sábado, julho 31, 2010

os chumbos

Voltarei, decerto, a este tema, mas não queria deixar de realçar a minha perplexidade relativamente à matéria das não-reprovações escolares.
Numa altura em que o ministério da educação obriga as escolas a aumentar o número de alunos por turma, os mesmos teóricos da educação relativizam a importância da aquisição e aplicação de saberes por parte dos alunos, ao instituir a progressão obrigatória nas escolas. A bota não bate com a perdigota.

quinta-feira, julho 29, 2010

a mediatíssima e mirífica golden share da pt

O dado porventura mais curioso nesta coisa da venda da percentagem da VIVO à Telefónica é o drama em gente que se viveu durante o processo. Todos sabiam como ia acabar. Restava, pois, o teatro para que Sócrates, no final, expurgasse algumas semanas de definhamento. Antes ainda teve o Freeport. Venham mais.

segunda-feira, julho 26, 2010

antónio mexia

O homem andou à boleia, fez anúncios e foi carteiro, deu explicações de português e serviu bebidas num bar (o melhor hotel de Genebra, diz, com um sorriso comprometedor). É presidente da EDP e tem um ordenado que se bate com os dos seus congéneres mundiais. Utiliza abundantemente as variantes do verbo energizar, uma espécie de neologismo da empresa que lidera. Quanto às críticas suscitadas pelos seus 3,1 milhões auferidos em 2009 (salário e prémios - porquê prémios com ordenados destes, pergunto inocentemente) tem uma ideia, uma definitiva explicação: "inveja e preguiça". Quanto ao país que alegremente lhe proporciona a este e a outros do género estes devaneios salariais nem uma palavra. Esquecem-se estes senhores que o ordenado mínimo por aqui não chega aos 500 euros e muita desta gente trabalha no duro, porventura tantas horas como o sr. Mexia. Mas vamo-nos entretendo com estas entrevistas cor-de-rosa estranhamente a cargo do Expresso, nas quais ficamos a saber que o sr. Mexia ainda é conde mas que não liga a estas coisas dos títulos e que foi estudar para a Suíça porque "não tínhamos dinheiro" e que, em parêntesis reto, esta extraordinária jornalista, de seu nome Rosália Amorim, nos dá conta que os seus (dele) "olhos enchem-se de lágrimas e fica comovido, quebrando a imagem do líder de ferro", quando evoca a filha de doze anos. Esquece-se esta gente que os tais do ordenado mínimo também têm filhos de doze anos e que não dizem aos pais que, afinal, o que estes fazem é fácil, pois só têm de olhar para o ecrã de cotações e para as notícias da Reuters.

sábado, julho 24, 2010

a revisão constitucional

Passos Coelho deu o mote: pelo menos, esta proposta de revisão da Lei Fundamental veio clarificar e separar as águas: de ora em diante, não se dirá mais que PS e PSD são duas faces da mesma moeda. Tem, pois, razão neste pressuposto o líder social democrata. Acontece que esta proposta pode igualmente originar uma oxigenação no governo, através, precisamente, do enroscamento do PSD à direita liberalizadora. Neste sentido, até Paulo Portas já entendeu que o caminho não é substituir o socialismo pelo liberalismo.
Num raciocínio simples: ou vamos para eleições antecipadas dentro de um ano, ou então corre Passos Coelho o risco de perder umas eleições à partida fáceis de ganhar.

comércio liberalizado

A proposta governamental de permitir a abertura do comércio das 6 da manhã até à meia noite parece-me ajustada, se tivermos em conta que a atividade comercial é também a prestação de um serviço. Só tenho pena que esta visão liberalizadora não se estenda aos chamados serviços públicos.
Alargando o horário de trabalho destes serviços até à meia-noite (os quais teriam de ser projetados por turnos, obviamente), criar-se-iam novos empregos e os cidadãos teriam um balizamento temporal mais abrangente para tratar da sua vidinha. O princípio é o mesmo.

quarta-feira, julho 21, 2010

revisão constitucional

Um dos esperados argumentos socialistas relativamente à proposta de revisão constitucional social-democrata diz respeito ao timing. Silva Pereira, um dos mais notáveis porta-vozes socráticos foi claríssimo e duro, porventura demasiado enclavinhado: "querer debater candidaturas presidenciais ao mesmo tempo que se discute, e altera, a duração do mandato e a extensão dos poderes do Presidente que está para ser eleito é uma ideia absolutamente estapafúrdia, que não há memória de alguma vez ter sido proposta por um líder político irresponsável". Não tem razão neste ponto. A meu ver, faz todo o sentido os candidatos a presidente da República, que juram solenemente fazer cumprir a Constituição, tenham oportunidade de se demarcarem ou emparelharem nas diferentes visões constitucionais. Passos Coelho demonstrou, não sei se por ingenuidade política ou se por autenticidade, que quer de fato alterar o status quo político que se tem planado na sociedade portuguesa ao longo destes anos. É, neste sentido, diferente dos demais líderes. O retorque de Silva Pereira é revelador desta sintomatologia demasiado calculista, artificial.
Eu não concordo com as propostas que são já conhecidas do grupo de estudos do PSD que tem a cargo este anteprojeto de revisão constitucional. No entanto, penso que a política partidária não deve estar refém de quaisquer eleições ou mesmo de crises económicas. Aliás, estas propostas são também (pelo menos assim deveriam ser encaradas) formas de agrupar pontos de vista (ainda que discordantes) para que o país consiga ultrapassar este já demasiado longo lamaçal social que costuma ser apelidado de crise que vem de fora.

terça-feira, julho 20, 2010

ribery e benzema acusados

Vi na televisão a notícia, seguidas de esclarecedoras imagens: dois futebolistas franceses - Ribery e Benzema - foram acusados pela justiça francesa de recorrerem ao serviço de uma prostituta menor de idade. A notícia, como referi, veio com imagens. E estas valem mais que mil palavras: a menina em causa, Zahia de seu nome, num programa de televisão num desenvolvimento erótico explícito.
Este caso deveria, antes de tudo, servir para regulamementar a utilização de menores de idade em programas de televisão, principalmente quando o que está em causa é uma tónica claramente libidinosa. Aquela rapariga, naquele programa, em bikini, dançando e esfregando-se, não tinha dezasseis anos. Em casa, no quarto dela, com amigas, poderia tê-los; na televisão, não.

dois para o tango

São efetivamente necessários dois para dançar o tango. Sócrates disse-o outro dia e tem razão. Passos Coelho precisa agora do seu par para um inusitado e inesperado passe doble que se chama revisão constitucional. Um ponto a favor do líder do PSD: está a mostrar, antes das eleições, ao que vem. E o que se espera de Passos Coelho é precisamente a cartilha neoliberal em todo o seu esplendor. Este anteprojeto chega ao pormenor hilariante de dizer quase o mesmo (não vislumbro outro entendimento depois de ouvir Passos Coelho no jornal da SIC) por outras palavras, como é o caso da substituição dos despedimentos por justa causa pela expressão porventura mais abrangente de "razão atendível". Um outro aspeto interessante no ante-texto social-democrata diz respeito à gratuitidade de certos serviços prestados pelo Estado na saúde e educação.
Esta gente convive mal com a palavra gratuitidade (defendem uma espécie de scut´s nestas áreas). Pela minha parte, estou mais inclinado a seguir a opinião do bastonário da Ordem dos Médicos, o qual defende a eliminação do advérbio tendencialmente para projetar o gratuitos subsequente. De fato, a educação (na sua escolaridade obrigatória) e a saúde devem ser asseguradas, numa visão claramente solidária, pelo Estado, isto é, por todos nós.

quinta-feira, julho 15, 2010

estado da nação

Sócrates retrata uma nação de números e tem aparentemente razão nas contas. Acontece que toda esta aritmética se encontra estruturada numa debilidade triste, como triste é o país que tem um primeiro-ministro que se vangloria com um limiar da pobreza na ordem dos 18%.

segunda-feira, julho 05, 2010

ronaldo foi pai

Cristiano Ronaldo é pai de uma criança do sexo masculino. Ao que parece, o petiz nasceu em pleno mundial africano. Duas notas relativamente ao assunto:
A primeira tem a ver com a tese de alguns psicólogos (desportivos, presumo) que defendem tenazmente a relação direta da novel paternidade do jogador com o fraco rendimento enquanto jogador profissional de futebol patenteado em África do Sul. Obviamente, a tese acompanha (ou o contrário, provavelmente) umas não sei quantas emoções recalcadas, frustrações muitas vezes cabalmente exteriorizadas, como o cuspir para a câmara de filmar e o "perguntem ao Queiroz" e outras coisas que os senhores que estudam a coisa conseguem insolitamente vislumbrar.
O segundo apontamento acompanha a suposta e sistematicamente plangente ausência de privacidade dos jogadores e outras espécies de celebridades mediáticas. Afinal, quando esta gente quer manter-se afastado dos holofotes da fama, consegue esse mesmo fito...

quinta-feira, julho 01, 2010

golden-shares e afins

Na hora de contar euros, não há absolutamente sentido algum patriótico. O capital, dizem, não tem pátria. Vivemos, como todos nós sabemos, uma crise financeiro-económica muito grande, a qual parece ainda longe de se harmonizar. É também de entendimento comum que foi a desregularização dos mercados o principal impulsionador da crise. Dito de forma simples: o apagamento cada vez mais notório do dedo Estatal fez com que a “economia de casino” corroborasse o enriquecimento febril de muita gente, especuladores financeiros à cabeça. Neste sentido, passada a tormenta inicial, pensou-se que o mundo iria entrar numa espécie de nova ordem financeira e mundial. E é verdade que este pressuposto teve o seu zénite com a surpreendente eleição de Obama e a sua própria consequência prática, em que a reviravolta que foi alvo o sistema de saúde americano, alargado a todos através do apoio financeiro do Estado, pode ser considerada o paradigma deste novo mundo pretensamente florescente.
Assim, podemos todos afirmar alegremente que se aprende sempre alguma coisa com as crises financeiras. Ou talvez não.
A telefónica quer, como se sabe, comprar a participação da Portugal Telecom na operadora de celulares VIVO. 7, 15 mil milhões de euros, isto é, cerca de 90% da capitalização bolsista da empresa portuguesa. Números que deixam doidos qualquer um, mesmo que este qualquer um seja Ricardo Salgado, o maior acionista da PT. Segundo o presidente do BES, o dinheiro da venda serviria para capitalizar a empresa e investir, sobretudo no Brasil. Curioso raciocínio: investir no Brasil... A mim, parco em bolsa, parece-me que com a concretização do negócio verificar-se-á um desinvestimento efetivo na nossa distante ex-colónia (meti aqui propositada e ironicamente esta semântica colonialista por ter lido, através da imprensa portuguesa, o disparate do Financial Times, acusando o Estado português de ter ainda complexos de colonizador). E o raciocínio é simples: ficamos com o graveto, mas limitados a um mercado cada vez mais estreito.
Posso até colidir aqui comparativamente um exemplo futebolístico: os nossos clubes compram jogadores mais ou menos baratos; alcançam mais-valias com as vendas a ligas de maior e melhor dimensão mas, paulatinamente, empurram o campeonato nacional para um fundo cada vez mais desinteressante e internacionalmente pouco apetecível e credível.
Daí que concorde com a posição do Estado português na utilização das suas "ações douradas". Curiosa e oportuna é a justificação do PSD através do seu porta-voz Miguel Relvas, indiciador do que será um Governo chefiado por Pedro Passos Coelho, num afã obstinadamente neoliberal: "não teríamos utilizado a golden share, apesar de reconhecer que o negócio não era bom para a PT". Traduzindo: deixávamos o mercado funcionar e enriquecíamos ainda mais o grande capital (o salivante argumento de Ricardo Salgado é, nessa perspetiva, notório).
Pelos vistos, a União Europeia, através da sua comissão chefiada pelo nosso mais famoso desertor político (um percurso político notável a este nível), é da opinião que o Estado deve deixar funcionar o mercado e, consequentemente, não deve possuir este tipo de força acionista. Não creio que seja este o caminho diretor que melhor se adequa a uma Europa cada vez mais interveniente do ponto de vista financeiro, precisamente porque o mercado necessita de uma regulação racional e independente, a qual só pode ser conferida pelo Estado em quantidades obviamente equilibradas.
Não queria deixar de apontar uma nota final. Os acionistas da PT sabiam, desde sempre, da golden share estatal. Não sei se muitos destes acionistas, pequenos ou grandes, que clamam a venda da VIVO, têm participações nos recentemente bancos falidos. É que não me parece ter ouvido qualquer desenvolvimento crítico sobre a nacionalização do BPN. E intervenção estatal maior do que uma nacionalização sinceramente não conheço.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...