Há, neste Governo, uma espécie de autoclassificada elite, vinda dos meios académicos. Os sinais são sistemáticos e vão desde, por exemplo, do incontornável Borges e aquele tosco episódio da reprovação dos empresários no primeiro ano da "seu" curso na universidade, passando pelo Gaspar, com as décadas passadas a estudar proporcionadas galhardamente pelo Estado (estando ele, agora, na condição de cidadão exemplar e abnegado) e o tom de voz que será ligeiramente diferente se o jornalista continuar a teimar com a mesma pergunta, acabando, naturalmente, nos encómios que estes dois senhores se dirigem de forma descaradamente espelhar.
O pior disto tudo é que esta imagem de competentíssimas criaturas vendeu muito bem ao princípio, não só entre a própria classe política (o mito do tecnocrata brilhante que salvará o mundo, relevando aquele aforismo de que a política é demasiado importante para ser deixada aos políticos...), como também para os jornalistas. A este propósito, houve até quem enaltecesse o tom de voz utilizado pelo Sr. Gaspar, dissonante no meio, como se o estafado tom de voz do ministro resultasse de alguma espécie de poção mágica, academicamente elaborada.
A elite é assim mesmo, principalmente quando de elite não tem nada. O que os senhores Borges e Gaspar encontraram neste país foi simplesmente um balão de ensaio para uma qualquer experiência económica, em nome próprio. O memorando é simplesmente um pretexto, como, aliás, se tem vindo a verificar, quando os próprios já o contornaram por variadíssimas vezes. E não me venham dizer que tudo é o resultado de conjunturas económicas inesperadas. Quem, desde o início, se assumiu pró-memorando, jurando ir mais além do dito, foram estes senhores, acompanhados por um perdido Passos Coelho, que dá sempre muito jeito.
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