Ouvi agora o delicado Cavaco Silva - merecedor, aliás, de uma interrupção em direto do debate parlamentar (um tédio...) -, numa visita a uma fábrica de cereais, afirmar que tem uma experiência que mais ninguém tem, pois foi primeiro-ministro durante dez anos e vai a caminho dos dez enquanto Presidente da República e que - last but not least - conhece profundamente a realidade do país (como ninguém, presumo). Porém, à primeira pergunta incómoda, a qual teve a ver com a eventual maturação para quinze anos do empréstimo obrigacionista da troika, reorientou de imediato o norte discursivo para salientar que é o Governo que tem os dados todos e é ele (Governo) que responde perante o país.
Eu sei, eu sei que é assim... Do ponto de vista constitucional - o único que conta, afinal - o Governo não tem de responder perante o Presidente da República e só tem de merecer o apoio do povo, isto é do Parlamento. Ora, é precisamente neste ponto que um Presidente da República deve justificar a sua existência política, isto é, ter a capacidade de ler os sinais desse mesmo povo que ele - mais do que qualquer outro, representa (gosta ou não gosta de se intitular uma espécie de provedor do povo?). E Cavaco é um redondo falhanço enquanto Presidente porque é demasiado apático e pouco influído politicamente. E logo ele que sabe, "por experiência própria", que quanot mais um Presidente da República aparecer em público, menor é a sua capacidade de influência nos decisores políticos. Mas onde é que vai buscar estas ideias?
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