Cavaco Silva, no silêncio da sua presidência, deu ordens para que, em completo segredo (este homem é realmente muito sóbrio!...) um estudo provasse o conhecimento dos jovens portugueses sobre a realidade política. Foram três as perguntas elaboradas: o número dos estados membros da União Europeia (não sei), o nome do primeiro presidente eleito após o 25 de Abril (é difícil, mas sei) e se o PS dispunha ou não de uma maioria absoluta no Parlamento (esta é fácil). Ora, como é óbvio, estas três questões, de cartilha, não provam absolutamente nada quanto ao conhecimento dos jovens portugueses relativamente à nossa realidade política. Quando muito, provam que o Presidente da República acredita em inquéritos que, através de duas ou três perguntitas, resultam completamente enviesados.
Um exemplo: aqui há tempos, Cavaco Silva foi criticado por não saber que Os Lusíadas, expoente literário e cultural de todo o espaço lusófono, é composto por dez cantos (ele disse que tinha nove). Provavelmente, os mesmos jovens que responderam errado ao inquérito da presidência, acertariam, de olhos fechados, no que falhou o presidente. Agora, perante o erro de Cavaco relativamente ao épico de Camões, é-me permitido afirmar, categórico, que estamos perante o presidente mais inculto da nossa República? Obviamente que não! Cavaco Silva é, naturalmente, um presidente culto, apesar de não ter um tipo de cultura abrangente, vincadamente humanista. Aliás, se o eleitorado fosse atrás de perfis culturalmente abrangentes, não teria escolhido Cavaco Silva para o mais alto cargo da nação. Com efeito, tanto Soares como Alegre ficam a milhas de distância de Cavaco quanto a perspectivas culturais, sejam elas nacionais, como universais.
Deste modo, não quero com isto dizer que está tudo muito bem relativamente ao conhecimento que os jovens têm da nossa história recente. Mas culpabilizar os deputados (mesmo colocando-lhes uma quota parte da culpa) parece-me estupendamente abusivo.
(publicado no jornal Público no dia 3/Maio/2008)
1 comentário:
lindo...
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