Quando Mário Soares, aqui há uns meses, invocou uma remota possibilidade de se constituir um diálogo sério com os terroristas, entre os quais se encontravam os da Al-Qaeda, a imprensa portuguesa, na sua generalidade, achou a ideia descabida, mesmo disparatada. Quase todos defendiam os seus argumentos defendendo principalmente os valores democráticos do ocidente, designadamente os que alicerçam o continente europeu.
Devo sublinhar que a minha opinião coincide com a do ex-presidente da república. Não quero com isto dizer que nos devamos pôr de cócoras perante terroristas abomináveis, mas a construção de pontes de diálogo, até para isolar os grupos mais fanáticos, poderá ser um princípio da edificação de um edifício à escala global que se quer de paz e de solidariedade.
Como se sabe, o caminho que se seguiu foi o oposto e os resultados são, como também se está a verificar, desastrosos para a humanidade.
No entanto, a cimeira que decorre este fim de semana em Lisboa vem, no fundo, sustentar objectivamente a tese de Soares. Com efeito, devem-se contar pelos dedos de uma mão os dirigentes africanos que cá estão que não tenham tido (e muitos deles continuam a praticar) actos que esbarram com os tais valores ocidentais e europeus. Mas é também para isso que serve a política: não lidar com as mesmas armas com que estes intratáveis líderes suportam os infindáveis anos de poder.
(publicado no Expresso em 15/dezembro/2007)
Sem comentários:
Enviar um comentário