sábado, fevereiro 14, 2009

o conselheiro

Diz-se que José Sócrates não tem culpa da família que tem. E é verdade. Nem Sócrates nem ninguém devem responder por actos menos próprios ou criminosos de familiares. É claro que esta tese, óbvia no seu articulado, vai ao encontro de uma tentativa de desresponsabilização do primeiro-ministro no caso Freeport. A questão coloca-se, também, em relação aos amigos que temos.Neste sentido, Cavaco Silva também não tem culpa dos amigos que tem. Fica-lhe, aliás, bem, defender Dias Loureiro no caso BPN. Acontece que Dias Loureiro não é só amigo de Cavaco Silva. É também Conselheiro de Estado. Ademais, o ex-ministro da Administração Interna foi nomeado, legitimamente, para este órgão político por Cavaco Silva, seu antigo chefe de governo. Sendo o Conselho de Estado um órgão de consulta política do Presidente da República, não vejo, sinceramente, condições para que Dias Loureiro seja sua parte integrante. Imaginemos que Cavaco Silva reúne o Conselho de Estado por motivos que estejam ligados à actual crise económica em Portugal. Ora, a inevitabilidade de se falar da nacionalização do BPN, das ajudas ao BPP e à banca em geral, é apenas um exemplo da incoerência que se atesta na permanência de Dias Loureiro neste órgão. Para além disso, as últimas notícias sobre o BPN são graves, pois configuram falsas declarações numa comissão de inquérito da Assembleia da República. E mesmo a resposta à confrontação das notícias publicadas este fim-de-semana pelo Expresso, não abonam em nada Dias Loureiro. Ele diz (agora) cândida e alheadamente, isto: "não me lembro dos contratos, posso ter assinado, se vocês o dizem, mas não tenho memória. Foram dois actos isolados".
De facto, Cavaco Silva fica também muito mal na fotografia. Se juntarmos a isto o ex-presidente do BPN, Oliveira e Costa, homem outrora da confiança do presidente, Cavaco fica não só muito mal, com se arrisca a ser o primeiro presidente da terceira República a não ser reeleito.

(publicado no Público, em 17/02/09)

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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