terça-feira, março 04, 2008

vital moreira e Correia de Campos

Mais uma do incontornável Vital Moreira, agora num elogio desassombrado a Correia de Campos, ao proclamar que se perdeu "um bom ministro da saúde, ganhou-se um bom colunista". Tudo por causa dum artigo que o "bom ministro" (ou será "bom colunista"?) escreveu no Diário Económico, elogiando a política e o carácter da (adivinhem...) ministra da educação. Correia de Campos tem pérolas retóricas deste tipo (os itálicos são da minha inteira responsabilidade):
"Veterano de quatro Prós e Contras [comunicação, a quanto obrigas!...] não consigo evitar a comparação entre os defensores da anti-reforma, na Educação e na Saúde. São várias as diferenças: os participantes na Educação foram no geral bastante mais agressivos, menos racionais, mais demagógicos, mais organizados fisicamente, mas bastante menos argutos que aqueles que habitualmente defrontávamos. Fáceis de liquefazer, mesmo no “número” das sentenças, quando a ministra desfez com uma só frase a credibilidade do simultaneamente arauto e actor. Dei por mim a tentar perceber o porquê das diferenças. Só encontro uma explicação. A oposição às reformas educativas é “sindicalismo em estado puro”, com pretensa “superioridade moral”. Mas o que parece uma força é, na verdade, uma fraqueza. Trata-se de uma impossibilidade material: como é possível estar contra as aulas de substituição ou mascarar essa oposição inicial com a posterior reivindicação de as tolerar desde que pagas em horas extraordinárias? Como é possível ser contra a avaliação, ou apenas contra a sua complexidade, ignorando o rigor e a qualidade que devem ser colocados em cada julgamento? Como é possível ser contra a hierarquia docente, assente em critérios objectivos, com o argumento de que a selecção não foi perfeita, terá deixado alguns de fora, ou deva ainda ser corrigida? Porventura ficou fechada a porta do aperfeiçoamento das soluções? Como é possível ser contra a direcção unipessoal das escolas, com base em planos, programas e órgãos consultivos de representação comunitária, com o vetusto argumento da alegada “gestão democrática das escolas”? Em que século vivem os opositores das reformas na Educação? Terão eles pensado no dia seguinte? Falhado que sempre será o seu objectivo de levar a ministra à demissão, cumprido o calendário das manifestações com ou sem SMS convocatório, enrolados os cartazes plastificados que viajam de norte a sul, que mais lhes restará? Não pensaram na erosão das respectivas posições negociais, no respeito pelos cidadãos que a todos nos sustentam, no triste exemplo educativo para os jovens? Não, não foi tempo perdido. Por mim, que só de longe acompanhei estes meses de discórdia, bem como para milhares de portugueses, foi útil observar este novo conservadorismo de pequenos interesses e evanescentes micro-poderes. Há muitos professores desmoralizados? Não sei. Mas haverá sempre muitos mais, velhos e novos, dispostos a aceitar a diversidade, a aprender para melhor levar a aprender, prontos para a aventura da mudança a favor do progresso. Há certamente muitos mais professores Arsélios do que se possa pensar".
Gostei do conjunto emocionado das interrogações retóricas. Ao lê-las, a minha vontade verdadeira foi pegar no telefone, telefonar a Correia de Campos e pedir-lhe perdão - em meu nome e quiçá em nome de todos os portugueses -, por ter sido alvo de campanhas tão miseráveis por pessoas que, apesar de tudo, não foram assim tão "fáceis de liquefazer".
Não sei, sinceramente, o que povoa a cabeça de Vital Moreira. Bom senso e racionalidade interpretativa não são, de certeza.

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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