João Jardim diz que reflectiu muito quando decidiu não se candidatar a líder do PSD. Em artigo no Primeiro de Janeiro, o líder madeirense aponta as razões por que não se candidata. Salienta, entretanto, que tinha já congregado as candidaturas necessárias, assim como recebeu centenas de telefonemas do continente, oferecendo-lhe o respectivo apoio incondicional. No entanto, decidiu não avançar. Só que Jardim tem essa capacidade, um tanto irrisória e patética, de mistificar o que não é mistificável ou, quando isso não acontece, de se auto-mistificar. Explicando: diz Alberto João Jardim, em tom crítico, que não aceita "posicionamentos que, pactuando com uma derrota em 2009, se baseiam num calculismo para o posteriormente". Muito bem! De facto, o PSD tem pago, de forma atroz, as diversas recusas politicamente cobardes dos chamados barões em se candidatarem a líderes do partido, precisamente em nome dum oportunismo político que, cedo ou tarde, acaba sempre por florescer. Daí se justifica como é que Santana Lopes chegou a líder e - mais espantosamente - a primeiro ministro, ou como Luís Filipe Menezes conseguiu, em directas, a vantagem sobre Marques Mendes. O tempo não corria, portanto, a favor da nobreza partidária. Por isso, Menezes tem razão quando faz deste facto um ponto de batalha (ou até de honra) política. Jardim está, assim, na linha de actuação do ainda líder do partido, isto é, contra os calculismos políticos que mais não fazem do que afundar cada vez mais o partido.
Só que Alberto João Jardim não é - nunca foi - um exemplo de coerência. Neste artigo, não deixa de deixar portas abertas para um futuro próximo. Ou seja: do mesmo modo que arrisca afirmar, categórico, que não aceita posicionamentos calculistas, pede, poucas linhas adiante, calma às centenas de cidadãos que, do continente, lhe enviaram mensagens de apoio. E a justificação que nos apresenta para esse pedido é que "estamos a atravessar uma situação que é um mero episódio". Ora, esta fase episódica, na razão do líder madeirense, terá o seu fim desejável no congresso do partido, que se realizará depois das directas.
Desgraçadamente, Jardim sonha com um levantamento nacional que levante o seu nome a um ponto incontornável. E para que isso aconteça, ele sabe que o melhor é ir espalhando, no seio desta família que é o PSD, ou melhor, as suas afamadas bases, pérolas retóricas que não fazem mais do que, como atrás referi, mistificar aquilo que não é mistificável.
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