Sabemos que um dos maiores males de Portugal enquanto nação é a profunda desigualdade geral entre os cidadãos. Este extraordinário Governo tem o despudor de esclarecer e acentuar a luta a este combate quando, às pinguinhas, vai ora acrescentando, ora retirando tímidas e pouco esclarecedoras propostas orçamentais para o próximo ano. Uma delas tem a ver com a redução dos escalões do IRS.
Eu até podia aceitar que 40 mil euros anuais é já um muito bom ordenado, tendo em conta, obviamente, que existem, em Portugal, 3 milhões de famílias que auferem entre 4 mil e 19 mil euros por ano (entre os 20 mil e os 50 mil euros serão, segundo a PORDATA, 1,3 milhões de famílias). Por estes números, facilmente se depreende que, no próximo ano, a economia entrará numa nova espiral recessiva, pois esta enorme classe média - baixa, menos baixa e alta - não terá apêndice financeiro para comprar o que quer que seja. Por conseguinte, encerrarão mais micro e pequenas e médias empresas, com um forte incremento do desemprego.
A minha questão é, porém, outra. Se tudo isto é feito em nome de uma maior equidade (do combate à desigualdade social, portanto), segundo o sr. Vítor Gaspar, por que razão não se aumentou o salário mínimo? É que assim continuamos todos a perder. Ou melhor, os que estavam já desesperançados, nesse fundo da pirâmide social, continuarão aí, desoladamente, estacionados; os outros, os que ainda conseguiam vislumbrar alguma coisa, serão esmiuçadamente empurrados para este completo descalabro social.
A conclusão que eu tiro de tudo isto é que esta gente, completamente inócua de sentido social, usa expressões como combate à desigualdade social de forma inacreditavelmente, assustadoramente, tenebrosamente cínica.
A única forma de combater a desigualdade social é subir os ordenados de quem não consegue já sobreviver.
A questão será sempre a mesma: conseguiria o senhor ministro viver com o ordenado mínimo? Se respondeu honesta e afirmativamente, então faça o favor de desculpar. Estamos no bom caminho.
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