quarta-feira, dezembro 28, 2011

custos-benefícios em trás-os-montes

Parece que o custo-benefício do helicóptero do INEM que opera em Trás-os-Montes não justifica a sua utilização. Parece também que os aparelhos plantados nos heliportos em Lisboa e Porto darão para cobrir as parcas urgências da região transmontana. Parece que o helicóptero de Macedo de Cavaleiros passa 90% das noites sem utilização. Tristemente, parece que os seres humanos que representam os restantes 10% são uma espécie de vítimas destes hodiernos cavaleiros do apocalipse. Enquanto isso, parece que os autarcas da região, que tanto espernearam para a construção desse tão glorioso desígnio regional que é a poética autoestrada da justiça, andam mudos e quedos perante este ostracismo que o centralismo de Lisboa, mais uma vez, desenhou, esquecendo-se, definitivamente, que são eleitos com o mui nobre intuito de representar os cidadãos.
Não vale tudo, em nome de uns trocados.

sexta-feira, dezembro 23, 2011

o caminho mais fácil

Dirão os crentes que é o mercado a funcionar. Na verdade, o mercado funciona. O Estado português controlava vinte e tal por cento de uma das maiores empresas nacionais, a qual tem uma importância fundamental para a vida das pessoas e empresas nacionais. Para além disso, a EDP tem vindo, ano após ano, fruto de uma vigência de quase monopólio, a acumular extraordinários lucros. Em nome do curto prazo (tal como se passou com o fundo de pensões da banca), o Estado resolveu desobrigar-se dessa importante quota-parte da empresa. Por conseguinte, essa fração que o Estado português controlava transfere-se para o Estado chinês (a empresa é de capitais públicos chineses). Deste modo, os lucros que antigamente caíam nos cofres da parte estatal portuguesa da empresa, deslocam-se, agora, para a parte estatal chinesa. Ou isto revela uma assunção da nossa incapacidade de gerir a nossa própria riqueza, ou então somos uns verdadeiros totós.

terça-feira, dezembro 20, 2011

a emigração

Não creio que haja, na história recente das nações, governantes que incitaram os seus cidadãos a emigrar. Como disse Manuel Alegre, nem Salazar, no seu quintalejo governativo, se lembrou de tal. Nem precisava, aliás. O povo, principalmente o povo rural, debandou para além fronteiras. Passos Coelho terá, porventura razão antes do tempo: os quadros deste país - este país é para velhos!... - iniciaram já uma amargurada caminhada profissional. Voltarão, muitos deles, envelhecidos, para gozar as tardes soalheiras deste Portugal à beira mar plantado.

quinta-feira, dezembro 15, 2011

alegria no parlamento

Por causa de um vice-presidente do grupo parlamentar do Partido Socialista, de seu nome Pedro Nuno Santos, que num jantar convívio, em Castelo de Paiva, se entusiasmou e desatou a marimbar-se para os alemães e para a dívida, hoje o Parlamento viveu uma esplendorosa tarde. Saliento somente a gracinha que um deputado da maioria - Nuno Encarnação é o seu nome - entendeu cabal e legitimamente edificar tendo como referente Basílio Horta: "O deputado Basílio Horta do CDS-PP, perdão, do Partido Socialista..." A gargalhada, ímpia, foi geral nas duas bancadas que suportam a coligação governativa. Basílio horta não esteve com meias medidas e chamou-lhe ordinário, epíteto que, aliás, pela amostragem do indivíduo, lhe assentou muito bem.

plafonamento para as pensões mais altas

O tempo da reforma não é, seguramente, um tempo para enriquecer, tendo em conta, obviamente, a exclusividade de uma remuneração mensal. Daí que não compreenda a obscenidade de muitas reformas públicas. O ministro da solidariedade, Pedro Mota Soares, fez hoje jus ao cargo que ocupa ao defender que o limite de três salários mínimos para as pensões mais altas é um valor demasiado baixo. Terá, decerto, construído o seu raciocínio baseado nalguma premissa. No entanto, não posso deixar de anotar que nunca o vi tão empenhado em demarcar-se de plafonamentos reduzidos. E que "las hay, las hay".

terça-feira, dezembro 13, 2011

cinismo político

Não sei se é baixa política ou política, simplesmente. O que me parece é que existe, na estratégia comunicacional do ministério da educação, uma dose determinada de cinismo político. Para além disso, esta gente, finória, sabe muito bem com quem se mete. A estatégia foi clara desde o início. O inculcar em mentes desprevenidas, a par com uma sistemática peleja sindical proporcionalmente inábil no que aos mais fracos diz respeito, de vaporizações tonitruantes de que ninguém estaria a salvo nos cortes da educação, fossem professores do quadro ou professores contratados os visados, resultou, agora, num suspirar aliviado por parte dos primeiros. A resposta lacónica do secretário de estado da educação a uma pergunta da jornalista, a qual remetia o governante para a situação dos milhares de professores contratados, foi elucidativa: posso assegurar que os professores do quadro não serão afetados. E pronto! Numa assentada, o ministério calou toda a gente. Os sindicatos, que tradicional e primeiramente defendem os seus correligionários vinculados, os professores, já sem voz para o que que quer que seja e a opinião pública (publicada ou não), que simplesmete acha muito bem. Mais uma reforma educativa.

terça-feira, dezembro 06, 2011

portugal desigual

Ouço na televisão sobre os resultados de mais um estudo da OCDE, o qual aponta Portugal como o país mais desigual da União Europeia, onde o rendimento dos mais ricos é seis vezes superior ao rendimento dos mais pobres. Perante isto, aconselha a continuação das medidas sociais na saúde e na educação. Não me parece que nenhum país conseguirá progredir civilizacionalmente com o desenho social e humano que Portugal apresenta. Este é, de facto, a origem das nossas incapacidades para resolver os nossos ingénitos atrasos. E este também é, infelizmente, o que nos diferencia dos outros. O pior é que estas alvitantes assimetrias não são resolvidas por qualquer troika.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

a entrevista de coelho

José Gomes Ferreira lastimou a falta de tempo, esse inimigo das televisões, que depressa voou, não lhe permitindo a apresentação de mais questões ao primeiro-ministro. Por mim, a entrevista, cheia de plumbosos recortes técnicos, seria suficientemente elucidativa se tivesse havido resposta a uma simples e lapidar pergunta: o que fazer com os milhares de Anas Isabéis que verão as suas vidas irremediavelmente perdidas?

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...