Segunda feira, no programa da RTP Prós e Contras, o ministro da saúde Correia de Campos, ocorreu várias vezes ao impetuoso imperativo "cale-se" para que o seu opositor no debate o deixasse desenvolver o seu raciocínio. Na Assembleia da República, no dia 8 de Janeiro, a extraordinária ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues, acusou os deputados de "má-criação" (vide DN), ameaçando algumas vezes que abandonaria os trabalhos se as interpelações dos deputados continuassem.
Estes episódios, caricatos, são, no entanto, sintomatológicos sobre a áurea psíquica que paira no interior do executivo. Convém lembrar (sempre) a estes ministros que o facto de ocuparem estes cargos com maioria absoluta não os promove de maneira nenhuma a uma espécie de cidadãos intocáveis no que diz respeito à sua suposta sapiência. Por outro lado, estes ministros, notoriamente marcados pela opinião pública (custou, no caso da Maria de Lurdes Rodrigues), têm de se consciencializar que a pressão que sobre eles recai é o resultado de vivermos há mais de trinta anos num regime que se quer cada vez mais democrático. Ora o aprofundamento da democracia só se faz com a intervenção cada vez mais activa (ou proactiva, vocábulo muito em voga) dos cidadãos e do desenvolvimento de espaços comunicacionais cada vez mais orientado para o contraditório. Por isso, saber viver sob a pressão de uma demissão iminente é também sintoma da boa assunção de princípios civilizacionais pertinentes (aos ditadores, por exemplo, estes princípios não se ajustam). Deste modo, a sintomatologia destes ministros é também um sinal evidente que o executivo no seu todo não se adapta a critérios que em democracia são tão naturais como o ar que respiramos.
Só falta ouvirmos da boca de Cavaco Silva a acusação (implícita, como convém) que vivemos numa espécie de ditadura da maioria (ou a fomentação dos famosos tiques ditatoriais).
Sem comentários:
Enviar um comentário