sexta-feira, julho 10, 2009

novas oportunidades

Lembram-se como foi lançado o programa Novas Oportunidades? Com alguns famosos – Carlos Queirós, Judite de Sousa, etc. – a fazerem de conta que eram caixa de supermercado ou o homem que limpa o que os outros sujaram depois de um jogo de futebol? Em todas estas personagens um traço comum: a tristeza do olhar, a revolta interior de alguém que não está bem consigo próprio, como se alguém que tenha um emprego destes esteja condenado a uma obscuridade interior inultrapassável. Mais uma vez, o marketing publicitário sobrepôs-se ao que deveria constituir o fundamento do programa, o qual, resumidamente, podemos afirmar que não é mais do que uma valorização das aprendizagens ao longo da vida. A técnica publicitária é, pois, a mesma do famoso Allgarve. Só que aqui é ao contrário (parte-se de uma situação de declarada inferioridade social, em que, por exemplo, o Allgarve só poderá ser sonhado). Não constitui, por isso, estranheza que o primeiro relatório de avaliação externa ao programa revele que há um alheamento por parte das pequenas e médias empresas aos novos diplomados do programa. Do mesmo modo, também não resulta em admiração as palavras da ministra, a qual não pode dizer muito mais do que isto: “é preciso tempo”.
Foi, portanto, a pior maneira de iniciar um programa louvável como as Novas Oportunidades. De um momento para o outro, os que se matriculavam faziam-no não pelas melhores razões, mas, antes, para o empregozito atrás duma secretária, que é sempre melhor do que andar com qualquer outro instrumento mais pesado na mão. “Sem o 9º ano não se faz nada, não podemos sequer concorrer para um emprego de escriturária(o)”, era o que mais se ouvia da boca dos formandos. Ninguém do ministério do extraordinário Pinho (que em boa hora circundou a sua cabeça com corninhos) e de Maria de Lurdes Rodrigues (um erro gravíssimo de casting) se lembrou que o programa Novas Oportunidades se destinava, principalmente, àqueles que são movidos pela curiosidade de aprender, precisamente aquela que desde sempre fez mover o mundo. Não importa que sejam jardineiros ou telefonistas ou empregadas de supermercado ou ainda bancários. Importa antes que são pessoas que querem aprender, utilizando um contexto muito preciso, o qual não anda muito longe do duplo sentido do sapere latino, isto é, saber e saborear. O resto é conversa de político. Mas daquele político que não tem na cabeça senão folclore.

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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