Ontem José
Sócrates foi preventivamente preso , aguardando, por isso, julgamento na cadeia
de Évora. Os crimes que lhe são apontados são graves: corrupção, branqueamento
de capitais e lavagem de dinheiro. O
que me importa, no entanto, destacar aqui não tem a ver com a suposta culpa ou
inocência do agora detido. Qualquer um de nós, sendo acusado do que quer que
seja, afigura-se como inocente até prova em contrário. É um princípio sagrado
de um estado de direito democrático. Acontece que todo o processo relativamete
a este caso, desde a detenção na manga do avião, até a este processo mediático
de interrogatório, enviabiliza determinantemente a presunção da inocência e até,
se formos imparciais, a presunção da competência do juíz de instrução. Vivemos um
período conturbado, com forte inclinação para um tipo de justicialismo popular
e radical. Os exemplos recentes são, infelizmente, notórios, desde os quatro
dias de interrogatório a um suspeito sobre o caso dos vistos gold, até às
aparentementes excessivas penas de dezassete anos de prisão a um sucateiro e de cinco anos a outros arguidos do mesmo processo, passando pela estranheza da inevitável mediatização de outras
detenções de inúmeras personalidades públicas.
O povo gosta destas coisas. Até que
enfim, dizem. Infelizmente, não se percebem que este não é o caminho que leva
Portugal para os cumes civilizacionais. Estou triste. Triste porque acho tudo
excessivo; triste porque via (e vejo, até prova em contrário) em Sócrates um patriota; triste porque acredito
nas pessoas; finalmente, triste porque gostaria de acreditar na justiça do meu
país.
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