Estou propenso a crer que uma passagem pelo Ministério da Educação, superior a dois ou três anos, pode causar uma espécie de síndrome linguístico, em que os ministros e secretários de estado iniciam e desenvolvem uma vertiginosa e estranha linguagem, vazia de sentido, incapaz de objectivar conceitos e realidades.
Ouvi há pouco a entrevista da ministra e não a entendi. Por mais voltas que dê, Maria de Lurdes Rodrigues não passa do "é preciso arranjar soluções e motivações", seja para os alunos, para os professores, para a escola, para os pais, para a autarquia... em suma, para todo o sistema. Mas é no que concerne ao insucesso escolar que esta frase é mais redita. Só que estamos, mais uma vez, no meio privilegiado do eduquês. Não a ouvi, por exemplo, no sentido de diminuir o insucesso (não os níveis de reprovação, obviamente, pois estes já estão num "bom" patamar estatístico), sublinhar que é preciso alterar os currículos (tanta Formação Cívica, tanto Estudo Acompanhado, tanta Área do Projecto!...), reformar completamente determinados níveis de ensino (a estrutura curricular do 2º ciclo é simplesmente absurda e incoerente), acompanhar, se necessário fôr, individualmente os alunos, diminuir drasticamente o número de alunos por turma (mais uma vez o 2º ciclo) e, finalmente, deixarmo-nos de experimentalismos pedagógicos. Por falar em experimentalismos, não há-de tardar para nos depararmos com uma disciplina chamada Educação Sexual (basta, para isso, continuarmos a ouvir, reverentemente, Daniel Sampaio), o que originará, indubitavelmente, mais um reajustamento curricular por causa destes hibridismos não disciplinares. A insignificância desta proto-disciplina reside, numa lógica antagónica, numa outra que se chama Ciências da Natureza. Com efeito, basta olharmos para o programa de Ciências dum 6º ano para verificarmos que a importância duma educação para a sexualidade pode muito bem ser ministrada no âmbito programático da disciplina de Ciências da Natureza. Até porque o corpo humano, na sua vertente sexual, faz já parte dos conteúdos da disciplina. Daí a pertinência da pergunta: o que se ensinará numa suposta Educação Sexual que não possa ser ensinado nas Ciências da Natureza.
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