sexta-feira, outubro 31, 2008

a crise e o autódromo de portimão

É inaugurado, este fim de semana, o autódromo do Algarve. O melhor do mundo, claro, como não podia deixar de ser. Retomando a sintomatologia da crise que abordei aqui, notamos que esta é essencialmente direccionada para alguns. É que os lugares mais caros - na ordem dos 40 mil euros por assinatura anual - encontram-se já praticamente esgotados. Os camarotes, pois claros.

terça-feira, outubro 28, 2008

o psd e o veto presidencial

O PSD anda naturalmente à deriva com esta celeuma que opõe o Presidente da República à maioria governativa. Por isso, o que de mais importante pode afirmar, a este respeito, é sublinhar que o PS anda a afrontar propositadamente o Presidente, tendo unicamente em vista intuitos eleitoralistas. Nada mais errado, como facilmente se compreende. O que interessa menos ao PS é um Cavaco Silva hostil. Quanto ao PSD, provavelmente gostaria que o Presidente fizesse por eles o papel que tão mal têm vindo a desempenhar, isto é, o de uma verdadeira oposição.

o veto de cavaco

Cavaco Silva vetou, desta vez, o Estatuto dos Açores. Estou de acordo com ele. De qualquer modo, o que aconteceu com a promulgação da lei do divórcio, carregada de críticas ao diploma por parte do Presidente, não favorece a imagem de imparcialidade tutelar do mais alto representante institucional da nação. É que tudo leva a crer que Cavaco Silva fez contas. E simples: 1+1=2. É muito! É demais!...

o melhor do mundo ou a imposição do melhor

Parece que, afinal, o qualificativo que vinha quase sempre atrás de Cristiano Ronaldo, através das banalidades que os comentadores desportivos amiudada e sofredoramente vêm pasmando nos ecrãs das televisões, ganhou, a partir de hoje, uma razão oficial de existência. Ou seja: Cristiano Ronaldo foi eleito o melhor jogador do mundo. A mim, simples mortal que nada entende da ciência futebolística, parece-me um exagero. Cristiano Ronaldo é um bom jogador mas não é nada de especial. Então como resolver isto de todos os anos eleger um melhor jogador do mundo? Simplex: não se elege. Eu explico: tal como o Barca Velha, que só o é quando merece, a eleição de melhor jogador de futebol do mundo deveria só acontecer quando realmente houvesse razão para tal. Se existisse essa cultura de exigência, estou certo que este tipo de concurso estaria suspenso desde... Maradona.

domingo, outubro 26, 2008

cavaco silva nos altos & baixos do expresso

Na secção Altos & Baixos do jornal Expresso aparece-nos Cavaco Silva num honroso segundo lugar positivo. E porquê? Tudo porque, segundo o jornalista João Garcia, fez bem o presidente não confundir "convicções morais"com "assuntos de Estado". Será que o jornalista leu com atenção a declaração de vencido de Cavaco Silva sobre a Lei do Divórcio por ele promulgada? Não me parece. É que nas palavras de Cavaco, não existe sombra alguma - como, aliás, deve ser - de posições pessoais de índole moralistas.

sexta-feira, outubro 24, 2008

a crise e os relógios

A julgar pela quantidade de relógios de luxo publicitados na revista Visão desta semana (dez anúncios), acredito, definitivamente, que a crise é, afinal, só para alguns.

os bancos e os 20 mil milhões

Ouvi, há pouquíssimas semanas, no programa Prós e Contras da RTP, os responsáveis maiores dos bancos portugueses mais representativos (BPI, BES, Millennium e CGD). Todos eles respiravam confiança. Ou porque um deles é o maior investidor em Angola, ou porque outro é o maior no crédito habitação, ou por isto... ou por aquilo... Só caganças, portanto. Ora, hoje os mesmos responsáveis (BPI, BES e Milllennium BCP) já admitem, timidamente, recorrer ao bolo que o Governo lhes disponibilizou. Tudo porque os lucros a que estavam habituados (na ordem das centenas de milhões de euros por semestre) não estão a ser realizados. O BPI, por exemplo, já declarou ter registado até Setembro um lucro de 34,4 milhões de euros, pior do que o esperado pelos especialistas. Estes mesmos especialistas afirmam que o facto de se ter passado das centenas para as dezenas de milhões de euros se deve, em grande parte, à comparticipação financeira do rival Millennium no banco, o que quer dizer que os proveitos deste banco terão também uma redução considerável. A par disto, estou propenso a crer que umas fatiazitas dos vinte mil milhões servirão para o pagamento de certos ordenados, os quais, provavelmente, continuarão imunes à crise.

quarta-feira, outubro 22, 2008

a promulgação

O que impressiona na promulgação da lei do Divórcio, é que Cavaco Silva ainda não disse por que razão a promulgou. Até agora só temos ouvido, por parte do chefe de estado, apreciações como "as dificuldades interpretativas do diploma", "a desprotecção da mulher e dos filhos menores" que o mesmo potencia, a "visão contabilística do casamento", etc. Acrescenta ainda, de forma verdadeiramente extraordinária, que as suas dúvidas, impostas pela sua "consciência e lealdade institucional" (!), não se alicerçam em "qualquer concepção ideológica sobre o casamento, mas apenas a necessidade de proteger a parte mais fraca nos contextos matrimonial e pós-matrimonial, de acordo com uma análise realista da vida familiar e conjugal no nosso país".
Vamos lá ver se percebi: o presidente levanta dúvidas para proteger a parte mais fraca? Mas não seria mais óbvio que essa protecção passasse pela não promulgação do documento?!...

terça-feira, outubro 21, 2008

a força da maioria e a fraqueza do presidente

Se existe um exemplo prático do poder do Presidente da República (ou do chamado simbolismo do cargo) podemos objectivamente encontrá-lo na recente promulgação da Lei do Divórcio. Como se sabe, Cavaco vetou a proposta de lei do Governo. De volta ao Parlamento, o documento manteve-se praticamente inalterado. Agora, o Presidente da República não teve outro remédio senão assinar por baixo, mantendo, apesar de tudo, as suas críticas iniciais, ou até mesmo aprofundando-as.
Extraordinárias são também as declarações dos partidos. Todos eles zurzem em Cavaco. Da esquerda oposicionista, o tom acusatório vai ao encontro de uma vertente ideológica que, afinal, ainda existe, remetendo Cavaco Silva para uma visão social demasiado conservadora. O PS, através do líder da sua bancada parlamentar, Alberto Martins, limita-se a afirmar, numa espécie de grau zero do discurso político, que o Presidente prestou um bom serviço ao país. Mas é, a meu ver, do PSD que as críticas atingem uma maior mordacidade sibilina. Atente-se: pela voz do vice-presidente da bancada parlamentar, António Montalvão Machado, o partido sublinha que "O PSD compreende a posição do Presidente da República" (apesar de considerar uma "lei lamentável") e que "em termos formais, o Presidente da República poderia vetar, mas o bom senso não aconselharia a isso, depois de uma maioria na Assembleia da República insistir na mesma filosofia".
Ora, não sei se Cavaco Silva gostou deste "apoio" por parte do maior partido da oposição. Estou em crer que não. É que o PSD não fez mais do que passar um atestado de menoridade política não a Cavaco Silva, mas ao Presidente da República.

(publicado no jornal Público em 23/10/2008)

segunda-feira, outubro 20, 2008

as eleições dos açores e a hipocrisia política

Nada como os resultados de eleições para verificarmos a hipocrisia que paira nos partidos políticos na hora de assumir não só as vitórias mas também as derrotas. De facto, desde há muito que nos habituámos a olhar para o PCP (ou CDU, a vestimenta eleitoral dos comunistas), como o partido que conseguia transformar os seus sucessivos e dramáticos esvaziamentos eleitorais em tímidas vitórias, ou mesmo em retumbantes vitórias "dos trabalhadores" contra "a direita reaccionária". No entanto, a arte da transfiguração numérica, resultante dos votos expressos nas urnas em dia de eleições, tem vindo a ser cultivado pelas diversas forças partidárias. Serve para exemplo as eleições açorianas.
Carlos César, reeleito para um mandato de quatro anos à frente da região autónoma, enfatizou a mudança do paradigma democrático na ilha, ao lembrar que os Açores deram uma lição de democracia ao alargar para cinco os partidos oposicionistas com assento nas bancadas da Assembleia Regional. Tudo, claro, para não memorar as perdas de um deputado e de cerca de 15 mil votos.
No lado do PSD, o rodopio semântico foi, de igual modo, interessante e risível. Assim, Costa Neves, que nada de relevante trouxe para a discussão política nesta campanha eleitoral, disse que se demitia por causa da abstenção. O alcance do pensamento é de tal modo profundo que, seguindo os restantes líderes partidários esta extraordinária orientação programática, não havia, nos Açores (nem em mais lado nenhum do mundo ocidental, suponho) sinergias suficientes para formar um qualquer governo. Mas a líder nacional do seu partido também não lhe ficou atrás no depauperamento discursivo. Na verdade, Manuela Ferreira Leite, na ânsia de escapar à inevitável "leitura nacional" proposta pelos jornalistas e comentadores, não arranjou melhor exemplo do que invocar os trinta e tal anos de governo jardinista na Madeira. De facto, depois do previsível assentimento de Santana Lopes para a disputa eleitoral à Câmara de Lisboa, é caso para afirmar que Manuela Ferreira Leite é, neste momento, uma líder sem rumo, esperando lá para Junho ou Julho uma derrota honrosa nas legislativas (arrebatar a maioria absoluta ao PS, por exemplo) para, descomplexadamente, sair da nau que tem vindo a comandar de forma desastrosa.
Por outro lado, José Sócrates, ao desenhar uma leitura nacional nestas eleições, provou que, de facto, tudo é, na sua cabeça, (muito) relativo, como, aliás, (também) comprovámos no último debate parlamentar, no qual criticou a arquitectura económica financeira em que assenta o ultra-liberalismo que, actualmente, (ainda) nos rege, como se não fizesse parte integrante e apologética dessa mesma vertente (vertigem, ia escrever) socio-económica. Espantosamente, a crise serve também, no caso de José Sócrates, para fazer tábua rasa de grande parte do que tem sido desenvolvido e aceite como um verdadeiro paradigma governativo à escala mundial.

(publicado na Voz de Trás-os-Montes em 23/10/2008)

quinta-feira, outubro 16, 2008

os empatas

Empatámos contra a selecção da Malta (desculpem, Albânia). De imediato, apareceram os "experts" do costume, aqueles que comentam os jogos da maneira mais científica possível (a emotividade/espontaneidade de Sclolari versus a cientificidade de Queirós... andei a ouvir isto na rádio o dia todo!...). São, simplesmente, incautas as opiniões de praticamente toda a gente que opina sobre futebol. Aliás, esta gente que é remunerada (presumo que desafogadamente) não faz mais do que reflectir o povão, isto é, aqueles indivíduos que ora gritariam efusivamente se Portugal tivesse marcado um golo, reiterando a a nossa predistinação para altos voos futebolísticos, ora despachariam, enraivecidos, o treinador e os cristianos da equipa "de todos nós" (bela expressão), na eventualidade de Portugal perder (ou empatar), por exemplo, o próximo jogo contra a Suécia (neste âmbito, os responsáveis pela Federação - e clubes - agem do mesmo modo, como se passa com as famosas declarações, depois destes jogos frustrantes, que está tudo bem com o treinador, e que este merece toda a confiança, etc. etc. etc.).
Acontece que Portugal está, no futebol, a atravessar o fim de um (bom) ciclo. A diferença é que outras equipas que percorreram, do mesmo modo, momentos áureos, conseguiram, ao contrário do que sucedeu connosco, ganhar alguma coisa: um campeonato da Europa ou do mundo ou até - na pior das hipóteses - não terem ganho nada mas terem deslumbrado. Com Portugal nada disso aconteceu: nem ganhou, nem verdadeiramente deslumbrou.

a acção de formação sobre o magalhães

Vi na televisão alguns professores numa acção de formação sobre o computador Magalhães. Cantavam a "Grândola Vila Morena" e outras melodias. Não entendo o embaraço que a reportagem televisiva tentou edificar relativamente aos professores que a frequentavam. Eu vi um grupo de professores bem dispostos a cantarolar e a remar. Aliás, são as ciências da educação no seu esplendor. Não se queixem...

o candidato santana e pacheco pereira

Pacheco Pereira diz que entende o processo que desencadeou a candidatura de Santana Lopes à Câmara de Lisboa. Reflecte o comentador que tudo isto é já muito dejá vu, pois já acontecera com Luís Filipe Menezes, quando este teve de aceitar o ex-primeiro ministro como líder da bancada social-democrata. Ora, este raciocínio de Pacheco Pereira é fantástico porque, duma assentada, equipara Menezes com Manuela, pelo menos no que diz respeito à esfera da autoridade. Deste modo, ficamos a saber que Menezes teve que levar com Santana e que Manuela não tem outro remédio senão levar com Santana. No meio de tudo isto, é o próprio Santana que se deleita com todo este festival. Mas todos nós sabemos que ele não se importa nada.

terça-feira, outubro 14, 2008

o zeloso inspector do fisco

Ouvi há pouco um inspector do fisco e fiquei apreensivo. Dirigindo-se indirectamente ao ministro das finanças (falava para uma jornalista), disse qualquer coisa como isso: o sr. ministro pode ficar tranquilo porque nós não descansamos enquanto não atingirmos os nossos objectivos, trabalhando, se necessário, aos sábados e domingos. Ah! Antes sublinhou que os trabalhadores do fisco são um "corpo de elite" (!).
Ora, para além da figurinha cómica do senhor (apesar de possuir um semblante seríssimo como, aliás, convém, aos corpos de elite...), o que estas declarações, perante as câmeras da imprensa, também revelam diz respeito à atmosfera que actualmente se vive em toda a função pública e, neste caso particular, na administração fiscal. De facto, esta cultura da meritocracia dá nisto: uns bajuladorzecos que não têm sequer a pudícia (profissional, pessoal) necessária de fazer, publicamente, declarações deste tipo.

segunda-feira, outubro 13, 2008

a crise

Não se ouve, por parte dos ministros das finanças ou dos primeiros-ministros dos diferentes países europeus, uma palavra que oriente o sistema capitalista - o que precisamente originou esta paisagem cadavérica e que já se alastrou para a economia - para a mudança. Pelo contrário, o que as sucessivas e quase alucinantes reuniões (que se desenrolam a um ritmo verdadeiramente vertiginoso) evocam resume-se, basicamente, a um apoio unidireccional à banca, na esperança que esta consiga, finalmente, sair duma falência irrevogável. Quanto à ética, à moral que devem reger o capitalismo financeiro, nem uma palavra. É certo que as crises parecem cíclicas, mas também é certo que, agora, o cíclico económico deixou de o ser, originando uma continuidade que, naturalmente, há de chegar a um fim.

domingo, outubro 12, 2008

A erc e as televisões

Antigamente, chamava-se Alta Autoridade para a Comunicação Social, sem dúvida um nome pomposo; agora, mais modesto, denomina-se Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC). Os portugueses em geral, nos quais eu me incluo, não davam pela existência de tão nobre e útil entidade, não fora algumas fugazes aparições noticiosas envolvendo, invariavelmente, os responsáveis da instituição. A última diz respeito ao chamado "dossiê Sócrates", em que o primeiro-ministro aparece como autor de uma frase, considerada - e bem! - como uma forma de pressão ilegítima sobre o livre e democrático funcionamento dum jornal, neste caso específico, o Público. Sócrates teria proferido, assim, seca e atabalhoadamente, digna de um filme de "mafiosos convictos" de classe B, a seguinte frase ao director do jornal, José Manuel Fernandes: "Fiquei com uma boa relação com o seu accionista [Paulo Azevedo, presidente do grupo Sonae, proprietário do periódico] e vamos ver se isso não se altera". Ora, conforme posteriormente se veio provar, nem o director do Público relatou esta extraordinária frase aos inquiridores da ERC, nem o primeiro-ministro a pronunciou. Tudo não passou de um lamentável erro, "de uma troca", segundo disse a Entidade Reguladora. Mais: Azeredo Lopes, que é o presidente da coisa, foi espevito a apontar o dedo arguidor a um pobre funcionário, que se "esqueceu de gravar o depoimento" de José Manuel Fernandes. Tudo isto está, obviamente, mal contado. E o que torna também esta miscelânea interessante é o facto de nenhum partido com assento parlamentar não ter exigido um célere e sério processo de investigação em torno do que, de facto, aconteceu. Limitaram-se a lamentar o sucedido, como aliás, fez, Azeredo Lopes.
Ora, o que eu verdadeiramente penso, não a respeito desta trapalhada, mas antes a respeito da ERC, é que ela não serve para nada. De facto, se tivermos em consideração que o objectivo primeiro da instituição é a "regulação e supervisão de todas as entidades que prossigam actividades de comunicação social em Portugal", não é difícil chegar à conclusão que a ERC é um vazio desalentado na regulação das "actividades de comunicação". Basta perdermos dois ou três dias e analisar as televisões. Na verdade, medidas tão simples como as regulações da publicidade entre os filmes (é praticamente impossível ver um filme numa das três televisões de canal aberto, em Portugal), das grelhas muitas vezes descabidas dos telejornais (quando abrem, por exemplo, com os 150 milhões de euros do Cristiano Ronaldo, deixando quase como nota de rodapé, um atentado no Iraque que causou dezenas de mortos) e/ou as durações demasiado excessivas dos mesmos, com publicidade (muitas das vezes desesperantemente longas) em simultâneo nos três canais, contribuiria para que se fundamentasse o propósito fundador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Até porque estas medidas não faziam mais do que obrigar as televisões a respeitar, antes de tudo, o consumidor, isto é, o público. Mantendo-se o caos televisivo, um simples agendamento de um qualquer programa, um filme, por exemplo, revela-se uma tarefa impossível em qualquer lar do país. A não ser que se tenha acesso aos canais por cabo.

a raça

Mais um contributo de Cavaco Silva, desta vez em Aljubarrota, para a evocação da "raça portuguesa": "soubemos vencer. É com esse espírito que temos de enfrentar as adversidades da hora presente". No ano de 1139, em Ourique, foi, segundo diz a lenda, a ajuda divina que fez com que Afonso Henriques se tornasse, efectivamente, rei de Portugal. Só espero que o nosso presidente, aquando de uma inauguração qualquer para essas bandas, não se lembre de evocar a predestinação (sacrossanta) de Portugal.

sábado, outubro 11, 2008

a crise e os culpados

Ainda em relação ao post anterior, eu não defendo a liberalização total dos mercados, como pode parecer, quando afirmo que se deve deixar afundar quem tem de se afundar (salvaguardando, naturalmente, os trabalhadores, principalmente aqueles que não têm culpa no cartório). Isso é conversa para o Pedro Passos Coelho e o António Borges do PSD, os quais ainda não perceberam que esta coisa da economia (que no entender deles é igual a mercado) à frente da política só pode resultar naquilo que se está vendo. O que eu singelamente proponho é que se imputem as culpas aos verdadeiros responsáveis. E estes, felizmente, não se escondem (honra lhes seja feita), como se verifica nas celebrações de desagravo que por essa Europa fora têm vindo a ser efectuadas. A última teve lugar num dos melhores restaurantes do Mónaco (o restaurante do Hotel Paris-Monte Carlo, o Louis XV) e teve a cargo dos executivos da divisão de seguros do banco Fortis. Parece que a jantarada custou mais ou menos 150 mil euros.

sexta-feira, outubro 10, 2008

a crise e os planos

Pelo andar da carruagem, não há planos salvíficos que orientem o mercado financeiro para o paraíso ou, na melhor das hipóteses, na direcção da retoma, seja lá o que isso verdadeiramente for. Daí que o meu humilde conselho se baseie no seguinte: ou nacionalizam tudo ou deixam afundar quem tem de se afundar. Afinal, sabemos todos quem são os culpados. Agora andar a esmolar aqui e ali, recebendo milhares de milhões de euros (a nacionalização dos prejuízos que falava Mário Soares) para ver se a coisa se endireita não é, a meu ver, solução para nada. É que estas pessoas da alta finança não conseguem aprender, como se viu com a ajuda que a seguradora AIG recebeu. Com efeito, os executivos da empresa resolveram comemorar a fuga à falência com um fim-de-semana de luxo (spa's, resort's, etc.) no qual gastaram qualquer coisa como 440 mil dólares. É sempre bom que a orquestra continue a tocar, pensarão alguns.

a crise e as opções do governo

Afinal, ao contrário que o Governo advoga, a crise financeira e económica origina alguns adiamentos programáticos. É o caso, por exemplo, da 4º fase da privatização da GALP. No entanto, quando o que está em cima da mesa são as obras públicas, o discurso é visto por outro prisma, isto é, o da campanha eleitoral do próximo ano.

quarta-feira, outubro 08, 2008

acabou o tempo da prosperidade

Não posso deixar de sublinhar a melhor intervenção de hoje no Parlamento e que teve a cargo de Jerónimo de Sousa. Tudo a propósito das infelizes e decorrentes (decorrentes na infelicidade) declarações de Manuel Pinho, que é ministro da economia de Portugal. Manuel Pinho, reflectido, afirmou há dias que o tempo da prosperidade acabou. Já ouvimos muitas variantes frásicas do verbo acabar, desde Santana Lopes (a crise acabou) até ao próprio Sócrates (a crise acabou, ou a brincadeira acabou, referindo-se à educação...). Mas o que nunca tínhamos ouvido foi este arrastamento do pobre verbo para uma dupla negação, isto é, o tempo da prosperidade deixou de existir. Mas o que disse Jerónimo de Sousa? Apenas se interrogou: mas a prosperidade acabou para quem? Quem é que, ao longo destes anos prosperou? Sócrates, o visado, não respondeu.

(publicado no jornal Público em 11/10/2008)

a avaliação de desempenho e os professores

Recomeçou, timidamente, por parte dos sindicatos e ainda mais por parte dos professores, a contestação à avaliação de desempenho. Escrevo "timidamente" como forma de aligeirar um qualificativo que seria, incontornavelmente mais desprezível para esta classe profissional - a dos professores - que se entreteve, no final do outro ano, numa manifestação deveras interessante, em Lisboa, na qual participaram mais de cem mil professores - praticamente toda a classe profissional. O interesse da manifestação resume-se - e não é pouco - a uma perspectiva sociológica e profissional, que, estou certo, contribuirá para um aprofundamento dos estudos nas ciências sociais, designadamente no que diz respeito aos parâmetros socio-profissionais no sector educativo. Neste sentido, poderia formular-se a seguinte questão: o que faz com que a manifestação que englobou praticamente 100% dos professores não tenha resultado numa conquista igualmente plena dos seus objectivos? Daí que agora, o Secretário de Estado da Educação Walter Lemos (que raramente diz alguma coisa de jeito) se debruce, enfatuado e irónico, sobre as ténues contestações outonais dos sindicatos. Como ele próprio referiu, a respeito duma eventual contestação dos sindicatos, "estamos em Outubro, penso que diz tudo". Pois é, cada um tem (o secretário de estado) que merece.

o mundial de futebol

Numa breve entrevista inserida na última página do DN, diz o inefável Madaíl, presidente da Federação Portuguesa de Futebol: "Mundial não é prioridade mas era muito bom". Ficamos também a saber, por parte deste senhor, que "sabemos da disponibilidade no nosso Governo para a realização do Campeonato do Mundo em 2018" e que "isto [campeonato do mundo de futebol] não é nenhuma prioridade nacional".
Pela minha parte, agradeço ao sr. Madaíl esta preciosa informação relativamente aos intentos do Governo da República nesta matéria. Eu não sabia. Possivelmente, nem o Presidente da República saberá. Mas isso também não será importante, segundo a óptica de Madaíl, pois sublinha, desassombrado, que "ele [Cavaco Silva] também já tinha a mesma opinião [contrária] no Campeonato da Europa de 2004" e que, "como é o nosso Presidente da República, temos de respeitar". Nem mais. Temos de respeitar. Gostava de ouvir a opinião do seu parceiro Laurentino Dias, apesar de não ser difícil adivinhar qual seja.

terça-feira, outubro 07, 2008

o dinheiro ofertado aos bancos e a fome

Não sei se é demagogia, mas um dos mais transparentes raciocínios que li sobre a crise que todos os dias se alastra nas nossas vidas mas, principalmente, nas vidas daqueles que andaram durante estes anos, numa espécie de rodopio infantilizado, montados em lucros rapidamente esfumados porque eram alicerçados, no fundo, numa boa dose de fantasia, um dos mais transparentes raciocínios, dizia, pertence (sem, no entanto, ter a certeza da autoria) ao líder do Parlamento Europeu. Disse mais ou menos isto: se há dinheiro para ajudar esta gente, então também deve haver para radicar a fome no mundo. Certeiro e simples, ou simples e certeiro.

sexta-feira, outubro 03, 2008

um certo capitalismo

Uma notícia da manhã informativa: o banco de investimento suíço UBS, em crise financeira decorrente do actual estado da economia planetária, com epicentro nos Estados Unidos da América, despediu mais de dois mil funcionários. Como consequência (inevitável?) desse meticuloso e reflexivo acto de gestão empresarial, as acções do banco retomaram uma subida que havia sido interrompida.
E é assim o mundo económico-financeiro em que vivemos. O económico (é a economia, estúpido...) e, por arrastamento, todos os outros.

quinta-feira, outubro 02, 2008

ainda o casamento

Ouvi agora os respectivos líderes parlamentares do PS e do PSD. Aquele afirma, extraordinariamente que o ex-líder da JS é o único deputado com liberdade de voto, visto ter sido uma bandeira de há muito dos jovens socialistas. Acrescenta ainda, desavergonhadamente, que esta excepção simboliza o grau de liberdade que se vive no interior do partido. É, sem dúvida, um bom ponto de partida para qualquer humorista explorar. Quanto ao líder parlamentar do PSD sublinha a liberdade de voto, sem no entanto deixar de referir a cartilha ultra-conservadora de Manuela Ferreira Leite que se resume àquela ideia tosca da procriação como o principal fito do casamento. Ora, tendo em conta esta posição, deveria o PSD seguir o PS na obrigatoriedade do "não". Por outro lado, o PS, nesta sua lógica de liberdade interna que fala Alberto Martins, só poderia, naturalmente, ingressar no "sim".

o ps e o psd e o casamento gay

Sabemos que isto já não é, politicamente, o que era. Sabemos também que existe um efectivo esbatimento de uma certa ideologia tradicionalmente colada a diferentes facções partidárias. No entanto, nunca esperei ver o PS a acusar uma obrigatoriedade de voto contra o casamento homossexual e o PSD de Manuela Ferreira Leite a dar liberdade de voto aos seus deputados. É, por um lado, o partido do governo a pescar votos à direita; por outro, o partido da oposição, a intrometer-se (imagino com que esforço de consciência para Manuela Ferreira Leite) em orientações tradicionalmente fixadas à sua esquerda. Pois, mas a tradição já não é o que era. Principalmente quando as eleições espreitam.

os professores

Há tempos, numa conversa rápida e perdida com um professor, este referiu, crítica e ironicamente, o seguinte: "repara, são estes cento e tal mil professores que há três ou quatro meses andaram com bandeirinhas em Lisboa a gritar palavras de ordem contra a avaliação e agora é vê-los, cordeirinhos e preocupados, à volta destas daquelas grelhas, destes e daqueles objectivos..." Eu, incrédulo mas convencido, não pude deixar de lhe dar razão. Na verdade, toda a pantomina exposta por esta classe profissional em Lisboa não passou de um mero adereço protestativo, inócuo e ilusório.

a greve e o fracasso do secretário de estado

Anda para aí um secretário de estado que pensa que repetindo a mesma palavra umas sete ou oito vezes em mais ou menos 30 segundos, consegue fazer com que as pessoas que o ouvem (que circulam, por exemplo, no carro, como foi o meu caso), e/ou que o vêem em casa à hora do telejornal, entre uma ou duas colheradas de sopa, considerem que a verdade, de incisivamente repetida, só pode estar do lado deste mestre da comunicação. Ora, comigo foi precisamente o contrário: pensava que a greve geral convocada pela CGTP não estava com a repercussão social desejada pela central sindical, mas... após ouvir aquele senhor que é secretário de estado repetir a palavra "fracasso" uma mão cheia de vezes, numa nesga temporal própria deste tipo de comunicações, dei comigo a pensar que, afinal, os 11% do governo deveriam ter sido um pouco mais.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...