segunda-feira, março 31, 2008

ainda as desigualdades

Vieram a calhar (relativamente ao último post aqui escrito) as declarações da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) sobre a falta de apoios logísticos que têm vindo a crescer no interior do país. O presidente da LBP é peremptório nas suas alegações: "quem vive nestes concelhos [do interior] está dependente da disponibilidade de tempo e da disponibilidade financeira da corporação local", para adiantar, numa conclusão la palassiana, que o "cidadão tem os mesmos direitos, quer viva numa aldeia recôndita em Vila Real, quer viva em Lisboa".
É evidente que sim, que tem os mesmos direitos. Infelizmente, não é isso que se passa.
Com efeito, perdeu-se, paradoxalmente, com o ímpeto regenerador que a democracia implementou em Portugal, uma oportunidade única de desenvolver (um dos três "d's" de Abril...), homogeneamente, o País. Na verdade, o que deveria ter sido a principal conduta política em democracia - até porque, lutando contra uma centralização, o regime democrático não fazia mais do que lutar ainda contra uma teorização nefasta dum Portugal ruralmente amarfanhado -, tornou-se, rapidamente, num esquecimento paulatino e decadente de todo o Portugal não litoralizado.
Recito, neste contexto, as palavras de José Sócrates em Viseu: "um país para todos, já que as boas sociedades são as que não permitem desigualdades gritantes". É bom ouvir alguém - ainda para mais quando é primeiro-ministro - falar assim. As palavras ficam sempre bem, assim, emolduradas...

domingo, março 30, 2008

as palavras e os actos de Sócrates

Retenho uma frase de José Sócrates, ontem, no distrito de Viseu: "um país para todos, já que as boas sociedades são as que não permitem desigualdades gritantes".
Não sei muito bem o que o nosso primeiro-ministro entende por desigualdade, reforçado, ainda por cima, com o adjectivo gritante. Se tivermos em conta a política de efectiva centralização deste governo, notamos que as desigualdades sociais, geográficas, económicas e profissionais têm vindo a crescer. Basta só olhar para a política de saúde e das muitas manifestações que se vêm realizando, nos mais diversos espaços socioprofissionais. A última conseguiu juntar, em Lisboa - a cidade de todas as manifestações, sinal de centralismo, ou melhor, de desigualdade - cerca de 3000 reformados, em protesto contra a política social do governo.

as virgens ofendidas

Ao que parece, o exército autárquico socialista, reunido no Funchal no congresso da ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias), ficou chocado com as declarações de Jaime Gama, enaltecendo as virtudes democráticas de Alberto João Jardim. De facto, Jaime Gama foi ridículo, se nos lembrarmos, que ainda há bem pouco tempo, apelidou o presidente da Região Autónoma da Madeira de Bokassa, o que não é, convém sublinhá-lo, epíteto de muito bom uso nos meios políticos e diplomáticos.
No entanto, a atitude demonstrada pelo Presidente da Assembleia da República não é nada de extraordinária. Na verdade, os políticos, em Portugal, já nos habituaram a mudanças de opinião, as quais são, muitas vezes, autênticas acrobacias de retórica. Assim, 0 que Jaime Gama fez não foi mais do que outros já fizeram e/ou continuam a fazer. Numa palavra: descredibilização. Acrescente-se: política.

(publicado no jornal Público em 3/Abril/2008)

sábado, março 29, 2008

confusão ideológica


Vive-se, no nosso panorama político, uma alentada confusão ideológica. E a "culpa" é, evidentemente, do governo. Mas só que, neste caso, a responsabilidade é meticulosamente delineada pelos estrategas dos gabinetes ministeriais.
Na verdade, a maioria PS balança entre uma direita escarpada, com tiques de autoritarismo que muitos dos seus ministros já demonstraram (Lurdes Rodrigues e Santos Silva, por exemplo), e uma esquerda mais à esquerda que o Bloco de Esquerda, como se viu, recentemente, com a introdução do aborto no quadro político e social e, agora, com a supressão da figura do divórcio litigioso, ao mesmo tempo que pretende reduzir para um ano "ou até menos" o período de separação de facto para um divórcio ser decretado, gerando, deste modo, uma contenda com a igreja católica, à semelhança, aliás, com o que já aconteceu com o Partido Socialista Espanhol.
É o que se chama agradar a gregos e a troianos.

sexta-feira, março 28, 2008

a escola é um lugar porreiro

O Expresso compilou uma série de vídeos que pairam no you tube sobre a indisciplina dos alunos. Afinal, "tá-se bem", na escola.

Observação: aborrecem-me aquelas pessoas que falam na família como a causa primeira do mau comportamento dos alunos. Ouvi, a respeito da aluna da secundária Carolina Michaelis, completas aberrações pretensamente analíticas, as quais apontam, invariavelmente, a família como um exclusivo tentáculo educacional. Esquecem-se que uma turma escolar sobrepõe-se, muitas vezes, a qualquer outra vertente afectiva.

quinta-feira, março 27, 2008

a subida e descida do IVA e o PSD

O argumentário de Teixeira dos Santos em relação às críticas do PSD, que defende que a descida de 1% do IVA é "irrelevante e casuística", faz todo o sentido. Com efeito, quando o governo aumentou o imposto em 1%, o discurso era precisamente o oposto, isto é, prejudicava objectivamente os portugueses. Ora, com a descida do IVA exigia-se, ao menos, alguma coerência por parte do maior partido da oposição.

professora apresenta queixa

Afinal, foi preciso que todo este problema se mediatizasse para que a professora de francês da Escola Secundária Carolinha Michaelis apresentasse queixa judicial, não só contra a alegada agressora, como também outras duas contra os restantes elementos da turma.
Este procedimento é, aliás, sintomático daquilo que é o deserto, o isolamento que os professores hoje em dia percorrem.
Torna-se, portanto, evidente que as escolas não têm capacidade para resolver problemas de indisciplina que todos os dias acontecem dentro das salas de aulas.

o inquérito aos alunos do 9 C

O inquérito foi aberto e os resultados já saíram: os dois alunos vão ser transferidos para uma outra escola. Os dois alunos - deve-se sublinhar - são a aluna que tentou retirar o telemóvel das mãos da professora e o que filmou toda a cena que apareceu, posteriormente, no you tube e, por arrastamento, nas televisões.
No entanto, estes dois agentes da acção tiveram papéis diferenciados neste episódio. De certo modo, o rapaz que filmou prestou um bom serviço à educação, pois contribuiu para apaziguar certos olhares que a classe docente estava sendo vítima (afinal, ser professor, não é tão linear como parece...). Por outro lado, a maioria dos restantes elementos da turma foram igualmente coniventes com a situação criada. Assim, o operador de camera (de telemóvel) só fez mais uma coisa que os outros não tiveram coragem de fazer. Ou então por que não tinham à mão um telemóvel.

gestão pública dos hospitais e descida do iva: as lutas inglórias do pcp

Penso, desde há muito, que uma das desfortunas que se cola ao Partido Comunista Português tem a ver com a sua incapacidade de fazer passar positiva e mediaticamente uma determinada mensagem política. A par disso, o PCP nunca conseguiu combater eficazmente a sintomatologia social que lhe é quase geneticamente adstrita.
Dois exemplos recentes que se podem invocar, a este respeito, partem de duas decisões do governo: a gestão pública dos hospitais e a descida do IVA para 20 %. Na verdade, estas duas aclamadíssimas decisões do governo tinham sido já propostas pelo grupo parlamentar do Partido Comunista. Na altura foram liminarmente rejeitadas pelos deputados socialistas; agora foram apresentadas apologeticamente como se de um achamento se tratasse.
Deste modo, torna-se evidente que um dos maiores trunfos desta maioria tem sido o de saber jogar com a dimensão mediática da política. Nem que, para isso, seja preciso proceder a uma estratégica obliteração de propostas que, mais tarde, possam vir a ser úteis.
Esta é, a meu ver, uma das razões da perniciosidade de (certas) maiorias absolutas.

quarta-feira, março 26, 2008

luís filipe menezes e a violência nas escolas

Só faltava mesmo Luís Filpe Menezes intervir, na forma em que o fez, na questiúncula da aluna e do telemóvel, que decorreu na Escola Secundária Carolina Michaëlis, no Porto. Para o líder do PSD, a culpa é do governo. Ponto final.
Ele tem razão, pois a culpa só pode ser do governo. Todavia, Menezes não conseguiu ir mais além do que a demagogia permite. Por isso, para ele, a culpa mora exclusivamente no governo de Sócrates, esquecendo-se que a pasta da educação foi ocupada maioritariamente por gente do seu partido. Na verdade, desde 1976, a educação foi regida durante 20 anos pelo PSD e durante 10 pelo PS.

terça-feira, março 25, 2008

a violência escolar e valter lemos

Valter Lemos é uma daquelas personagens que, escutando-o, ficamos com a sensação de que se encontra no lugar errado. Não é que ele diga coisas completamente disparatadas, mas é na sua elementaridade argumentativa que reside esse desaparafusamento profissional. Veio hoje rebater os números da violência nas escolas. Não passou disto: "As estatísticas dizem..."; "não sei que números e dados tem o sr. Procurador-Geral..."; "este governo é o que mais medidas tomou contra a violência..." E por aí fora.
Ouvindo Valter Lemos, ficamos com a certeza que o seu lugar foi ocupado não pelo chamado mérito que este governo tanto apregoa, mas por uma outra coisa qualquer que, a partir de certos patamares lugubremente trabalhados, se torna impossível combater.

o ps de sócrates

Sócrates sublinhou, na tomada de posse das comissões políticas concelhias da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS (FAUL), que o partido está unido e aberto ao exterior e que está "em permanente diálogo com as forças de progresso do país", assim como, mais uma vez, teve que recordar que, no PS, as divergências são respeitadas, pois são fruto de um partido naturalmente plural:"nunca [o PS] teve delitos de opinião, nem nunca marginalizou ninguém só por ter posições diferentes (...) aqui no PS há liberdade interna".
Estas palavras do secretário-geral do Partido Socialista devem ser consideradas se tivermos em conta uma visão diacrónica do partido. Por outro lado, a pluralidade opinativa, as chamadas tendências, fazem parte do código genético de qualquer partido. Mesmo no PCP existem tendências e Jerónimo de Sousa bem pode também vir para as televisões afirmar, tonitruante, que os comunistas respeitam - tendo mesmo em especial apreço - os pontos de vista divergentes da direcção do partido.
Um partido político sem contraditório é, pois, um partido esgotado e com necessidade de uma regeneração. Esta deve ser enquadrada tendo em conta um processo interno de desmistificação daquilo que está, de certo modo, mistificado. E o PS - este PS - vive, nos tempos que correm, nesta espécie de limbo narcisista (mistificador). Tem um líder que é primeiro-ministro de um governo maioritário, o primeiro na história do partido.
Nesta contextura, deveria o PS marcar a diferença em relação ao seu antecessor no governo (o PSD). Mas não. Com efeito, o partido socialista decalca o mesmo caminho do PSD de Cavaco: deixa de existir. Exemplo disso é o olhar que podemos lançar para o confrangedor grupo parlamentar (aí, onde o partido verdadeiramente existe, ou deveria existir...) e depressa notamos que o grupo de deputados que compõem a maioria parlamentar não são mais do que meros títeres do governo.
Por isso, as palavras de José Sócrates na FAUL são meras palavras vazias de sentido.

segunda-feira, março 24, 2008

o fisco e os noivos

O simples facto destes senhores das finanças se lembrarem de enormidades tamanhas, como aquela de promover os noivos a fiscais dos impostos no dia do próprio casamento, obrigando-os a comunicar, ao respectivo departamento de finanças da zona, sobre outras eventuais celebrações que possam decorrer, nesse mesmo dia (ou nessa mesma tarde ou manhã), no local onde o seu casamento está sendo realizado, ou se o vestido de noiva foi oferecido por este ou por aquele e quanto é que custou, ou mesmo quantas pessoas é que foram convidadas para a cerimónia, é revelador dum estado preocupante em que a nossa democracia se encontra.
Parece que um Secretário de Estado das Finanças já admitiu que pode ter havido excesso de zelo nalgumas questões. Fica-lhe bem. No entanto, mantém-se a desvirtude desta proposta que é a de originar um clima de bufaria geral.
É evidente que ninguém está contra a obrigatoriedade de apresentação, por parte das entidades que fornecem serviços, dos recibos que justificam os diversos enquadramentos contratuais. O que está aqui em causa extravasa em muito meras formalidades tributárias e fiscais. Na verdade, ninguém tem que saber quem ofereceu o vestido, nem quanto custou, nem ninguém deve ser obrigado a atitudes persecutórias.
Mesmo que, como decerto alguém do governo justificará, isso se passe lá para os lados das Noruegas...

sábado, março 22, 2008

as áreas curriculares não disciplinares e o caso do telemóvel

Importa, de uma vez por todas, definir, com objectividade pedagógica, a importância das chamadas disciplinas das áreas curriculares não disciplinares. Neste sentido, convém lembrar que a famosa turma do 9 C, da Escola Secundária Carolina Michaëlis, comporta, na sua vivência escolar, nada mais do que 5 anos de Formação Cívica, Área de Projecto e Estudo Acompanhado, com uma média de 4 horas semanais.
O que aconteceu naquela sala de aulas deve, antes de mais, fazer pensar os extraordinários mentores que as chamadas Ciências da Educação têm vindo a produzir, ao longo destes anos, e que originaram as obtusidades pedagógicas que são estas disciplinas, as quais - há que dizê-lo com toda a clareza - roubam tempo lectivo a disciplinas com muito maior relevância social, cognitiva, cultural e psicológica.

sexta-feira, março 21, 2008

obsessão legisladora


O Expresso traz hoje, na página 5, um artigo - "sopa de letras" - que glosa a paranóia que, sistematicamente, sobrevoa a cabeça dos nossos governantes. Resume-se o texto à afirmação que em Portugal "legisla-se demasiado e com textos muito longos". É verdade. Mais grave do que a própria vertente legislativa, que se vê também nas mais diversas instituições (alguém já se deu ao trabalho, por exemplo, de ler o Regulamento Interno de uma qualquer escola?), é o desentendimento do próprio texto. Deixo aqui um exemplo que António Barreto descortinou e que publicou no Público em 7/10/2007. O título é convidativo: "um naco de prosa".

ainda o telemóvel da aluna

Manuel António Pina acerta hoje, na sua crónica do Jornal de Notícias, quando, com um sentido conclusivo, interroga indirectamente a equipa do ministério da educação: "Seria interessante ver como (com que leis ou com que Estatuto do Aluno ou da Carreira Docente) reagiriam a ministra e os seus secretários de Estado na situação da professora da Escola Carolina Michaëlis".
Com efeito, a causa educativa tem que começar a ser encarada desta maneira, isto é, colocando questões que só aparentemente são demagógicas. Aparentemente, repito, pois o quotidiano escolar - aquele que realmente interessa, ou seja, o interior duma sala de aula - é, infelizmente, cada vez mais igual ao que se passou no antigo liceu Carolina Michaëlis.

quinta-feira, março 20, 2008

a professora, a aluna e o telemóvel (2)

Estive a ver o filme outra vez. A aluna conseguiu ficar com o telemóvel!

a censura social do presidente do conselho de escolas

Muito interessante foi a resposta do presidente do conselho de escolas relativamente à apreensão do telemóvel duma aluna da Escola Secundária Carolina Michaëlis, no Porto. Com efeito, Álvaro Almeida dos Santos salientou que existe um "conjunto de medidas sancionatórias que podem ser aplicadas", adiantando, no entanto, que "neste caso concreto, a censura social que foi criada em torno da actuação dos alunos já é, por si só, uma medida pesada".
Não sei o que Álvaro Almeida entende por censura social, mas o que eu vi, na televisão, foi um número de entretenimento que a maior parte dos alunos de uma turma de 9º ano realizou (o verbo "realizar" tem, aqui, um fundamento cinematográfico).

a professora, a aluna e o telemóvel (1)

Estava no restaurante quando um telejornal abriu com a notícia da confiscação, por parte duma professora de francês de uma turma de 9º ano, do telemóvel de uma aluna. Ao meu lado, os comensais, entre as garfadas na vitela e o olhar desafeiçoado na televisão, comentavam, espaçadamente, o que viam. Retenho, ainda assim, uma frase de uma mesa de família, entre alguns risos voluntariosos: "a professora quer o telemóvel e a aluna não o quer dar".
Fica assim objectivamente explicada a questiúncula que teve honras de abertura de um jornal televisivo entre um telemóvel, uma aluna de 9º ano e uma professora de francês.

aznar e o iraque

José María Aznar, ex-presidente do governo espanhol e um dos que iniciaram a escalada da guerra no Iraque, referiu que, se fosse hoje, voltaria a apoiar a intervenção militar neste país, argumentando que hoje o mundo está melhor sem Saddam. Eu também concordo que o mundo está melhor sem o ditador iraquiano, mas não podemos afirmar tão peremptoriamente que esse mesmo mundo está hoje melhor do que há cinco anos atrás. O que é algo objectivamente diferente.

fim da gestão privada nos hospitais

O governa baralha e volta a dar. Agora colocou fim à gestão privada dos hospitais, depois do hospital Amadora-Sintra ter sido apresentado como um modelo de gestão. Descobriram, agora, que a gestão pública pode fazer igual ou melhor que a privada. Uma opção claramente de esquerda, mas que José Sócrates não fez uma mea culpa da teimosia inicialmente seguida. Do mesmo modo, não referiu que, neste ponto, fez aquilo que o Partido Comunista desde sempre proclamou.

taxas moderadoras

O primeiro-ministro anunciou ontem a redução para 50% das taxas moderadoras. Esta medida direcciona-se exclusivamente para os idosos com mais de 65 anos (Santana Lopes - e bem - fez questão de lembrar a José Sócrates que 80% dos idosos com mais de 65 anos já se encontram isentos do pagamento de taxas moderadoras por receberem pensões menores que o valor do salário mínimo nacional, actualmente de 426 euros). Deste modo, é de fácil percepção que somente um número muito pequeno de reformados irá usufruir desta benesse.
Ora questionado, à saída do debate quinzenal, sobre a razão por que não extinguia os 50% restantes, José Sócrates foi igual a si próprio na resposta: não queria dar um sinal de habitualidade excessiva, isto é, os idosos devem deslocar-se às urgências somente em casos urgentes.
É bom termos alguém a zelar, assim, por nós. Os nossos idosos pensionistas podem, portanto, dormir mais descansados.

terça-feira, março 18, 2008

proença de carvalho pede maioria absoluta para o ps

Acho muito interessantes estas figuras, tradicionalmente localizadas à direita do PS, virem agora prestar vassalagem ao PS de José Sócrates. Miguel Júdice, por exemplo, é uma delas.
O último foi Daniel Proença de Carvalho que afirmou, categórico, que Sócrates e o Partido Socialista merecem uma nova maioria absoluta. Adianta também que "neste momento eu penso que o PSD não tem uma estratégia, nem um programa alternativo, nem a credibilidade que dê aos seus eleitores uma esperança de chegar ao poder”. E diz muito bem o ilustre advogado: "neste momento".
O que verdadeiramente impressiona, nestas camuflagens ideológicas, é a incapacidade destas pessoas lutarem por uma alternativa credível no seio da sua área ideológico-partidária (alternativa no sentido de combate de ideias, e não impreterivelmente um assalto à liderança). Até porque estas tomadas de posição voltam-se contra eles próprios, isto é, reforça o poder de Menezes dentro deste PSD acabrunhante, com o tão proclamado apoio das bases.
Por outro lado, estas emigrações enfraquecem igualmente o PS, pois paulatinamente este partido aproxima-se duma área que nem é carne nem é peixe e que, por isso mesmo, se comuta em carne e peixe. E este cenário, para o Partido Socialista (o tal partido de Mário Soares e de Salgado Zenha que Santos Silva, no outro dia, nervoso, aclamava), torna-se ainda mais nefasto do que para o PSD, pois a sua vertente ideológica é muito mais pronunciada.
Esperemos, pois, que tudo se clarifique, em nome duma continuação saudável das diferenças.

(publicado no jornal Público no dia 21/03/2008).

segunda-feira, março 17, 2008

um título emprestado

Peço emprestado um inspirado título ao autor do blogue cantigueiro: Milhares de portugueses querem correr com Sócrates. Há aqui naturalmente uma inversão semântica, mas também é verdade que ficamos sem saber se foram os milhares de portugueses que correram com Sócrates, ou se foi Sócrates que correu com os milhares de portugueses. Eu inclino-me mais para esta última hipótese, até porque Sócrates, neste momento, precisa de correr muito mais com os portugueses.

o editorial de henrique monteiro

"Números sobre a educação que o vão espantar" é o título com que Henrique Monteiro, director do Expresso, encimou o seu habitual artigo de opinião no jornal que dirige. A frase, inusualmente longa para um título, reflecte, desde logo, o posicionamento tendencial do autor relativamente às diferentes partes na presente contextura educacional.
Acontece que, como é habitual nestes comentadores, de educação falam pouco ou mesmo nada. Na verdade, Henrique Monteiro não fez mais do que cotejar os cansados números de investimento de cada país em relação ao respectivo PIB. No entanto, ainda conseguiu ter um acesso de bom senso quando indiciou que, dos países citados, só a República Checa, a Eslováquia e a Grécia podem ser comparáveis a Portugal, devido à semelhança dos seus PIB's.
Continuam, pois, com números. Vivemos uma verdadeira obsessão numérica.
Educação não é isto (eventualmente, até se poderia fazer melhor com menos dinheiro).
No entanto, já que Henrique Monteiro tem também esta queda para números, seria bom que iniciasse uma aritmética comparativa de quanto é que cada um destes países desembolsou, percentualmente, tendo em conta o seu PIB, não durante estes últimos dois ou três anos, mas durante todo o século XX. É assim que estas contas devem ser feitas, pois quando se fala em educação, a perspectiva nunca pode ser sincrónica. De qualquer maneira, convém sempre sublinhar: devemos olhar muito mais para a pedagogia e a didáctica e muito menos para processos administrativos, numéricos e burocráticos. É isto que esta gente não entende.

domingo, março 16, 2008

5 anos de iraque

Passaram cinco anos sobre a cimeira do Açores. Relembro os intervenientes, por ordem de importância: Bush, Blair, Aznar e Barroso. Passados estes cinco anos, duas destas quatro personagens enriquecem com conferências e empregos bem remunerados, outro é presidente da Comissão Europeia e Bush, apesar de tudo, é o mais acossado e vai sair sem glória da presidência dos EUA. A política é como é e tem o que merece. O problema é que, como alguém um dia disse, ela é demasiado importante para ser deixada exclusivamente aos políticos. E o desastre atroz do Iraque é uma das provas dessa verdade.

miguel sousa tavares no expresso

Escrever como Miguel Sousa Tavares o tem feito nos últimos tempos não é mais do que um mero exercício de expressão emocional. Ali não há um pingo de equanimidade nem - muito menos - de racionalidade.
O jornalista escolhe um ou dois odiozitos de estimação, emprega uns adjectivozitos com alguma empatia popular, elege panegiricamente outros tantos e lá vai ele discorrendo, ao sabor das suas entranhas neurasténicas cada vez mais prenunciadas.
Acontece que este quadro mental está esticado quase ao máximo, como se viu esta semana ao defender a atitude do ministro Santos Silva em Chaves.
Entretanto, gostava que alguém me respondesse: qual o problema das pessoas se manifestarem à porta dos partidos políticos? (pode ser que M. S. T. me responda).

escolas não aceitam alunos

Segundo o Jornal de Notícias, as escolas de Santa Maria da Feira não estão aceitar uma turma no âmbito do Programa Integrado de Educação e Formação (PIEF), a qual espera há um ano para iniciar o (seu) ano lectivo. Para quem não saiba, as turmas PIEF são compostas por jovens em risco de exclusão social que abandonaram precocemente a escola. Representam, assim, uma espécie de grau zero do nosso sistema educativo. As escolas não os querem. Lá terão as suas razões.

sexta-feira, março 14, 2008

há festa no sábado

No sábado, no Porto, vai haver festa. De um lado, as vénias apologéticas a comemorar os três anos de governo socialista, numa demonstração de apoio ao líder, à boa maneira dos estados fascistas do século XX (peço desculpa, mas é à boa maneira dos estados fascistas do século XX). Do outro, um grupo de manifestantes que tem um propósito contrário: fazer com que o laudatório comício do partido socialista fique aquém das expectativas.
O que eu acho efectivamente mau, no meio de tudo isto, é o copy paste que aqueles que gravitam em redor do líder fazem das suas declarações. Coube desta vez a Renato Sampaio, presidente da distrital do PS/Porto, as seguintes declarações: "uma manifestação convocada anonimamente com o objectivo de condicionar os socialistas é mais uma demonstração de práticas antidemocráticas".
Não é nada, sr. Renato Sampaio. As pessoas, em democracia, podem-se fazer ouvir onde quer que seja, salvaguardadas, obviamente, algumas excepções. Seja à porta dos partidos (não vejo, aliás, melhor lugar para expressar tendências sociopolíticas), seja como contraponto a manifestações do tipo que o PS preconiza para amanhã.
(Isto de maiorias absolutas dá nisto: um Partido Socialista com este argumentário não é bem um partido socialista...).

quinta-feira, março 13, 2008

vitalino canas

Vitalino Canas saiu-se com esta, após uma reunião da Comissão Política, que fez um balanço dos três anos do executivo: "foram tantas as coisas que fizemos bem, que não temos de perder tempo com o que fizermos mal". Não sei se Canas estaria meio sonolento com as "altas horas" em que terminou a reunião, mas sei que declarações destas não se fazem sem que o manto do ridículo se sobreponha a tudo o resto. Deste modo, a reunião da Comissão política do PS que seria suposto analisar criticamente os três aos de governo, afunilou-se numas declarações tontas do porta-voz do Partido Socialista.

o psd profundo

A antiga ministra das finanças, Manuel Ferreira Leite, apareceu em defesa de Rui Rio e António Capucho, com os profundos argumentos de que "o partido não pode dar-se ao luxo de dispensar uma pessoa com o estatuto, com a história, com o peso na sociedade que tem o António Capucho, [nem] pode dar-se ao luxo de desrespeitar um militante do nível do Rui Rio".
Ora foi este elitismo acaçapado que fez com que Luís Filipe Menezes ganhasse as tão proclamadas bases e que o ampliou a do partido. Rui Rio e António Capucho (entre outros) não devem "andar por aí" numa tentativa de massacre continuado e muitas vezes desproporcionado ao líder. Como muito bem salientou Mota Amaral, "Menezes tem legitimidade para promover mudanças dentro do PSD", e que os militantes devem "ser saudavelmente conflituais sem ultrapassar os limites", adiantando ainda que há órgãos próprios para dirimir panoramas de conflituosidade.
Eu entendo que não deve ser fácil espreitar para dentro do PSD nos dias que correm, ainda para mais quando, na política doméstica, tudo se torna possível, como se viu na inusitada promoção de Santana Lopes a primeiro-ministro de Portugal. Mas também é verdade que as chamadas bases dum partido tão popular (agora muitas vezes populista), não gostam de pessoas que agem de forma desinstitucionalizada, com o triste e simples intuito de deseleger quem foi democraticamente eleito.

as visitas de estudo e o paradigma virtual da inclusão

De uma maneira genérica, as visitas de estudo que as escolas organizam para os seus alunos contemplam "prioridades como a obrigatoriedade do aluno levar comida (para um piquenique) e também dinheiro para as despesas. Um exemplo duma escola do 2º ciclo que poderia alongar-se às restantes:
  • transporte: 6 euros;
  • Museu dos Carros Eléctricos: 1.50 euros;
  • Museu da Comunicação: 3 euros;
  • total: 10.50 euros.

Deste modo, importa questionar: onde se visiona aqui a escola inclusa? Será que as pessoas que organizam estas viagens/visitas de estudo - com estes parâmetros - não saberão que a exclusão se inicia logo no momento em que os professores distribuem os papéis para os encarregados de educação assinarem?

(uma nota: há visitas de estudo de 9º ano, em escolas públicas, que preconizam viagens a Londres, "exigindo" aos alunos 80 euros.)

quarta-feira, março 12, 2008

adiamento da avaliação

Leio nos jornais que o ministério da educação acedeu no sentido de que as escolas que não consigam cumprir os prazos inicialmente propostos, possam reformular esses mesmos prazos. Muito bem! Mas convém lembrar que o mais importante a respeito da avaliação dos professores não é os prazos: são as obstinadas e impróprias disposições pseudo-estruturantes que fazem com que um processo potencialmente simples se transfigurasse em postulações aberrantes.

o regresso do diálogo

O título revela meia verdade. É certo que este governo optou, nos últimos dias, por uma reviravolta estratégica: discute agora - de forma mais "comunicativa" (mediática) - os dossiês complicados com os respectivos parceiros sociais. Por outro lado, também é certo que Sócrates nunca revelou grande propensão para o diálogo. Por isso, não é completamente adequado qualificar esta propensão dialogante do ministério como que se de um retorno se tratasse.
De qualquer maneira, temos agora a ministra da saúde e a repescada ministra da educação em clima dialogante. Afinal, é sinal que a tão proclamada "rua" ainda faz sentido neste Portugal aparentemente normalizado e longe já dos anos turbulentos da pós revolução, em que se ganhava (ou perdia) através do número de pessoas que cada partido conseguia ajuntar nos comícios.
Assim, em Anadia, as urgências vão reabrir. "Estarei sempre disponível para esse diálogo ["com as autarquias, com as comunidades, com as pessoas"], em nome da necessidade de explicar medidas e encontrar alternativas", reflectiu, no Parlamento, Ana Jorge. Pois bem, é realmente através do diálogo que tudo se resolve. Foi assim desde sempre. Só é pena descobrirem tudo, às vezes, um pouco tarde.

terça-feira, março 11, 2008

o psd

"Lavagem de capitais" foi a expressão que Rui Rio usou para caracterizar o novo regulamento de quotas, aprovado pelo Conselho Nacional deste partido. Por outro lado, António Capucho, um ex-secretário-geral, ameaça com o abandono da liderança da secção de Cascais (a sua declaração primeira indiciava um abandono do partido). Rio foi já chamado ao partido. Outros a ele se seguirão; Ribau Esteves, actual secretário-geral, já aceitou a demissão de Capucho, aproveitando para "agradecer os serviços prestados".
Menezes tem aqui uma oportunidade de se afirmar, finalmente. Seria isso que esperava?

artigo de emidio rangel no correio da manha

Vale a pena ler o artigo de opinião que Emídio Rangel elaborou (a custo, nota-se), na edição de sábado do Correio da Manhã (8-3-2008), a respeito da manifestação dos professores.
E vale a pena não por que Emídio Rangel diga alguma coisa de jeito (exercício de paciência), mas antes por que o artigo serve de paradigma a respeito do debate que se desenvolve na nossa sociedade a respeito desta reivindicação sectorial.
O que o ex-director da TSF faz não é mais do que um exercício de controlo de emoções. Na verdade, não se vislumbra um único ponto em que a racionalidade argumentativa prevaleça mediante o insulto fácil e brejeiro. É com este sentido aclarado que considera os professores de "travestidos de operários da Lisnave" e Maria de Lurdes Rodrigues como uma "ministra sábia, tranquila, dialogante, que fala com uma clareza tal que só os inúmeros boatos, a manipulação e a leitura distorcida do que propõe podem beliscar o que de boa-fé pretende para Portugal."
E por aí adiante. Uma verdadeira peça de jornalismo num estilo porventura um tanto dementado, mas que é, ainda, capaz de alguns esgares humorísticos (ou será que não era para rir?!...).

monarquia ou república

Nos Prós e Contras decorre um debate interessantíssimo sobre a qualidade de dois regimes possíveis: a monarquia e a república. Tendo em conta que a instauração do regime republicano vai comemorar cem anos em 2010, verificamos que este espaço temporal, numa linha diacrónica dum povo como Portugal (uma velha nação), não é senão um decurso episódico que está em permanente concretização.

domingo, março 09, 2008

a avaliação dos professores

Uma verdade nunca dita: até agora, os professores sempre foram avaliados, isto é, sempre houve um processo de avaliação de professores. É verdade que o processo de avaliação nunca foi exemplo de rigor e de justiça. No entanto, não é admissível deixar desenvolver-se uma mentira em que é sublinhado que a classe profissional dos professores é a única do serviço público que não se sujeita a um processo de avaliação.
Conseguintemente, o facto de se afirmar a ausência duma avaliação, faz com que se esqueça os pontos sobre os quais incide o processo (actual) da avaliação dos professores. São eles os seguintes, divididos pela componente lectiva e pela componente não lectiva:
  1. Realização de trabalho a nível individual;
  2. Prestação de trabalho a nível do estabelecimento de ensino;
  3. Cargos Desempenhados;
  4. Desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem (englobando também as áreas curriculares não disciplinares e o processo de acompanhamento dos alunos);
  5. Participação em actividades desenvolvidas no âmbito da comunidade educativa;
  6. Formação acrescida;
  7. Assiduidade.

Ora não é difícil perceber que todos estes parâmetros chegavam para edificar, concludente e satisfatoriamente, um processo de avaliação dos professores equilibrado e justo. Bastaria que houvesse simplesmente boa vontade (menos teimosia e disparates pseudopedagógicos) e objectividade por parte dos órgãos executivos das escolas.

os argumentos da ministra

São extraordinários os argumentos aventados pela Ministra da Educação para justificar a sua suposta operacionalidade no ministério. Afirmar que o elevado número de professores na manifestação "não é relevante", ou que "desistir tem sido a prática comum ao menor protesto, à menor insatisfação" e que "o país não tem escolha", revela um perfil desapropriado, incoerente com o que se pretende de um ministro com uma pasta tão sensível como a da educação. Na verdade, Maria de Lurdes Rodrigues, com estas afirmações, não revela absolutamente nada, isto é, não desenha alternativas para os pontos mais críticos da avaliação dos professores. Mas também não é só a avaliação que está em causa - convém nunca esquecer este dado -, pois a manifestação foi o culminar de uma insatisfação que começou a emergir quando, burocraticamente, esta equipa se lembrou de dividir artificial e injustamente os professores, com a invenção forçada dos professores titulares.

sábado, março 08, 2008

o "day after" da manifestação de professores (e o psd)

Vale a pena ler o que Pacheco Pereira escreveu sobre a manifestação de professores, designadamente quando se debruça sobre uma hipotética continuação dos protestos. Haverá sinergia suficiente?
Pacheco Pereira também deixa na atmosfera política a seguinte interpelação: haverá PSD para ombrear em 2009 com José Sócrates e o governo PS?
Eu posso arriscar uma resposta: a continuar assim, o PSD pode desaparecer do mapa político (iniciou uma vacuidade total com Santana Lopes) o que, diga-se desde já, não é também drama algum (naturalmente, haverá sempre sentimentalismos oportunos...). Os partidos nascem e morrem. No Portugal republicano (só para ficar por aqui) já nasceram e morreram vários partidos. É isto que acontece quando não se adaptam a uma sociedade em mudança (o que não é o caso do PSD), ou quando se inicia um processo de implosão no seu interior (o que, manifestamente, é já paradigmático nestepartido).

augusto santos silva e as declarações em chaves

O que se tem vindo a provar é que a maior parte dos membros deste governo (Maria de Lurdes Rodrigues é uma aparente excepção) não lidam bem com contestações inesperadas. Outro aspecto curioso é a justificação que dão a respeito das mesmas: o PCP isto, o PCP aquilo... Aliás, desde que me lembro, este partido foi sempre o bode expiatório para as manifestações políticas de contestação aos vários governos finesseculares e princípios deste novo século. Penso que o PCP agradece estas amabilidades. Retribuíram-na com uma manifestação efectivamente organizada pelo Partido Comunista e que conseguui aglomerar 50 mil pessoas.
Outra ilação interessante a tirar das declarações (extraordinárias) de Santos Silvas foi a de motivar Luís Filipe Menezes ao ponto de afirmar que aquele não tem "credibilidade nenhuma". Onde nós chegámos!

tudo errado

Parece-me incrível, completamente desproporcinado, que um jornalista como Fenando Madrinha recorra sistematicamente no mesmo erro de análise em relativamente à luta que os professores têm vindo a travar. O que os comentadores em geral revelam nomeio deste imbróglio educativo e contestatário é um menosprezo por uma classe que eles olham com ares de superioridade eventualmente moral, mas seguramente instrutiva (os professores, aqui - deve-se sublinhar - têm tido culpa ao longo destes anos de abulismo crítico...). O caso de Fernando Mdrinha é paradigmático:
O título do artigo elucida: "A reboque do PCP". Poderia ser escrito por Augusto Santos Silva, mas Fernando Madrinha poupou-lhe o trabalho. Insinuar que o PCP está por detrás deste tipo de manifestações é um completo disparate, ainda para mais quando FM ajuiza que as escolas "são talvez o mais firme reduto das esquerdas" (!). Na verdade, afirmações como a que FM esboça no seu artigo de que "professores ou não professores, comunistas ou não comunistas, os manifestantes desta tarde vêm protestar contra o Governo e já não contra este decreto do Ministério da Educação", são reveladoreas do posicionamento faccioso do autor.
Os professores que se manifestaram nesta tarde fizeram-no contra a política do Ministério da Educação e não contra a política do Governo em geral. Os macro protestos devem ficar a cargo dos partidos políticos. E hoje, apesar do posicionamento empático da oposição, quem esteve na rua foram somente professores. Por muito que FM não queira ver ou que lhe custe notar.

sexta-feira, março 07, 2008

menezes e o portugal paralisado

Ainda em relação ao post de ontem, devemos acrescentar que, apesar do ataque de consciência política e pessoal de Menezes, vivemos num país desgovernado, paralisado, em que, por um lado - e segundo Luís Filipe Menezes - o PS "já não não tem condições para estar à frente do governo"; por outro lado, o "PSD ainda não merece [mas vai merecer] ser Governo".
É uma grande complicação!

maria de lurdes rodrigues

Afirmar que a manifestação de professores que amanhã será apresentada em Lisboa está partidarizada é uma verdadeira patetice. Por duas razões:
A primeira diz respeito à própria essência da política. Por isso, é óbvio que a manifestação está partidarizada. E ainda bem! Os partidos existem para representar a sociedade civil. Se eu fosse líder de algum partido da oposição e não concordasse com a política deste ministério, a minha obrigação seria precisamente partidarizar (também) esta questão, a qual é, aliás, transversal à sociedade.
A segunda razão tem a ver com o conhecimento que a ministra revela da classe docente. É que se existe classe profissional em que existe efectivamente uma apartidarização (ou mesmo uma perspectiva apolítica do modo de encarar a "coisa pública") é precisamente a dos professores.
Mas, pelos vistos, vislumbra-se, a este nível, uma mudança positiva. E tudo por vontade (mas aqui inconsciente) da Maria de Lurdes Rodrigues.

ana gomes



Vale a pena ler a entrevista que a eurodeputada Ana Gomes concedeu esta quinta-feira, dia 7 de Março, à revista Visão. Para quem é tradicionalmente ingénuo e acredita na boa formação dos governantes e dos políticos em geral, aconselho, no entanto, a não o fazer, pois pode facilmente, ter uma espécie de colapso ético (ou até cardíaco...). Na verdade, segundo se pode depreender das palavras de Ana Gomes, vivemos num país em que a corrupção, ao nível das classes dirigentes (partidos políticos, governo, oposição...) é a chave-mestra para se chegar a determinados objectivos... pessoais. Todos vivem num constante rodopio de interesses, em que se camuflam uns aos outros, com silêncios algumas vezes intriguistas, mas – a maior parte das vezes – cúmplices (em alguns casos) de ilegalidades processuais e imoralidades recorrentes. Palavras para quê?... O convite permanece. Basta clicar.

quinta-feira, março 06, 2008

psd não merece ainda estar no governo

Ficamos todos mais descansados com a atitude aparentemente lúcida de Luís Filpe Menezes, quando aferiu o resultado da sua própria liderança, ao afirmar que "gostaria que o PSD estivesse à frente nas sondagens mas isso não seria compatível com aquilo que merecemos. Nós ainda não merecemos estar claramente à frente do PS nas sondagens. Estamos a fazer o nosso trabalho. Mas ainda temos que fazer por merecer".
Foi um consciencioso ataque de lucidez por parte do líder do PSD.

quarta-feira, março 05, 2008

há sempre um ludgero leote

O que faz um professor, que é assumidamente contra o processo de avaliação de professores, ter aceite o convite para pertencer ao conselho científico para avaliação de professores? É o próprio (de seu nome Ludgero Leote, professor de electrotecnia e electrónica), que diz que o "novo sistema é autoritário (...) e isso terá influência na avaliação", e que o "sistema de avaliação foi introduzido sem discussão, nem reflexão, e as pessoas que vão fazer avaliação precisam de formação específica, que não foi feita" (DN).
Será que vamos ter, no seio desta comissão que ainda não sabemos muito bem o que vai ser, uma espécie de terrorista ideológico?

terça-feira, março 04, 2008

vital moreira e Correia de Campos

Mais uma do incontornável Vital Moreira, agora num elogio desassombrado a Correia de Campos, ao proclamar que se perdeu "um bom ministro da saúde, ganhou-se um bom colunista". Tudo por causa dum artigo que o "bom ministro" (ou será "bom colunista"?) escreveu no Diário Económico, elogiando a política e o carácter da (adivinhem...) ministra da educação. Correia de Campos tem pérolas retóricas deste tipo (os itálicos são da minha inteira responsabilidade):
"Veterano de quatro Prós e Contras [comunicação, a quanto obrigas!...] não consigo evitar a comparação entre os defensores da anti-reforma, na Educação e na Saúde. São várias as diferenças: os participantes na Educação foram no geral bastante mais agressivos, menos racionais, mais demagógicos, mais organizados fisicamente, mas bastante menos argutos que aqueles que habitualmente defrontávamos. Fáceis de liquefazer, mesmo no “número” das sentenças, quando a ministra desfez com uma só frase a credibilidade do simultaneamente arauto e actor. Dei por mim a tentar perceber o porquê das diferenças. Só encontro uma explicação. A oposição às reformas educativas é “sindicalismo em estado puro”, com pretensa “superioridade moral”. Mas o que parece uma força é, na verdade, uma fraqueza. Trata-se de uma impossibilidade material: como é possível estar contra as aulas de substituição ou mascarar essa oposição inicial com a posterior reivindicação de as tolerar desde que pagas em horas extraordinárias? Como é possível ser contra a avaliação, ou apenas contra a sua complexidade, ignorando o rigor e a qualidade que devem ser colocados em cada julgamento? Como é possível ser contra a hierarquia docente, assente em critérios objectivos, com o argumento de que a selecção não foi perfeita, terá deixado alguns de fora, ou deva ainda ser corrigida? Porventura ficou fechada a porta do aperfeiçoamento das soluções? Como é possível ser contra a direcção unipessoal das escolas, com base em planos, programas e órgãos consultivos de representação comunitária, com o vetusto argumento da alegada “gestão democrática das escolas”? Em que século vivem os opositores das reformas na Educação? Terão eles pensado no dia seguinte? Falhado que sempre será o seu objectivo de levar a ministra à demissão, cumprido o calendário das manifestações com ou sem SMS convocatório, enrolados os cartazes plastificados que viajam de norte a sul, que mais lhes restará? Não pensaram na erosão das respectivas posições negociais, no respeito pelos cidadãos que a todos nos sustentam, no triste exemplo educativo para os jovens? Não, não foi tempo perdido. Por mim, que só de longe acompanhei estes meses de discórdia, bem como para milhares de portugueses, foi útil observar este novo conservadorismo de pequenos interesses e evanescentes micro-poderes. Há muitos professores desmoralizados? Não sei. Mas haverá sempre muitos mais, velhos e novos, dispostos a aceitar a diversidade, a aprender para melhor levar a aprender, prontos para a aventura da mudança a favor do progresso. Há certamente muitos mais professores Arsélios do que se possa pensar".
Gostei do conjunto emocionado das interrogações retóricas. Ao lê-las, a minha vontade verdadeira foi pegar no telefone, telefonar a Correia de Campos e pedir-lhe perdão - em meu nome e quiçá em nome de todos os portugueses -, por ter sido alvo de campanhas tão miseráveis por pessoas que, apesar de tudo, não foram assim tão "fáceis de liquefazer".
Não sei, sinceramente, o que povoa a cabeça de Vital Moreira. Bom senso e racionalidade interpretativa não são, de certeza.

antónio vitorino e a demissão da ministra

António Vitorino afirma que a demissão da ministra da educação seria "uma derrota para o governo" (Notas Soltas, RTP). Impõem-se, assim, duas perguntas: desde quando é que uma mudança, um recuo nas políticas de determinado ministério é uma derrota para o governo? Não será antes um sinal de inteligência, de maturidade política? Na verdade, estas declarações não fazem mais do que proclamar uma predominância partidária sobre o governo da República.

segunda-feira, março 03, 2008

desajustamentos curriculares

Ouvi esta expressão no programa Prós e Contras. Já aqui escrevi, embora muito suavemente, sobre o tema. Quero voltar, mais tarde, a ele. Deixo, no entanto, um ponto de partida: o currículo do 2º ciclo, que é, a meu ver ,onde começa todo este descalabro pedagógico.
Cabe na cabeça de alguém que alunos deste nível de ensino operem, numa sala de aulas, durante 4 horas por semana, em disciplinas tão "diferenciadas" (atenção às aspas) como Ensino Acompanhado, Formação Cívica e Área de Projecto? Não haveria outra forma - por exemplo, a inserção de uma segunda língua estrangeira, reforço da língua materna, etc. - de desenhar o currículo deste nível de ensino? E o meio bloco (45 minutos) à disciplina de Educação Física? É lógico? Qual o interesse, ou melhor, que interesses é que satisfazem?... E as turmas de 27 e 28 alunos neste nível? São exequíveis?
Não. Não e não!

afinal, não vem à televisão

Em relação ao post anterior, quero esclarecer que toda a publicidade em volta do programa Prós e Contras induzia a um entendimento enganador e que passava pela presença da ministra no programa. De qualquer maneira, ela por lá pairará...

ministra outra vez na televisão

A ministra da educação vai outra vez (hoje) ao programa Prós e Contras?! Não sei quem é que a anda lá pelo ministério a aconselhá-la. Provavelmente, alguma agência de comunicação. Estas aparições mediáticas têm um não sei quê de vertiginoso. Mau prenúncio... Para ela.

vital moreira e os (seus) cálculos da reforma educativa

Escrevi aqui um post relativamente aos aliados de Maria Lurdes Rodrigues. Esqueci-me (imperdoável) de Vital Moreira. No entanto, ele hoje fez com que me redimisse dessa minha falha ao escrever, em Causa Nossa, um post manifestando o seu empenhamento proactivo na distinção das políticas reformistas do ministério da educação. É simplesmente mais um que desenvolve raciocínios panegíricos sobre a personagem. Vale a pena transcrevê-lo:
"Há quem tenha a ilusão de que uns milhares de professores na rua arrastam a demissão da ministra da educação. Não se dão conta de duas coisas elementares: (i) Maria de Lurdes Rodrigues já deu sobejas provas de que não se deixa impressionar pela contestação; (ii) Sócrates nunca poderia ceder aos protestos de uma classe profissional, ainda por cima sem apoios na população em geral.De resto, para além de justa em si mesma, a reforma da educação rende mais votos do que os que faz perder..."
O título do post não podia ser mais adequado e ilusoriamente realista: Ilusões.

domingo, março 02, 2008

discurso do discurso

O Presidente da República fala e, por norma, não é claro naquilo que diz. Naturalmente que esta ausência de objectividade comunicativa não se deve a alguma deficiência vocabular. Pelo contrário, tudo se resume a uma imprecisa (vaga) noção de que o que se quer transmitir não poder ser dito de forma facilmente inteligível. Por isso expressões como "serenidade", "sinais positivos", "superar as dificulades" se tornem numa espécie de obrigativo comunicacional de Cavaco.
Daí que se verifique, em muitos jornalistas, autênticas doses de contorcionismo interpretativo no sentido de clarificar a mensagem do Presidente da República. Foi o que se passou hoje com o editorial do DN com o infeliz título O discurso-oráculo de Cavaco Silva.

sábado, março 01, 2008

os aliados de lurdes rodrigues

Basta lermos com alguma atenção a imprensa generalista para facilmente descortinarmos que Maria de Lurdes Rodrigues, ministra da educação, conseguiu granjear - o que nem sempre é fácil - o apoio (importante) de muitos jornalistas, os quais, por serem justamente considerados bons jornalistas, adquirem, por vezes, pontos de vista incompreensivelmente irracionais. Curiosamente, todos eles (cito, rapidamente, três: Sousa Tavares, Fernando Madrinha e Henrique Monteiro) discorrem do alto de uma espécie de torre de marfim, em que o professor é alguém que claramente se encontra uns degraus abaixo desses seus castelos emoldurados (um exemplo que agora me ocorreu diz respeito ao problema da empregabilidade: estes três profissionais da imprensa escrita são unânimes no que consideram que as pessoas devem ter consciência que o emprego para toda a vida acabou. Logo eles que trabalham no mesmo emprego há vinte, trinta anos...).

Ora quando a defesa das suas teses adquire tons de alguma intolerância argumentativa, como a que podemos observar na coluna que Fernando Madrinha tem no Expresso, a discussão deixa de ser possível, pois os argumentos invocados não são mais do que expressões de estados de alma e estes, como obviamente se apreende, pouco valem no que concerne a uma discussão com conhecimento de causa. Basta olharmos para o que Fernando Madrinha diz de Maria de Lurdes Rodrigues:



  • "Explica-as [as políticas] com desarmante serenidade no meio da gritaria à sua volta, como se viu no Prós e Contras".

  • "Perante todos, a ministra respondeu com a segurança de quem age segundo a sua consciência e convicta da correcção das decisões que toma."

  • "O país não pode dar-se ao luxo de eliminar todos os que têm a coragem de tentar mudar o que está mal."
  • "o conjunto de iniciativas que tomou (...) são uma revolução no modo de encarar o trabalho na escola."
  • "ela rompeu com uma paz podre"
  • "[pessoas como] Ana Benavente ainda se permitam a desfaçatez de vir a público criticar a ministra."

A pergunta é óbvia: o que é que Fernando Madrinha acrescenta, com estes pontos de vista (legítimos, naturalmente) à discussão? Nada. Absolutamente nada.

maioria absoluta?!...

Pois é... a maioria dos portugueses (41,3%) até gostaria de ter, na próxima legislatura, um governo de maioria absoluta. Só que esta maioria deveria ser constituída por mais que um partido, preferencialmente dois. 33% prefere mesmo um governo de minoria. Eu insiro-me nestes últimos.
Na verdade, as duas únicas experiências de maioria monopartidária não foram, dum ponto de vista de uma salutar convivência democrática, aconselháveis. Com efeito, tanto José Sócrates como (principalmente) Cavaco Silva nunca foram capazes de olhar para o parlamento como um ponto de discussão onde tudo poderia ser motivo de redefinição estratégica (o âmbito das políticas europeias é, talvez, uma excepção que não faz mais do que confirmar a regra). Por isso, dentro do regime semipresidencialista que nos rege, em que o papel do Presidente da República potencia, de certo modo, determinados comportamentos obstativos ao funcionamento da própria democracia (pelo menos quando nos aparece um presidente que diz, projectando um sinal de "virtude", que não quer ser uma força de bloqueio para o governo, seja lá o que isso, numa óptica democrática, possa significar...), o monopartidarismo maioritário não nos convém. A não ser... A não ser que surja efectivamente um "força de bloqueio" o que, diga-se de passagem, é um cenário que actualmente não se revela propenso a acontecer, pois para se ser "força de bloqueio" num governo de maioria absoluta, tem que se ver, antes de tudo, a política verdadeiramente despida de constrangimentos hipócritas, do tipo o governo governa, o presidente pouco faz, isto é, anda (também) por aí, atento aos chamados dossiês políticos que supostamente possam ser considerados socialmente divisores.
O que se pede a um Presidente da República é, antes de tudo, que seja capaz de ler os sinais que a sociedade diariamente lhe transmite. Neste sentido, Jorge Sampaio foi desastroso com a anuência dada ao exraordinário governo de Santana Lopes. Cavaco Silva, infelizmente, não tem cultura política suficientemente cimentada para se constituir como uma verdadeira força de bloqueio. Para bem da Nação, pensarão muitos.

avaliação de desempenho - dimensão ética

Independentemente da grelha respeitante à dimensão ética (!) do professor estar ou não sujeita a uma aprovação por parte do Conselho Pedagógico do Agrupamento de Escolas Correia Mateus, em Leiria, a polémica é reveladora do modo como funciona a cabecinha de muitos conselhos executivos e do perigo que poderia advir duma autonomia escolar cada vez mais preeminente.
Tudo começou quando Francisco Louçã, no Parlamento, exigiu explicações a José Sócrates sobre critérios tão estranhos como "verbaliza a sua insatisfação/satisfação face às mudanças ocorridas no Sistema Educativo/na Escola através das críticas destrutivas potenciadoras de instabilidade no seio dos seus pares?” A ministra da educação salientou posteriormente que este tipo de item foi rejeitado pelo conselho pedagógico da escola, o que foi de imediato desmentido pelo presidente do agrupamento. A ministra, por sua vez, admitiu uma falha de comunicação (argumento recorrentíssimo nos dias que correm) salientando também que uma pergunta deste tipo não era de forma alguma aceitável (o que só lhe ficou bem). No entanto, o facto desta pergunta aparecer numa grelha que supostamente deveria avaliar a dimensão ética dum professor é, só por si, revelador duma certa hostilidade (ética) que começa, em primeiro lugar, nas cabeças da ministra e dos respectivos secretários de estado. Por isso, em certas personagens (e personalidades) que povoam as escolas básicas e secundárias, este tipo de orientação/comunicação verticalizada, é assimilada de um modo que objectivamente interfere no ambiente psico-pedagógico de outros agentes educativos, que - não por acaso - até são seus pares.
Na verdade, este ministério iniciou uma espiral de contestação que naturalmente vai ter consequências. Basta ouvir com atenção o Presidente da República e facilmente se verifica que o seu apoio a Maria de Lurdes Rodrigues está já no mesmo patamar com o que foi dado a Correia de Campos. E este já por cá não anda, ou melhor, anda por aí, que é a melhor maneira dele andar por cá.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...