sábado, janeiro 10, 2009

a recessão

José Sócrates deu uma entrevista à SIC. Não a televisionei, mas li sobre o que dela disseram. A ideia, mais ou menos generalizada, é a de que o primeiro-ministro esteve bem e que os jornalistas, desta vez, foram demasiadamente agressivos e opinativos, contrastando, aliás, com a benevolência comunicativa com que Sócrates foi entrevistado há uns meses atrás (Ricardo Costa, que frisou, um dia, que trata o ministro por tu -? -, foi repetente). Com efeito, os jornalistas não devem ser uma coisa nem outra, isto é, a única preocupação que os devem nortear é a de neutralidade na informação que transmitem. Por conseguinte, as suas posturas profissionais não devem sugerir que estão a fazer oposição, como também não devem indiciar que são compagnons de route de quem quer que seja. Seria bom que assim fosse, para que os cidadãos pudessem ser cabalmente esclarecidos.
Também por isso, estranhei que praticamente toda a comunicação social fizesse eco da assumpção de José Sócrates relativamente à crise, pronunciando a palavrinha inoportuna e quase proibida "recessão". Afinal, o país está em recessão. Perdão, segundo o primeiro-ministro, "o cenário cada vez mais provável é o de entrarmos em recessão". Quer isto dizer, portanto, que ainda não estamos em recessão. Estranhamente, não foi preciso a máquina aparelhística do PS trabalhar muito para que a humildade extraordinária de Sócrates fizesse primeiras páginas dos jornais e das televisões. O embalo foi geral, mesmo na oposição, a qual, muitas vezes, fica atordoada e vai à boleia com os média.
Ora, o que toda a gente aplaude, eu vaio. E vaio por que me senti enganado ao longo de seis meses, quando havia promessas de crescimento ou, pelo menos, de um controlo da situação (ao ponto do governo não aceitar um orçamento rectificativo), quando, afinal, estamos já em recessão há mais de seis meses! De facto, segundo o Banco de Portugal, a economia portuguesa entrou em recessão técnica a partir da segunda metade de 2008, através da contracção do Produto Interno Bruto (PIB) por dois trimestres consecutivos, tendo mesmo registado um comportamento muito negativo nos últimos três meses do ano, com indicadores "muito negativos" que apontavam para uma evolução "fortemente negativa da economia" nesse período.
Ora, todo este ludíbrio é de somenos importância para a generalidade dos comentadores. Na verdade, José Sócrates já construiu uma plataforma imagética de tal eficiência que um simples gesto de humildade se transforme num acontecimento nacional.

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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