário presidencial. De facto, vocábulos como árbitro, palavra, pedagogia, respeito, independência, não-ingerência, farão parte integrante e quase exclusiva da visão programática dos candidatos. Acreditem que não vamos sair disso.

sábado, janeiro 09, 2010

espirito republicano

Os paradoxos da democracia são muitos. Uns são mais visíveis do que outros. Soubemos hoje que a sr. dr.ª ex-ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues foi nomeada pelo Primeiro-Ministro para presidente da Fundação Luso-Americana. Poderíamos entrar aqui num coro de indiferença. Afinal, ela tem todo o direito de ser convidada, por José Sócrates, como qualquer outra pessoa. Acontece que a senhora saiu há pouquíssimo tempo dum conturbado período político, no qual revelou um enorme desajustamento a vários níveis. Acontece que a sr.ª é professora (não se encontrando, portanto, no desemprego) e que provavelmente desenvolverá, no seu estabelecimento de ensino, um trabalho louvável (até porque deve estar, naturalmente, com saudades de ensinar...). Acontece que manda o bom-senso republicano (100 anos de republicanismo com um interregno de meio século e nada aprendemos) que estas tomadas de decisões são, no mínimo, obtusas e irresponsáveis.
Já aqui escrevi, algures, que o nosso primeiro-ministro se põe a jeito para muitas coisas. Neste sentido, desenhou a sua estratégia desde que perdeu a maioria absoluta e que o partido, cego, acompanha: esticar a corda. Talvez ele não saiba ou não queira saber que a história nem sempre se repete.

domingo, janeiro 03, 2010

comentadores desportivos

Sinceramente, pensava que já tinha ouvido tudo no que diz respeito à imbecilidade dos comentadores desportivos. Enganei-me, redondamente. Vi pela primeira vez um jogo de futsal entre o Sporting e o Benfica. Dois indivíduos comentavam o jogo. Fiquei verdadeiramente estupefacto em relação ao nível dos comentários dessas duas enormidades. Penso que recebem um ordenado da RTP. Enfim...

somos os maiores

É isso mesmo: parece que estamos à frente nas contratações futebolísticas no chamado mercado de Inverno. Só o Benfica e o Sporting despenderam, juntos, cerca de 16, 8 milhões de euros. Sinal dos tempos: clubes tecnicamente falidos a comprarem desta maneira! Eu, tal como o outro, não percebo nada de finanças. Mas também penso que não é preciso entender muito para concluir que algo não bate muito certo nesta maneira de ver as coisas. É erro meu, ou a presente crise económica teve como essência este tipo de acções?

sábado, janeiro 02, 2010

hipocrisia ocidental

Um homem, cidadão europeu, foi condenado à morte na República Popular da China, esse grandioso país que consegue uma miscelânea aparentemente impossível: misturar duas formas de governo historicamente irreconciliáveis: o comunismo e o capitalismo. Um país, dois sistemas, é o que dizem, orgulhosos. O crime do cidadão britânico foi tráfego de droga.
Se a chamada ordem internacional funcionasse e não vivêssemos num mundo feito de hipocrisias, a China (entre outros incontáveis países) não teria, simplesmente, lugar permanente em fóruns internacionais, em congressos disto e daquilo e nunca seria olhada como uma economia emergente, para fora das suas fronteiras. Tudo isto faz lembrar a recente crise capitalista: toda a gente sabe o que foi, como aconteceu, e até sabemos o remédio. Mas sempre é melhor virar o disco e tocar o mesmo.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...