Ana Gomes habituou-nos a a uma oratória límpida, correcta e sem subterfúgios semânticos. Neste sentido, a eurodeputada pode considerar-se uma das (poucas) vozes livres dentro do PS. É neste pressuposto que se deve observar a entrevista que deu ao programa Diga lá Excelência.
No entanto, não posso concordar com o seu ponto de vista (de admiração) relativamente à posição de António Costa quando decidiu trocar o lugar de ministro pelo de candidato à Câmara de Lisboa. Em primeiro lugar, porque ele jurou cumprir um mandato como Ministro da Administração Interna (era também Ministro de Estado e número dois do governo). Tinha, portanto, obrigações acrescidas. Depois, porque a sua decisão não revelou, como prenuncia Ana Gomes, coragem (Carmona Rodrigues era um presidente moribundo e o seu sucessor pelo PSD - Fernando Negrão - estaria sempre condenado a uma derrota inglória), mas, pelo contrário, um mero e banal tacticismo político (ganha as eleições e fica por lá mais um mandato e, quem sabe, bilhete para outras paragens mais apetecíveis...).
O exemplo de coragem política que Ana Gomes esboçou enquadra-se com mais propriedade em João Soares que, após ter sido um (bom) presidente da Câmara de Lisboa, aceitou uma disputa eleitoral em Sintra, com resultados previsivelmente mais incertos.
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