domingo, maio 08, 2011

sevinate pinto troca psd pelo pp

A notícia foi este fim de semana veiculada pelos jornais. O antigo ministro da agricultura de Durão Barroso (que foi, outrora, num Portugal de tanga, primeiro-ministro da República portuguesa e que num ápice se exilou em Bruxelas como presidente da Comissão Europeia, o que constituiu, na altura, um incomensurável orgulho pátrio, deixando o governo entregue, com a conivência do extraordinário presidente Sampaio, a Santana Lopes, o qual, na primeira oportunidade de voto, os portugueses remeteram para o limbo paradisíaco do comentário político, originando, por sua vez, um longo consulado socialista socratiano) trocou o seu tradicional voto no PSD pelo apoio a Paulo Portas. As razões são invariavelmente pertinentes e porventura capazes de gozar de um significado mais exemplar e abrangente na relação dicotómica destes dois partidos, designadamente na presente campanha eleitoral. Segundo Sevinate, o CDS-PP é o único partido que atenta aos problemas da agricultura e do mundo rural. Paulo Portas, como se sabe, estende essa exclusividade ao Partido Comunista Português. Todavia, o que me importa perspetivar nesta atitude racional do ex-ministro da agricultura são as suas próprias premissas, ao afirmar que desde que José Sócrates chefia o governo foi feito "um conjunto de maldades incontáveis" nas questões da agricultura e do mundo rural. Adianta que "os agricultores foram sistematicamente humilhados e o PSD tornou-se cúmplice dessa humilhação, na medida em que entrou mudo e saiu calado", não tendo "uma única palavra sobre agricultura durante os quatro anos e meio" do primeiro mandato de Sócrates. Na verdade, a recente e estrambólica proposta de Passos Coelho em transformar o ministério da agricultura numa secretaria de estado parece dar razão em absoluto a Sevinato Pinto.
Acontece que o sr. Sevinato Pinto não é uma pessoa qualquer no mundo da agricultura. Tendo sido já ministro da agricultura ainda não há muito tempo, tem, obviamente, uma quota-parte de responsabilidade relativamente ao estado de insolvência do nosso mundo rural e agrícola. No entanto, não é por aí que pretendo ir com estas linhas (aliás, este tipo de raciocínio retroativo no que às culpas no cartório diz respeito não se afigura, como se sabe, novidade). O sr. Sevinato Pinto ocupa, atualmente (e decerto bem remunerado - um complemento de alguma coisa...), desde 2006, a nobre e mui distinta função de consultor do Presidente da República para os assuntos agrícolas e do mundo rural. Ora, não me parece de dificuldade assinalável concluir que ou o presidente não ligou patavina aos seus doutos conselhos, ou o sr. Sevinate prefere andar assim pelos jornais nesta atmosfera de aconselhamento tardio e estéril.
Em qualquer dos casos, é óbvio que urge também uma reestruturação, por parte do Palácio de Belém, relativamente ao número de conselheiros temáticos e políticos do Presidente da República. É que este presidente tem vindo a dar uma imagem de completa inocuidade política efetiva. Eu sei que não é a ele que cabe decidir, governar. Mas, com tantos e teoricamente bons (e repito: eventualmente bem remunerados) conselheiros, a ele compete avisar os portugueses dos desvios infundados e dramáticos que o rumo governativo, nos diversos momentos, teimosamente (contra os conselhos de muita gente, como se tem vindo abundantemente a provar) delineia. E este exemplo da desgraça que a agricultura portuguesa caiu pode ser considerado paradigmático desta ausência de respostas do órgão de soberania que é a Presidência da República. Não é, pois, por falta de estudos nem de conselheiros (e de estado ou de outros) que Portugal está como está. O problema são, a maior parte das vezes, os políticos.

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