terça-feira, julho 08, 2008

um novo paradigma para portugal

Manuela Ferreira Leite trouxe, para o debate político, uma dúvida, a qual se relaciona com a verdadeira necessidade dos mega-empreendimentos que o governo tanto aposta. Desde já, deve-se sublinhar que é positivo que o debate em torno desta temática se (re)inicie. Por outro lado, o governo não deve apostar nos estafados argumentos de que o país precisa de quem decida e que já há não sei quantos anos os projectos se estudam sem que desses estudos resultem deliberações.
O mundo actual (convém não esquecer) presenteia-nos com quadros socio-económicos demasiado mutáveis, em que as verdades de hoje depressa morrem ou se transfiguram. Deste modo, temos, em Portugal, projectos que vão do TGV ao aeroporto e a umas mais não sei quantas auto-estradas que nos colocam, a serem concretizados, numa posição de primeiro plano, no que à componente de aérea-ferro-rodoviária diz respeito, relativamente à Europa. Estaremos mesmo à frente de países considerados paradigmas civilizacionais, como são, por exemplo, os do norte do continente europeu. Mas será realmente isso que Portugal precisa? Estou em crer que não. Portugal só será verdadeiramente um país com índices de civilização condignos se, de uma vez por todas, crescer homogeneamente, isto é, não apostar num TGV que custa 7, 5 mil milhões de euros para poupar 15 ou 20 minutos de Lisboa ao Porto, ao mesmo tempo que deixa apodrecer o comboio no interior do país, onde praticamente a opção ferroviária deixou de ser uma realidade. Ou não gastar seis mil milhões de euros num novo aeroporto quando o actual está longe de deixar de responder às necessidades.
Portugal é um país à beira-mar plantado. Só que, inacreditavelmente, nunca conseguimos que o mar chegasse a mais do que 25 ou 30 quilómetros adentro. Basta olharmos para os vários indicadores de desenvolvimento regionais para depressa verificarmos que o país não parece ter os 89 015 Km2 que realmente tem. Pelo contrário, as disparidades regionais que Portugal apresenta assemelham-no a países com dimensões muitíssimo superiores.
Tudo isto para repetir o que é realmente a minha convicção de desenvolvimento para o país e que passa pelo seguinte: enquanto não formos capazes de expulsar das nossas abstracções mentais a ideia de um país dividido entre um litoral e um interior, entre um deserto (Mário Lino ofereceu-nos um exemplo digno de um oportuno case study, visto ter saído da sua boca, enquanto ministro das Obras Públicas, esta imagem dicotómica do país) e um oásis (outra imagem de um não menos extraordinário ministro, desta vez da ordem cavaquista), enquanto não formos capazes, dizia, dessa verdadeira catarse nacional, nunca conseguiremos alcançar os patamares superiores de qualquer país verdadeiramente civilizado. Por mais auto-estradas e aeroportos e pontes e TGV's e expo's e campeonatos de futebol se instituam.

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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