sábado, março 07, 2009

os erros do computador magalhães

Revelou-se um bom exemplo os variadíssimos e hilariantes erros de português anexados ao muito célebre computador Magalhães, principalmente no que diz respeito ao olhar disseminado do Ministério da Educação para com a educação. Neste sentido paradigmático, nada mais natural do que escutarmos a resposta de um senhor que, dizem, tem a nobre função de assessorar o gabinete do primeiro-ministro, no que concerne à comunicação social. Diz então Luís Bernardo o seguinte: "O Magalhães é um programa de sucesso fantástico, ganha prémios e é um caso exemplar em termos mundiais, por isso o primeiro-ministro se associou a ele (!). Agora, questões concretas sobre conteúdos e eventuais deficiências, isso é com o Ministério da Educação e o das Obras Públicas (!)". Evidentemente que houve também, por parte da equipa de Maria de Lurdes Rodrigues, o óbvio, isto é, que os erros detectados "têm de ser corrigidos". No entanto, permanece a questão de fundo: não devia ser obrigação do ministério da educação rever todo o software do Magalhães antes de o entregar às escolas?
Na verdade, o que tenho vindo a dizer há muito patenteia-se, aqui, de forma indubitável: a educação, para este ministério, não ultrapassa uma série de medidas externas, as quais, inserindo-se legitimamente no âmbito do programa do governo em matéria de educação, não mergulha nunca (ou raras vezes isso acontece) na pedagogia "pura e dura". Rever o funcionamento do Magalhães na sua vertente operacional (e entende-se aqui a operacionalidade no seu todo, isto é, informaticamente, mas também do ponto de vista conteudístico, em que as várias multifuncionalidades da língua devem estar rigorosamente presentes de forma correcta) seria uma excelente e proveitosa acção pedagógica. Mas antes de serem entregues às escolas, naturalmente.

(publicado no jornal Público, em 10/03/2009)

o imbróglio da escolha do provedor de justiça

Estamos, de facto, num imbróglio político. O PSD e o PS, em nome de acordos supostamente tácitos e igualitários (ou democráticos), não se entendem acerca do nome que deve presidir à instituição da República que dá pelo nome de Provedoria da Justiça. Estando o cargo de Provedor de Justiça alicerçado essencialmente num âmbito que visa a justiça social (nas mais variadas variantes que a sociedade contempla), não se entende a razão deste impasse vergonhoso. O que está aqui em causa é, tão-somente, alguém que dê voz às queixas dos cidadãos, quando estes se sentem, de certo modo, colocados à margem de uma sociedade que se deseja cada vez mais justa. É, portanto, um importante espaço que, em nome do Estado de Direito, a República contempla aos cidadãos que vivem em território português. Ora, a questão que se coloca aqui tem um nome: imaturidade política. Na verdade, se estes acordos tácitos tinham alguma razão de existir nos primeiros anos da nossa democracia, agora, com novos percursos que a sociedade tem vindo a trilhar, não faz qualquer sentido este tipo de embirração política. Aliás, os portugueses, em geral, nos quais eu me incluo, não entendem de que modo pode um Provedor da Justiça, marcar, de forma acentuada, o rumo normalizado do nosso regime democrático. Estranha-se, por isso, o silêncio perturbador do Presidente da República, o qual é também, de certa forma, um Provedor da Justiça.

(publicado no jornal Público, em 14/03/2009)

quarta-feira, março 04, 2009

a petição do PP e as dívidas ao Estado

Se há exemplo de como não se deve comportar um partido que apoia maioritariamente qualquer governo, o PS, ao declarar o chumbo a uma petição proposta pelo CDS-PP, a qual obriga a publicitação das dívidas do Estado a particulares e a empresas, acaba de expor um verdadeiro paradigma comportamental, do ponto de vista ético-político. Basta reflectir no seguinte: teria o PS o mesmo pressuposto se estivesse na oposição (não vale a pena equacionar o contrário, isto é, se o CDS-PP enquanto partido do governo votaria favoravelmente uma proposta da oposição do mesmo teor)? É evidente que não. Aliás, todos os restantes partidos concordam com esta petição, a qual já conta com mais de cinco mil assinaturas. Convém referir que o PS é um partido político e não o governo. E faz mal - muito mal, mesmo - se se deixa aglutinar pelo canto da sereia da estrutura governativa.

estrela da amadora e o exemplo do futebol português

O Estrela da Amadora é um clube que, muito provavelmente, deixará de existir a curto prazo. Os salários em atraso - que já contam sete meses - serão, portanto, o carrasco primeiro do clube. Puro engano.
Desde há muito tempo que reflicto no seguinte: Portugal, futebolisticamente falando, é um país provinciano. Um exemplo: cabe na cabeça de alguém com bom senso que os principais programas desportivos sejam quase em exclusivo dedicados à análise dos três grandes clubes portugueses? Os das televisões (SIC e TVI) vão ao ponto de desfrutarem de comentadores residentes que defendem, assumidamente, o Benfica, o Sporting ou o FCP. Do mesmo modo, a televisão pública, que deveria ter a obrigação profissional de dar o mesmo tempo de análise a qualquer jogo, embarca no mesmo trilho. Depois, temos os comentadores que são hilariantes. É só perder um pouco de tempo a ouvi-los e depressa chegamos à conclusão que muitas das opiniões expelidas são fruto de uma total ausência de racionalidade, isto é, motivadas em exclusivo pelo pulsar da "lógica" inflamada da paixão. Mas falam, conversam, discorrem, muitos monologam longos e cansativos minutos. Só vê quem quer, dirão alguns. E também é verdade. Acontece que o país - a grande massa social do país - vive há muito neste ambiente deprimente. Os jornais consumidos pelos portugueses são, na sua maioria, desportivos, ou melhor, futebolísticos (é só ver o espaço reduzido que cabe aos outros desportos). O que não há mal nenhum! Como também não é negativo os portugueses gostarem de futebol. Todavia, é precisamente pelo gozo que o futebol proporciona aos portugueses que deveria existir uma efectiva equidade no tratamento dos clubes. Se tal acontecesse, provavelmente algumas dezenas de milhares das centenas de milhares de habitantes da cidade da Amadora estariam, agora, a encher o respectivo estádio ou a pagar, orgulhosamente, quotas ao clube da terra, em vez de as endereçar para... um dos dois grandes de Lisboa (em menor número, naturalmente, ao outro grande, do Porto).
De facto, estou propenso a crer que o principal defeito do futebol português é este olhar provinciano para o fenómeno desportivo. Para mudar este paradigma seria preciso uma autêntica revolução na totalidade da imprensa, principalmente na rádio e na televisão. Provavelmente, demoraria anos. Mas tenho a certeza de que lá chegaríamos. Porém, esta transformação das mentalidades poderia ser abreviada se existisse uma proeminente entidade reguladora. E para isso bastaria que a actual entidade reguladora fizesse cumprir os seus propósitos normativos, nos quais se incluem, por exemplo, a "regulação e supervisão dos meios de comunicação social"; a certeza do direito à informação; a "independência face aos poderes político e económico"; "o confronto das diversas correntes de opinião, fiscalizando o cumprimento das normas aplicáveis aos órgãos de comunicação social e conteúdos difundidos e promovendo o regular e eficaz funcionamento do mercado em que se inserem", e também funcionar como um dos "garantes do respeito e protecção do público, em particular o mais jovem e sensível, dos direitos, liberdades e garantias pessoais e do rigor, isenção e transparência na área da comunicação social".
Afinal, não é preciso mais nada.

(publicado no Público, em 07/03/2009)

terceira via

Custou-me 1 euro (benditas grandes superfícies) um livrito intitulado Terceira Via. Trata-se de um conjunto de artigos de personalidades da chamada esquerda moderna. Li a introdução. A apologia ao blairismo é por demais evidente. Estamos em 1999. Lêem-se coisas deste tipo: "A esquerda do futuro passa pouco pela capacidade de reorganizar o velho aparelho partidário e tudo pela capacidade de pensar o futuro". Ora, como nos finais do século passado e inícios do actual a União Europeia era governada maioritariamente por este novo olhar esquerdista (treze dos quinze estados membros eram de esquerda), não nos é custoso verificar que a perspectivação do futuro que apregoava não foi muito qualitativamente desenvolvido. Nesta perspectiva, é também dito que "Tony Blair tem um grupo de pessoas que o ajuda a pensar a esquerda do futuro" (!) e que "no mínimo, o assunto terá efeitos muito para além de um primeiro momento de hesitações, resistências, adesões e oposições pouco ou nada fundamentadas." Também se reflecte, na lógica panegírica ao blairismo, que "estar no poder não obriga a deixar as ideias numa gaveta que só se volta a abrir quando de novo se regressa à oposição. O poder permite suscitar novas sensibilidades, novos espaços, novas eficácias e novas responsabilidades. O poder deve ser pensado para fazer política e pensar a política."
Depois, surge o espaço português protagonizado por António Guterres. Aqui defende-se o Partido Socialista como o farol natural da Terceira Via, advogando que a mesma faz parte do código genético do partido, o qual, já com Mário Soares, lutou sempre contra qualquer tentativa de excessos, seja de igualitarismo esquerdista, seja de utilitarista liberalista.
De seguida, ainda nesta óptica introdutória, aparece isto, verdadeira preciosidade da retórica política: "Entre a sociedade de mercado e a sociedade do plano abre-se espaço a uma sociedade regulada, isto é, nem simplesmente administrada nem totalitariamente mercantilizada. Entre o rigoroso pragmatismo e o absolutismo dos valores abre-se espaço à convergência da ética com a política."
Convém salientar que para introdução, ainda por cima de três páginas e meia, é muito. Viro a folha. Aparece-me o primeiro artigo. É de Alberto Martins. Leio a primeira frase: "A regra de ouro da democracia apela ao debate contraditório, ao espírito crítico, ao incentivo da acção cívica esclarecida."
Alberto Martins?!... Aquele do PS?!... Líder parlamentar?!... Vou buscar o João Pinto, eterno capitão do FCP: "prognósticos só no fim!"

terça-feira, março 03, 2009

prós e contras

A Sr.ª D. Fátima Campos Ferreira, do Prós e Contras, anda para ali a inquirir os clientes do BPP como se estes fossem obrigados a saber autênticas minúcias financeiras.

domingo, março 01, 2009

a visão paroquial e provinciana, segundo teixeira dos santos

Independentemente do que se pense da importância da reunião informal de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, para discutir a resposta dos 27 à actual crise financeira e económica, à qual José Sócrates faltou, o argumento usado pelo seu substituto - Teixeira dos Santos - foi deveras ridículo. Teixeira dos Santos andou às voltas com a teoria do ovo e da galinha. Disse isto: "se o primeiro-ministro de Portugal tem legitimidade para ser primeiro-ministro é porque ele é, antes de mais, secretário-geral de um partido" e que "se há alguém que pensa o contrário eu acho que tem uma visão muito paroquial e provinciana do que é a política". Pois não me parece que quem assim pensa tenha, forçosamente, uma visão provinciana da política. O contrário também podia ser apontado, ou seja, ficar na festa do partido em vez de seguir para Bruxelas. Marcelo acabou mesmo agora de afirmar, no seu programa, que Sócrates podia ter conciliado as duas coisas. E tem razão. É bem verdade uma proposta à Marcelo, mas não deixa de constituir um lapso na bem montada máquina socialista.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...