Reina, por aqui, alguma confusão ideológica. Eu sei que a ideologia anda um bocadinho irradiada do debate político, não se sabendo onde termina a esquerda e começa a direita (e vice-versa), ou mesmo se esquerda e direita realmente têm, actualmente, legitimação política. Naturalmente, para alguns, interessa que esta dicotomia, construída ao longo de todo o século XX e que teve o seu zénite, em Portugal, na revolução de Abril, seja definitivamente apagada da discussão política. São estes os chamados liberais, ou neo-liberais (ou ultraliberais), os quais alicerçam toda a sua "ideologia" na chamada economia de mercado, confiando, cegamente, nas suas capacidades de auto-regulação. O Estado, para estes, não é mais do que uma entidade economicamente apagada, porventura a mais fraca de todos os intervenientes na área exclusivamente económica. Pelo contrário, outros defendem um Estado forte. O PCP forneceu, há bem pouco tempo, um exemplo paradigmático, ao defender que 50% da banca deveria estar nas mãos do Estado. Deste modo, a esquerda e a direita, em Portugal, começam e acabam nestas duas perspectivas existencialistas.
Vem isto a propósito do primeiro debate de ideias que a candidatura de Pedro Passos Coelho promoveu. O tema era sugestivo e direccionável: "Portugal, que Futuro na Economia". O que me surpreendeu (e baralhou), lendo na imprensa o resumo do encontro, foi os argumentos apresentados pelos mais próximos do candidato relativamente às críticas expostas ao actual executivo PS e também à mais directa rival na campanha, Manuela Ferreira Leite.
Assim, foram perfilhados pontos de vista admiráveis como, por exemplo, quando se defendeu que a solução para a actual crise económica não passa por opções contabilísticas, mas antes pela "estratégia e visão de estadista" (Nogueira Leite, antigo Secretário de Estado de... Guterres, Mira Amaral e Miguel Frasquilho). Passos Coelho foi mais longe: "Portugal fixou-se na obsessão do défice, estamos a reduzir o défice, mas a destruir a economia e as empresas".
Confesso que já tive mais certezas quanto ao que vai sair das directas do PSD. Não sei o que aquela gente pensará disto tudo. Ou, pelo contrário, será isto que faz o PSD reconhecidamente o partido mais popular de Portugal?
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