terça-feira, agosto 31, 2010

a instabilidade presidencial

As eleições presidenciais que se avizinham serão uma amalgamação. Não saberemos quem é quem num contexto de crise política. Vejamos um dos argumentos de Alegre, pela boca de António Costa: Portugal não pode ter uma crise política, porém "tanto pode ocorrer com um desentendimento no Orçamento de Estado, como pelas más escolhas nas eleições presidenciais". Este raciocínio faz de Cavaco Silva aquilo que não é. Por sua vez, remete Alegre para aquilo que ele também não afigura ser. Por um lado, o atual Presidente da República é um homem de pouca coragem política, incapaz de rasgos visionários ou de leituras atentas da sociedade. As atarantadas comunicações ao país são, de certo modo, prova disso. Por outro lado, Manuel Alegre é um homem que, aparentemente, necessita de um certo protagonismo político, aquele que não teve ao longo da sua vida. Não é por acaso que foi no decorrer desta era socratiana que a sua voz de "a mim ninguém me cala" se fez mais audível. Existirão, portanto, nos próximos meses, palavreado e mentalismos vários. A mim, parecem-me poucos os candidatos.

sábado, agosto 28, 2010

estrada nacional 351

Inaugurar ums estrada nacional quando a mesma se encontra ativa há já dois meses é uma verdadeira redundância. José Sócrates fala, mais uma vez, das desigualdades ("reduzir as desigualdades": "eu sei bem a importância que esta obra tem para Proença e Oleiros", manifestou o primeiro-ministro para a imprensa). Sócrates já não consegue ir muito para além disto.

segunda-feira, agosto 23, 2010

a comunicação social e o futebol

Há pouco vi a TVI 24 infundir a classificação da primeira liga: depois dos três primeiros segui-se o oitavo (Sporting) para depois saltar para o antepenúltimo, o Benfica. Entre eles, o vazio, simbolizado com reticências. Se eu fosse adepto do Paços de Ferreira, por exemplo, sentir-me-ia injuriado.
Pensava que em Portugal havia uma coisa chamada ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social - cuja orientação primeira era a de levar a cabo uma fiscalização no sentido de se constituir em Portugal uma imprensa livre, democrática e equitativa. Pelos vistos, nada disto se passa.

domingo, agosto 22, 2010

última hora

O futebol é um espelho do país que somos. Quando um resultado de futebol preenche os telejornais televisivos, com notas de rodapé a piscar efusivamente a encarnado dando conta da derrota de um clube, isso quer dizer que as televisões - todas sem exceções - não merecem credibilidade alguma. A agravar tudo isto, a análise do resultado do jogo Nacional-Benfica, que os insulares ganharam, é verdadeiramente deplorável, vergonhosa, escandalosa. Não ouvi nem vi um único comentador enaltecer e analisar o jogo do Nacional. Nenhum deles disse que o Nacional foi melhor que o Benfica nisto e naquilo (aqueles termos técnicos que costumam demonstrar a probidade futebolística desta gente). A imparcialidade analítica revelada por estes idiotas deveria ser estudada nos cursos de jornalismo como exemplo maior de como se estrutura e edifica o mau jornalismo.

sábado, agosto 21, 2010

encerramento de escolas

Depressa se desfizeram os equívocos relacionados com o encerramento de duas escolas em Lisboa. António Costa, o presidente, remeteu logo um espumoso comunicado (será que interrompeu as férias?) para afirmar que em Lisboa não se encerravam escolas.
Esta resolução pseudopedagógica de extinguir as escolas com menos de 21 alunos (!) afigura-se de uma cobardia política extrema. Portugal, pequeno de dimensão, manifesta características próprias de países com áreas territoriais maiores e níveis de desenvolvimento menores (como, por exemplo, o Brasil) ao projetar, nos seus índices de desenvolvimento, realidades socioeconómicas distintas, com um interior cada vez mais amargurado e inexoravelmente perdido. Ao invés, o litoral apresenta-se como uma espécie de exportação permanente da imagem europeia do país. Não é por acaso que uma das prioridades do Governo, segundo a secretária de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades, Fernanda do Carmo, é a revitalização do litoral, através da reabilitação da frente de mar, a recuperação ambiental da zona envolvente e a requalificação do aglomerado urbano. São estes tipos de emergências nacionais que têm vindo paulatina e irremediavelmente a configurar o país que somos.
Neste processo de fecho de escolas, o que verdadeiramente deveria ter sido feito, em nome duma coesão nacional e de um desenvolvimento sustentado, era impulsionar uma migração para o interior. Com o que foi decidido, através duma política de gabinete de régua e esquadro e em nome de ridículas bases pedagógicas, o país afunda-se cada vez mais. Por mais voltas que se deem, o verdadeiro progresso de Portugal passa em muito por uma homogeneidade territorial nos seus diferentes índices de desenvolvimento. É que não basta proclamar, pacoviamente, que existe agora uma autoestrada da justiça (a tal transmontana). É preciso mais do que isso, muito mais. Sobretudo coragem, que é o que tem faltado a muitos governantes.

terça-feira, agosto 17, 2010

a reentré no pontal

A boçalidade de Mendes Bota, o chefe algarvio do PSD, foi delirantemente anedótica na apresentação de Passos Coelho. Como é que esta gente consegue, politicamente, chegar onde chega é que eu, verdadeiramente, não entendo.

segunda-feira, agosto 16, 2010

futebol: o regresso

Estamos de novo na onda futeboleira da primeira liga portuguesa. Com ela vem a turba de comentadores encartados, os quais passam sessenta inconclusivos minutos a discutir se foi ou não mão na bola, se agrediu ou não o jogador, se o jogador tinha ou não intenção, e outras coisas assim. Neste momento estou a ver a imbecilidade de um ex-ministro de Santana Lopes, um tal Rui Gomes da Silva. Num país como o nosso, cada vez mais triste país, é, de fato, um conforto ter passado por um qualquer ministério, mesmo que o mesmo não tivesse emergido como uma espécie de empalhamento público. Aliás, é a empalhar que esta gente se faz.

sexta-feira, agosto 13, 2010

cavaco e sócrates apagam fogos

Vi na televisão o chefe do Governo e o Presidente da República em reunião no comando central da proteção civil, presumo que em Lisboa (onde deveria ser?) (os monitores de computadores compenetradamente eretos, como também não podia deixar de ser). À saída, ambos prestaram declarações (à entrada, Sócrates esperava Cavaco com um cumprimento institucional). Ambos se declararam mais descansados. Ambos irão retomar as suas férias, lá de onde hoje debandaram.

uma verdadinha

António Arnaud: "Com o PS na oposição o SNS está mais bem defendido. Porque o PS na oposição é de esquerda".
A atmosfera gorgolejante dos partidos políticos portugueses adequa-se a este tipo de comentários. Havemos de ver um dia, num novo ciclo (expressão politicamente correta), o PCP congratular-se com o retorno do PS ao poder, para, enfim, facultar ao país a emersão de uns ventos de esquerda, ainda que ténues.

o social revolucionário almerindo marques

Almerindo Marques, um vetusto gestor público que ganhou nome na RTP, desabrochou hoje (ou ontem) com uma tirada digna de registo. Insurge-se então Almerindo contra a demagogia que é prefigurada com os cortes nos prémios (prémios!...) dos gestores públicos. Fá-lo assim, livre e pateticamente:
é de um "populismo desbragado [pensar] que toda a gente que recebe mais que um salário mínimo é um parasita social (...) Isto é um mau serviço que se está a prestar ao país sobretudo quando há tantos outros problemas, pois aponta-se criticamente o dedo àqueles que "trabalham com empenho, dedicação e esforço para além do razoável". Continua, entusiasmado, o sr. Almerindo Marques: "a mim ninguém me manda trabalhar 12 horas por dia, mas trabalho-as. Aliás eu gostava de saber o que é isso de um bom salário. Há que fazer uma simples operação aritmética de divisão: salário dividido pelo número de horas de trabalho para fazer comparações". Depois apazigua, de certo modo, o lampejo revolucionário, reconhecendo que "existe uma tara de algum capitalismo especulativo que inventa génios onde não existem e que às vezes até fazem sindicatos de atribuição de prémios. É um abuso".
Confisco a questão que ele coloca sobre o que é um bom salário. Ele não sabe e eu também não o posso ajudar nessa sua demanda. No entanto, se mo permitir, posso facultar-lhe uma série de maus salários auferidos por trabalhadores da empresa que tão estoicamente (12 horas por dia, meu Deus!... E sem ser mandado!...) lidera. Pelo menos, fica a saber alguma coisa.

quarta-feira, agosto 11, 2010

a linguagem e o contexto

Há momentos, no telejornal da SIC, uma novel jornalista que cobria em direto um insistente incêndio em Sabugal, ela própria rodeada de labaredas por tudo quanto era lado, reportava o flagelo da seguinte forma: "o vento está a ajudar à festa". Lembrei-me de repente de Laurentino Dias e do caso Carlos Queiroz. Retomando os argumentos de Pinto da Costa: será que alguém ficou ofendido pelo registo pseudofestivaleiro da jornalista televisiva?...

o caso carlos queiroz

Pinto da Costa clarificou a coisa: ridículo. E tem razão. Todos sabemos que o que se está a passar com o atual selecionador nacional de futebol se encontra relacionado com os maus resultados obtidos no campeonato do mundo. Tivessem sido outros e não havia Laurentino Dias a esboçar receitas de maior ou menor gravidade dos "fatos ocorridos". E também sabemos que o contrato que liga Queiroz à Federação é, do mesmo modo, ridículo (os montantes e a duração). Assim, amanhou-se isto, à falta de melhor. Mas esta gente não contava com a reação do ex-adjunto de Alex Ferguson no Manchester United.
Lembro-me de que há tempos, era então António Oliveira o treinador, houve também uma situação de um certo pundonor exacerbado por parte de alguma imprensa, quando se descortinou, nos lábios do selecionador, no momento em que este esboçava as últimas diretrizes táticas ao jogador Dominguez (que se preparava para entrar em campo) qualquer coisa do género: "mostra a estes nazis como se joga" ou "vamos dar cabo destes nazis" (era a Áustria o adversário). Como Oliveira já havia caído em desgraça na imprensa desportiva, o episódio assemelha-se, nestes princípios, a este do Carlos Queiroz. Não sei se na altura o desbocado Laurentino Dias tutelava a área...

terça-feira, agosto 10, 2010

os incêndios e as pessoas

Gostam de ter umas arvorezinhas bem perto da vivenda. Não ouvem quando são chamados atenção para o perigo que pode advir desse fetiche. Depois, quando veem as labaredas lamber as paredes do castelo, apontam os queixumes para as câmaras de televisão, as quais, por esta altura do ano, alicerçam-se sobretudo nos disparates. O que mais me preocupa, no meio de tudo isto, é verificar que muitas destas pessoas que se organizam mentalmente desta forma são já o fruto da nova escola, isto é, foram inundados, na sua escolarização, com disciplinas como - repare-se - formação cívica, área de projeto e outras tais. A refletir...

a culpa

É já tempo dos partidos tradicionalmente oposicionistas não sacudirem a água do capote quando abordam as várias incongruências do país. Por exemplo, justiça: a culpa é do PS e do PSD que estiveram com a respetiva pasta durante estes trinta e tal anos de regime democrático. Acontece que há uma instituição chamada Parlamento, outra Presidência da República e ainda uma outra (oculta, mas porventura a maior de todas) denominada sociedade civil, a qual - essa sim - tem a responsabilidade maior através do voto democrático e sistemático. Daí que convém perspetivarmos todos nós uma tendência de cariz mais autocrítico sem, no entanto, deixar de relevar a responsabilidade de quem se julga (mal, deficiente) iluminado. Por norma, não simpatizo nem costumo votar em homens providentes. Dão sempre mau resultado. Para providenciais, bastaram Cavaco e Sócrates e os selecionadores de futebol.

sábado, agosto 07, 2010

o ex-presidente

Jorge Sampaio vem hoje ao Expresso refletir sobre as capacidades ou poderes ou grau de intervenção de um Presidente da República, tendo em conta a especificidade do sistema semipresidencialista português. Entre o sentido constitucional que advoga fundamentalmente o cumprimento (e o fazer cumprir) da Constituição enquanto garante do Estado de Direito em Portugal, Sampaio lá foi desabrochando um ou dois tópicos representativos da sua visão do mais alto cargo institucional (e político) do país.
Um deles diz respeito ao inexorável elo de ligação entre o Presidente e o povo. De fato, o cargo de Presidente da República é unipessoal, longe das querelas e campanhas partidárias. Daí que me custe compreender o fervor dos partidos políticos nas campanhas eleitorais para a Presidência da República. Não faz, a meu ver, sentido que um candidato sem programa de governo (não o pode, efetivamente, esgrimir por que não faz parte do seu desenho político) tenha (rogada, muitas vezes) a seu lado a "partidarite" aguda que acompanha invariavelmente uma eleição legislativa.
Nessa ligação umbilical com o povo há que percecionar os indícios que dele se soltam. Daí que muitas vezes o cariz humanista dum presidente se revele uma vantagem acrescida na aferição de uma certa mensagem algumas vezes mal aconselhada. Sampaio escreve mesmo, e com pertinência, que "esta permanente proximidade do Presidente com o país e os cidadãos é preciosa na hora em que, por exemplo, um diploma chega a Belém e lhe cabe decidir se o promulga, veta ou envia para apreciação preventiva para o Tribunal Constitucional". Parece-me evidente que assim seja. Não fora essa "proximidade" e bastaria o Tribunal Constitucional para esgrimir (e arbitrar) algumas quezílias próprias desta repartição de poderes, advindas com a revisão de 1982.
Acontece que no momento porventura mais problemático do seu mandato, Jorge Sampaio não foi de todo capaz de fazer a tal leitura dos indícios populares. Refiro-me, obviamente, à chantagem (parece-me que o termo, não é, pelo que atualmente se sabe, excessivo), iniciada pelo então primeiro-ministro Durão Barroso, sobre a imperiosa necessidade de Santana Lopes ser orientado para a sua substituição enquanto responsável máximo governativo, pois o país não poderia perder a luminosidade que resultaria da sua ida para Bruxelas. Jorge Sampaio fez, na altura, depois de ouvir muita gente, o contrário do que um bom presidente faria que era exprimir o seguinte a Durão Barroso: se quiser ir vá, mas tem a minha reprovação; consequentemente, convocarei eleições antecipadas. O povo seria então, mais uma vez, levado a escolher.
Parece que não, mas estas atitudes e escolhas, para além de revelarem a qualidade (Jorge Sampaio) e a probidade (Durão Barroso) das pessoas que ocupam os altos cargos institucionais, resultam também em estados amórficos, os quais podem ser iniciadores (ou exasperantes prolongamentos) de graves crises sociais.
O que estamos presentemente a viver em Portugal não é decerto resultado do exíguo consulado de Santana Lopes (o qual, no meio desta história, é o menos culpado). No entanto, numa altura que o país estava "de tanga" (Durão Barroso dixit), o pior que se aceitaria num Presidente da República era a sua conivência com situações claramente pantanosas (o pântano de Guterres também não anda lá muito longe deste cenário).
Por isso, é sempre muito mais doutrinalmente edificativo usufruir da áurea que se levanta quando se é um ex-Presidente da República.

quinta-feira, agosto 05, 2010

privatização do bpn e outros ativos (não tóxicos)

A reprivatização do BPN vem aparentemente provar que a sua nacionalização (2500 milhões de euros) de há dois anos foi tão errada como precipitada. Como, aliás, se afigura igualmente demasiado célere esta proposta de mercado do executivo. A pergunta de Nuno Melo de quem fica com a dívida do banco revela-se, neste cenário, pertinente.
Por outro lado, a onda de ativos (GALP, EDP, REN...) ainda na posse do Estado tem os dias contados. E assim se combate o défice.
E assim se ganham, muitas vezes, eleições. Esta é mais uma medida do oculto Bloco Central. Passos Coelho não faria melhor. Mas ainda havemos de ver este Partido Socialista combater, na oposição, a onda demasiado liberalizante do PSD.

o ministro salamaleque

Já me havia ocorrido sobre o paradeiro do nosso ministro da justiça, teoricamente a braços com o estranhamente inconclusivo caso "Freeport". Ei-lo hoje no Telejornal da RTP1.
Alberto Martins foi, segundo rezam as crónicas, um revolucionário combativo que teve a sorte de estar um dia em Coimbra num certo plenário de estudantes, o qual resultou - granjeando ainda mais a sua fortuna - na prisão efetiva de alguns estudantes esquerdistas (comunistas, como então se simplificava), entre os quais se encontrava o simpático ministro. Viveu longos e justos anos à sombra e à luz dessa sua força juvenil, recusando, de certo modo, o envelhecimento. Mas este acontece e, por vezes, da pior maneira. Principalmente quando se sai de um assento sempre confortável de oposição (democrática) para a responsabilidade de liderar uma das pastas governamentais mais complicadas e carentes de iniciativas reformadoras.
Vendo e ouvindo Alberto Martins no cargo superior de alguém que tutela e se responsabiliza pela justiça portuguesa, é verdadeiramente confrangedor. Sobretudo porque a sua preocupação com o nada, com o vazio, com o inconcreto, com o porte, com o verbo, sobrepõe-se inexorável e definitivamente com os reais problemas que a justiça atravessa. Não existe, por parte do ministro, um rasgo, uma ideia, uma solução. Para ele, vinga, aparentemente, a máxima de que o tempo tudo resolverá. A frase que repetiu na breve entrevista: "o sr. Procurador-Geral tem a confiança institucional do governo da República". É pouco para quem quer respostas e soluções e sobretudo para quem (e são muitos e com preponderância no sistema jurídico), diariamente, não se coíbe de criticar abertamente o regime da justiça portuguesa.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...