Na sua secção "Sobe e Desce" na última página do jornal Público, vem assim escrito a propósito das acusações do bastonário da Ordem dos Advogados: António Marinho Pinto falou de corrupção e tráfico de influências envolvendo pessoas que ocupam "cargos relevantes para o Estado". Se se trata do primeiro acto de uma denúncia fundamentada, o gesto é de aplaudir e de seguir atentamente. Se ficar por aqui, o gesto é gratuito e injustificado e impróprio do bastonário dos advogados.
Afinal, o que é que se passa com a nossa classe jornalística (O DN, na edição de ontem, em editorial, aponta igualmente o dedo acusador ao bastonário, afirmando que deveria referir nomes)? A verdadeira dimensão do que Marinho Pinto revelou liga-se somente a uma verdadeira posição cívica de alguém que, mercê do cargo que ocupa, deve ter uma voz activa em parâmetros tão essenciais a um regime democrático, como são as vertentes da corrupção e da política. Compete agora a todos com responsabilidades (jornalistas incluídos) que actuem em conformidade, designadamente na área da investigação (jornalística ou penal). Até porque se virmos bem, o modo como António Marinho Pinto se referiu a estes casos não difere muito (mais no seu propósito conteudístico do que na forma como o fez, obviamente) dos eternos avisos dos vários presidentes da república nos fins de ano ou mesmo dos vários senadores da nossa república que volta e meia retomam este tipo de assuntos nas páginas dos jornais.
Só que ser bastonário da Ordem dos Advogados - um cargo com uma forte componente de intervenção cívica - é diferente do que ser senador, seja lá o que isso representa no nosso panorama socio-político. Agora o que não podem os jornais fazerem é andarem por aí a exigirem que António Marinho Pinto aponte nomes. Isso é trabalho que compete a outros. Aliás, a hipocrisia é tanta, neste caso, que ao ouvir o bastonário imediatamente se associa o nome à personagem, ou melhor, às personagens.
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