sábado, maio 15, 2010

os candidatos mudos

Cavaco Silva ainda não é candidato, é certo. Mas é Presidente da República. Manuel Alegre já se desvinculou do seu próprio gradeamento epistemológico-político. Ambos são mudos relativamente às medidas veiculadas pelo Governo para combater a crise, ou melhor, o défice (são coisas diferentes, penso, e uma não implica necessariamente a outra: eu preferiria de longe que o verdadeiro escopo se centrasse na crise social). Compreendo a posição de Cavaco Silva, enquanto Presidente da República que não se deve imiscuir nas decisões governamentais (mas porquê?...). Já não entendo Manuel Alegre - sinais do tempo: apoio, a quanto obrigas!... - que fantasia um oportuno silêncio sobre o tema.
Valha-nos Fernando Nobre (por isso é que é, por ora, o meu candidato: despartidário, sem compromissos com nenhum partido) que já sublinhou o seguinte: "ninguém questiona a necessidade de o país adoptar medidas correctivas, o que me questiono é sobre temas específicos como a questão da não existência de uma discriminação positiva ao nível do IVA e do IRS", ao mesmo tempo que propõe um corte de 10% nos salários superiores a 10 mil euros e que os salários inferiores a 700 euros não devem sofrer qualquer penalização em matéria de IRS.
O combate desenfreado (obsessivo: afinal, já não vão ser 8,3% em 2010 mas sim 7,3% e, em 2011, 4,6%!...) ao défice não deve ser feito à custa duma crescente miséria social. Neste ponto, é óbvio que os mais pobres se encontram bem mais próximos do que os que ganham razoavelmente e dos que recebem salários milionários. Convém referir que pobres, em Portugal, estão contabilizados em cerca de 2 milhões (pasme-se: muitos destes são trabalhadores com salários vergonhosamente infames). Para além destes, existem outros tantos que se posicionam no fio da navalha, isto é, um pouco acima do limiar da pobreza. Ora, este agravamento fiscal não vai trazer ao país (à sociedade) uma maior homogeneidade social. Infelizmente, penso que os nossos governantes, estejam eles em coligação ou a governar sozinhos (e eles lá sabem com quem se coligam... é fácil pedir desculpa quando se continua a viver bem) pensam mais em cifras do que em pessoas (desculpem, mas vem-me sempre à minha vertente neurolinguística o grito de António Guterres a Cavaco Silva quando lhe trombeteou que os portugueses não são números...).
É, portanto, necessário, de uma vez por todas, que a fundação política assente naquilo que o padre Anselmo Borges apelidou, apropriadamente, de inteligência social. Sem ela, os portugueses não passarão, inevitável e desconsoladamente, de números rascas.

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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