Não há fome que não dê em fartura! Se há uns meses atrás ninguém avançava para líder do maior partido da oposição, agora, com Sócrates em possível queda, alinham-se os candidatos com sonhos de curto, médio e longo prazo. O último foi Manuela Ferreira Leite.
Na verdade, a antiga ministra de Cavaco Silva, com a sua áurea sebastiânica, é uma má notícia para Sócrates. E a razão é só uma: Ferreira Leite é melhor que Sócrates naquilo que Sócrates tenta ser bom. Explicando: José Sócrates granjeou um determinado capital de confiança em parte devido a um modus faciendi que não se coadunava com o PS tradicional, isto é, um partido em que as pessoas estavam, efectivamente, em primeiro lugar ("os portugueses não são números", lembram-se do slogan guterrista?). Neste sentido, Sócrates é um socialista atípico, pois desbaratou (não determinantemente, graças aos chamados históricos, como Alegre ou Soares) um capital doutrinário que vem do tempo da Primeira República e reformulado em 1973, na cidade alemã de Bad Munstereifel, aquando do nascimento do partido, consequência natural do desmembramento da Acção Socialista Portuguesa (ASP).
Ora, com Manuela Ferreira Leite na corrida a líder do PSD - e com clara vantagem com os seus adversários (alguns completamente inócuos, outros completamente estratégicos, outros ainda completamente ausentes) -, os portugueses vão ter a oportunidade, em 2009, de confrontar duas faces da mesma moeda.
A questão que se coloca, a um ano de distanciamento, é se, por um lado, Sócrates irá nortear a sua política, nestes treze ou catorze meses que faltam até às eleições, com um sentido socialmente mais apelativo, mais humanista, mais... socialista ou, por outro lado, continuará num trilho despersonalizado (tendo em conta o património do partido), liberal, ao jeito dum PSD cavaquista, isto é, ao jeito dum PSD de... Manuela Ferreira Leite.
É que se for este o caminho, Sócrates não tem hipóteses: não só perde a maioria absoluta, como também perde as eleições. Quem ganha, para além do PSD, é também o PCP. Mas isto, sendo a mesma história, é já uma outra história.
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