quarta-feira, outubro 29, 2014

a comissão machete de inquérito

Rui Machete acabou por desafiar o Parlamento sobre as suas declarações a respeito de portugueses que pululam no chamado Estado Islâmico. Venha daí, pois, a Comissão de Inquérito, desafia o ministro. A oposição, impulsionadora burilenta da reunião, tem depois estes paradoxos: a reunião será realizada de portas abertas. Mas... afinal... já não entendo nada... A matéria em análise da comissão de inquérito prende-se, sobretudo, com matéria muito sensível para a vida dos portugueses que por lá andam e que deram já ensejos de regressar à pátria-mãe. Logo, este mesmo propósito deveria ser a razão primeira para a comissão se realizar com as portas não só fechadas mas trancadíssimas. Afinal, estamos ou não estamos preocupados com esses incautos jovens? Por outro lado, tudo isto poderá até vir a ser útil para os futuros jovens que pretendem adquirir um protagonismo néscio com incursões deste tipo. A partir de agora, sabem que em Portugal existe um departamento de contrainformação poderoso. Não estão, pois, seguros por lá... Portugal pode até ser, neste ingular caso caseiro, um ponto de partida para este tipo de migração. Machete e companhia não dormem.

sexta-feira, outubro 24, 2014

o sr. Horta Osório




Horta Osório é mais um daqueles portugueses que "singraram lá fora" e que, por isso, são respeitadíssimos cá dentro. Conseguintemente, tem, habitualmente, aquilo que se costuma apelidar de uma boa imprensa. É mais um que ostenta o inevitável e decerto merecido penduricalho presidencial. Possui, de certo modo, uma determinada aura sebastiânica o que, no fundo, acaba por ser bom para o país, apesar deste lote de intocáveis promessas ter produzido mais desalentos do que realidades concretamente positivas. Curiosamente, o sr. Horta Osório tem sempre fugido, convenientemente, de uma certa opiniaticidade política. Não foi, todavia, o que hoje aconteceu, numa conferência realizada em Lisboa, na qual o presidente executivo do Lloyds Banking Group reatou a teoria neoliberal da austeridade como único remédio para a crise. Retorquiu ainda com o estafado argumento de que os portugueses não podem viver acima das suas possibilidades. Pois não, nem os portugueses, nem ninguém, acrescento, timidamente.
Lembro-me, nestas ocasiões duma frase de Paul Valery sobre a estupidez da guerra. É a seguinte: "A guerra é um massacre de homens que não se conhecem em benefício de outros que se conhecem mas não se massacram.” Deixo a pairar nestes fios tentaculares uma simples questão: por que razão estes senhores que ganham milhões expelem este tipo de axiomas, como se conhecessem a verdadeira realidade das vidas das pessoas que, em vez dos milhões, auferem tostões?

o machete

Rui Machete é um desastre como ministro do que quer que seja, como foi enquanto presidente da Fundação Luso-Americana, como eventualmente fora como ocupante de qualquer cargo de interesse público (não confundir com partidário). O episódio da entrevista à rádio pública de Angola, na qual revelou, episodicamente, uma espécie de relato apaziguador das investigações feitas em Portugal sobre personalidades angolanas, constituiu um irrevogável ato de estupidez. O homem não foi despedido, pediu desculpas e o Governo prosseguiu a sua credível senda de nos proporcionar uma avaliação cada vez mais negativa da política e da República. O caso agora em apreço, em que o sr. Rui Machete diz duas ou três costumeiras banalidades, entre as quais tem a "ousadia" de pronunciar o denominativo estado islâmico, acompanhando-o de duas ou três referências a pobres portugueses com vontade de regressar a torrão pátrio, não me parece coisa de grande monta. A não ser que o desbocado homem tenha, off the record, teorizado as suas habituais necedades. Daí que não vejo razão para tanto alarmismo nem sequer para despedir o homem. É minha convicção que, no atual estado da arte governativa, o melhor é deixar apodrecer. O tempo da monda já passou.

segunda-feira, outubro 20, 2014

pt going down

A história é parca e comum nestas bandas lusas. Um gestor, promessa patrícia por entre os que navegam no tal arco da governabilidade que Paulo Portas tanto gosta de aludir, destruiu uma empresa bandeira nacional, assentadamente coadjuvado, é certo, pelos tais do arco. O gestor saiu da empresa sem, promissoramente, abdicar de negociar a compensação dessa definitiva e lacrimejante saída. Ficou com cinco milhões no bolso e um penduricalho que ganhou não sei por qual dos presidentes da República pelos relevantes serviços prestados à pátria.

nuno crato, o viajante

Pode parecer um fait divers impregnado de oportunos laivos demagógicos, se olharmos para a atualidade educativa, a notícia que saiu nos jornais sobre as viagens de Nuno Crato. No entanto, não se consegue vislumbrar razões para, por exemplo, o ministro ausentar-se para um encontro, em Milão, sobre telecomunicações, quando os professores viviam uma dilacerante angústia decorrente do miserável processo de colocação destes profissionais; ou quando, em plena sétima avaliação da troika, com vista a novos cortes na educação, o sr. Crato andasse, durante três semanas (!), por terras americanas do sul.
A meu ver, esta atitude é reveladora da postura do sr. Nuno Crato, a qual se pode caraterizar de irresponsável, incompetente e, verdadeiramente, demagógica. É que se tivermos em conta o discurso acrimonioso que o catapultou para o relevantíssimo cargo que atualmente ainda ocupa (mesmo que só do ponto de vista formal), no qual visava os gastos supérfluos com a reabilitação das escolas (não havia necessidade de tantos luxos, invocava, subliminarmente), assim como o estafado teor comunicacional do rigor nas contas e no processo educativo em geral, este posicionamento... enfim... viajante do sr. Crato não é mais do que a revelação definitiva do grau zero político que este Governo enlaçou.
E assim vivemos, e assim somos governados.

terça-feira, outubro 14, 2014

a falsa questão da descentralização dos concursos dos professores

Os professores contratos vivem todos os anos uma angústia exasperante. Por um lado, querem à força emprateleirá-los quando serviram anos a fio um sistema que nunca os favoreceu, antes pelo contrário. Depois, vende a comunicação social em peso, tenebrosamente orientada pelos especialistas da educação (muitos especialistas, neste país), o paradigma da descentralização das escolas, em particular no que diz respeito à colocação dos professores. Ouvem-se, a este propósito, disparates tão sáfaros ao ponto de se afirmar que a culpa é da centralização do ministério, que tudo quer controlar, complementando a supina tese com os estafados exemplos da Inglaterra e dos países nórdicos, em geral, cujos concursos são estruturados tendo em conta uma forte componente municipalista.
Bastaria que estes senhores tivessem conhecimento dos concursos que correm para a contratação dos professores para, desvigoradamente, reconhecerem que o único concurso que correu bem foi precisamente aquele em que é feito pelo exclusivo critério da graduação profissional, isto é, o que é mais centralizado. Bastaria de seguida drapejarem pelos imaginativos critérios das escolas para perceberem que muitos diretores não são capazes de honrarem o cargo que ocupam. Por fim, bastaria tão somente entenderem que a verdadeira autonomia das escolas passa por muitas mais coisas - e bem mais importantes - do que a colocação dos professores.
Colocando os professores pelo critério da graduação profissional sobraria mais tempo às escolas para se reinventarem na sua autonomia. Com efeito, desde cargas horárias a currículos e áreas disciplinares, passando pelos regulamentos internos (alguns verdeiros hinos à ilegibilidade), orientações disciplinares e vocação da própria escola enquanto ethos comunitário e educativo, tem a escola uma grande margem de manobra para exercer e aprofundar a sua vocação - endémica e saudável - de autonomia.
As escolas não são empresas. Neste sentido, orientar o recrutamento dos professores à medida das sinaléticas "patronais", qual empresa de ensino privado, não me parece que seja o melhor caminho para que cada vez mais escolas de ensino público possam existir enquanto espaços de verdadeira cidadania e de justiça.

o governo e o seu não-programa

Parece-me de entendimento fácil. Este é o pior Governo dos últimos anos, senão mesmo o pior da democracia. Deste modo, impõe-se, objetivamente, uma questão: por que razão, sendo ele assim tão mau, durou tanto tempo, uma legislatura? A resposta, a meu ver, é simples e abarca duas vertentes. A primeira tem a ver com a idiossincrasia do povo português, o qual não é potencialmente adepto de mudanças. É, neste sentido, conservador. Afinal, foram 48 anos de formatação mental e ideológica. As mudanças das mentalidades demoram gerações, apesar de Portugal se ter alterado profundamente nos últimos 40 anos.
A segunda razão liga-se à completa ausência de um programa de Governo, de uma ideia para Portugal enquanto país, de uma ideia de pátria, portanto.
Simplificando: enquanto o Governo se pôde reger pelo memorando da Troika, a coisa andou. A partir do momento em que este deixou de existir, o Governo patinou, continuando o seu inexorável caminho para um final inglório. No fundo, o que devia ter passado pela cabeça de Passos e Maria Luís (julgo que Portas é uma mera personagem sobrevalorizada pela imprensa, sem grande importância no interior do Governo), no dia a seguir à ida da Troika, foi e agora o que fazemos, sem o precioso caderno de encargos? A resposta a esta pergunta é óbvia e notória. Sentimo-la.

quarta-feira, outubro 08, 2014

manter-se-ão, "jamais", em francês, diz crato

Nuno Crato, ouvido há instantes no Parlamento afirmou que, na sua última vinda à Assembleia da República, havia referido que os professores prejudicados pelo erro concursal mantêm-se e não manter-se-ão, afastando, assim, qualquer ausência deontológica no exercício de tão importante cargo republicano. Com isso, Crato tentou passar aos portugueses, por intermédio dos seus representantes, um atestado de menoridade mental. Como se provou, os deputados, apesar de se situarem um pouco afastados dos verdadeiros problemas que estes concursos em simultâneo acarretam, não são pessoas destituídas de inteligência e bom senso. No meio desta inexorável vergonha, o único garante de alguma polidez moralizante seria o Presidente da República. Desgraçadamente, Cavaco Silva não se rege pelas agendas dos outros, antes pelos superiores interesses do país. Com efeito, há muitas botas que não batem com a perdigota.

o demissionário ou o demitido crato?

Passos Coelho teve hoje tempo para bocejar, à saída de uma de uma cerimónia na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (fundação que já teve como dirigentes emblemas tão capazes como Rui Machete e Lurdes Rodrigues, provavelmente o próximo será Crato) uma graçola. Disse que o ministro Crato voltará para a sua universidade, mas não agora.Todos nós já sabemos que o sr. Crato é, neste momento, qualquer coisa parecida com um ministro. Do mesmo modo, entendemos rapidamente que a próxima remodelação governamental sairá da forja em seu devido tempo, "não agora".
Convém lembrar ao sr. Passos Coelho que o tempo não está para estes ajustamentos metafóricos. Convém lembrar que os ministros demitem-se por razões bem mais superiores do que o interesse eleitoral do partido. A sua permanência no Governo da República ultrapassa todos os limites da decência política. Dito de outra maneira: a não demissão imediata de Nuno Crato é uma forma de deseducação para a política e para a cidadania. Um perfeito desinvestimento educativo.

segunda-feira, outubro 06, 2014

crato e portas

Navegam ambos nas mesmas águas, ou passaram a navegá-las quando entraram com variantes do qualificativo irrevogável. Começou o ministro dos negócios estrangeiros, há pouco mais de um ano, como sobejamente se sabe. Agora é o ministro da educação que, no Parlamento, afirmou que nenhum professor sairia prejudicado com a anedota em que se tornou o concurso de professores (anedota que não tem exclusividade deste ano, pois desde que se inventaram as teip's e os contratos de autonomia tem sido um regabofe que somente os ministros e secretários de estado e alguns diretores e alguns professores não veem, ou não querem ver...) e que a recém-nomeada diretora dos concursos revogou (sim, a palavra do ministro, no Parlamento, foi, deslumbrante e miseravelmente, também revogada...).
Portas saiu e entrou pelo seu próprio pé, ou pelos pés de Passos Coelho ou pelos de ambos.
Pelo contrário, do sr. Nuno Crato nada se sabe. Presumo que Passos Coelho estará mais preocupado com a sua versão de "que se lixem as eleições" e, tecnoformicamente, clareará uma remodelação lá para fevereiro ou março, quando a novidade Costa se estiver a esvanecer.
Crato é, portanto, um não ministro. Anda lá e ninguém, drasticamente, lhe liga patavina.

sábado, outubro 04, 2014

a república das bananas

A propósito do último post, importa questionarmo-nos, em nome da República e da saúde da nossa democracia, sobre como é possível um ministro que garantiu, no Parlamento, a respeito dos erros grosseiros dos concursos dos professores, que nenhum professor seria prejudicado e que, passadas três semanas, o que se passou foi o oposto daquilo que proferiu, como é possível, dizia, esse ministro continuar como ministro? Será que ainda ninguém viu a cloaca em que estamos metidos com este Governo? O presidente Cavaco não vislumbra o superior interesse nacional, como ele costuma, telegenicamente,  mencionar?

sexta-feira, outubro 03, 2014

concurso de professores: anedotário nacional

Li quando devia ler o manifesto anti-Dantas com que Almada presenteou Júlio Dantas, então um proeminente vulto da nossa praça sociocultural. Ao ver o que se passa com o nosso Nuno Crato, é do manifesto que me lembro. Pim para o Crato, portanto.
Resumindo, visto que não me apetece, por ora, alargar a minha revolta: uma democracia onde não existe ética e decoro por parte de quem tem obrigação de os ter é uma democracia ferida, embusteira. Assumindo o argumento de que o número dos professores abrangidos por esta extraordinária revogação da primeira bolsa de contratação de escola é reduzido, o Ministério da Educação  revela do que se ocupa o cocuruto destas pessoas. A este propósito, vi um professor afirmar, perante as televisões: nós não somos números: somos vidas.
Perceberá esta gente (Crato e secretários de estado e Cavaco Silva) o sentido da frase?

quinta-feira, outubro 02, 2014

frança recusa austeridade

Esta notícia, veiculada hoje pelos órgãos de comunicação social europeus, traz à colação mais do que o seu significado imediato. Na verdade, o que se deve revelar, pelas palavras finais do ministro das finanças francês, Michel Sapin, quando afirma que a França recusa a austeridade e que, por isso, não cumprirá, em 2015, os limites para o défice público fixados pela União Europeia (3% do PIB), mas antes em 2017, o que se deve relevar, dizia, é, lastimavelmente, uma construção europeia baseada em dois blocos distintos. De um lado, encontram-se os países mandantes, que conseguem ter voz; do outro, os países mandados, que são, por inerência circunstanciada, potencialmente mudos. Exemplo disso é, não só a atitude cumpridora da França perante os seus cidadãos, como também o ponto de vista autoritário da Alemanha, que se apresentou, célere, com uma posição contra, deixando adivinhar que será uma voz proeminente nas discussões, em Bruxelas.
Apesar de sermos um país pequeno e insignificante para a macroeconomia europeia, não devemos seguir o caminho da subtração mental que este Governo tem optado. As diversas vozes, na União, devem ser equitativas. As ideias - as grandes ideias - não saem somente de países grandes e economicamente relevantes. Conseguintemente, é através delas que os pequenos se tornam grandes e os grandes, pequenos. A história tem-nos ensinado muita coisa a este respeito.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...