Há personalidades que, por qualquer motivo aparentemente não explicado, são sujeitas a uma ascensão que nem elas próprias se revêem. Manuela Ferreira Leite é um desses casos. Foi ministra de Cavaco Silva (das finanças e da educação) e a sua passagem por essas pastas não originou nenhum rasgo de genialidade, que comprovasse que estávamos perante uma política extraordinária. No entanto, a sua postura de exigência e rigor fizeram dela, na área dos números, alguém em quem os portugueses (social-democratas) poderiam confiar.
A respeito de números, saliento uma curiosidade de Patinha Antão (opositor de Manuela Ferreira Leite nas eleições para liderar o PSD) no programa Prós e Contras. Dizia então o professor catedrático de economia (como ele próprio fez questão de sublinhar), que dos três candidatos a líder até então conhecidos - ele próprio, Passos Coelho e Ferreira Leite - todos eram economistas. Patinha Antão, obviamente, trouxe este facto à conversa para sublinhar que a economia - a macroeconomia - ocupa, nas sociedades actuais, o lugar cimeiro ("it's the economy, stupid", disse, irónico, Clinton). Curiosamente (outra curiosidade), foi Cavaco Silva, na sua primeira ou segunda campanha eleitoral, na década de oitenta, que esboçou, ainda tímido, um primeiro elogio aos políticos-economistas (ou economistas-políticos), ao afirmar que ele era o primeiro candidato a primeiro-ministro economista (os outros eram todos advogados).
Ora, o que para Patinha Antão é uma espécie de valor celestial e cristalino, revela-se, para mim, um dado muito pouco interessante. Na verdade, vivemos numa ditadura de números há já muito tempo! Números sem pessoas, números despidos de alma!
Deste modo, e dando como certa a eleição de Manuel Ferreira Leite, importa questionar o que é que ela traz de novo à política portuguesa. A resposta é, para mim, óbvia: nada, ou melhor, mais do mesmo.
1 comentário:
Excelente análise. Parabéns.
Enviar um comentário