terça-feira, setembro 16, 2008

falência do lehman brothers

Confesso a minha inoperância relativamente aos mercados financeiros globais. Mas o que desejava saber é como é que um banco - o quarto maior banco de investimento dos EUA - que teve, em 2007 (há um ano!) o melhor ano de sempre da sua centenária história (o banco foi fundado em 1958), com receitas, lucros e capitalização bolsista extraordinárias, consegue iniciar um processo de inevitável e aparentemente irrecuperável crise financeira. Parece que atrás deste vêm outros (da área financeira ou não, como parece estar a ser o caso da multinacional informática HP, com um despedimento global de dezenas de milhares de trabalhadores). Desafortunadamente para a Lehaman Brothers, as autoridades federais norte-americanas não iniciaram um processo de solvência financeira, o que fizeram com as congéneres Bear Stearns, Indymac, Fannie Mae e Freddie Mac. Advertidamente, terão chegado a um ponto de não retorno no que diz respeito à intervenção do estado em operadoras financeiras com grande capacidade de intervenção à escala global (estaríamos, assim, perante uma paulatina e desconcertante nacionalização ou, na melhor das hipóteses, no início de uma aproximação ao regime chinês, que convive - aparentemente sem problemas - com a junção de dois sistemas teoricamente incompatíveis: o comunismo com o capitalismo).
O problema é que, ao contrário dos cidadãos comuns que, por motivos que lhes são extrínsecos, entram igualmente em colapso financeiro e social (perda de emprego, de auto-estima, etc.), os administradores que conseguiram este feito extraordinário nunca se verão a braços com este tipo de problemas. Uma falência, para eles, não é mais do que um encerramento definitivo no que diz respeito à labuta financeira (bolsa, banca, etc.). Nunca saberão o que é andar perdidos no meio de gente, a pensar no que irão dar de comer aos filhos dentro de duas ou três semanas. No fundo, é este tipo de "humanização", este tipo de "integração social" que mais falta faz ao paradigma neo-liberal que vivemos hoje em dia. No dia em que esta gente sentir as dores do cidadão comum, será este o dia em que o capitalismo selvagem que nos gere se transformará num outro tipo de orientação paradigmática. E este pressuposto pode muito bem ser estendido aos políticos. Afinal, são eles que prescindiram, encruamente, do primado da política em relação à economia.
Lamentável e infelizmente, a factura vem aí, seca e irrepreensível, na forma de juros e empréstimos por pagar. Consequentemente, as prisões (preventivas ou não) continuarão a aumentar. Só que os outros, aqueles que não têm empréstimos por pagar, causadores primeiros do desacerto económico, andarão sempre por aí, num "outro ramo" ou numa qualquer ilha do pacífico, a passar umas longas e imprudentes férias. Tudo em nome da filosofia do mercado global, que é mais ou menos dizer em nome do salve-se quem puder. E quem não puder, paciência.

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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