domingo, novembro 09, 2008

santana lopes igual a santana lopes

Santana Lopes deu hoje uma longa entrevista ao Público. Devo dizer que acho um exagero toda a celeuma que se cria em volta da personagem, a respeito do seu sistemático e putativo regresso à vida política. Na verdade, Santana nunca dela saiu. E, para mais, ele tem todo o direito de querer contribuir, com o seu auto-proclamado virtuosismo, para o desenvolvimento do país. Neste ponto, a comunicação social não é imparcial, visto que outros não são assim tratados, embora haja razões para que isso aconteça. Mas Santana é especial. E a entrevista, delirante, prova isso. Não vou tratar aqui os pontos vincadamente políticos da sua análise. Com efeito, o ex-presidente do PSD não consegue sair do claustro analítico em que ele próprio, invariavelmente, se mete. Neste sentido, tudo gira à sua volta e os outros não são mais do que meras personagens secundárias. Ora através da ameaça reiterada em criar um novo partido político ("não tenho planos para isso", afirma-o circunspecto), ora através das hostilidades pessoais ou das imperfeições ideológicas de que é muitas vezes acusado ("eu luto muito por ideias e por obras...", disse, seriamente), ora através da imagem que transparece para a opinião pública, contrária ao que ele gravemente proclama ("eu quando sucedi a Durão Barroso não pensei em mim", asseverou), ora ainda através da injustiça que foi a sua destituição do cargo de primeiro-ministro ("[Jorge Sampaio] resvalou para um terreno de oposição ao governo, logo desde a tomada de posse", acusa, ainda com mágoa, Santana), tudo serve para que o ex-primeiro-ministro se institua numa espécie de eterno menino guerreiro nacional, incompreendido e perseguido. Por isso, Santana Lopes não desiste, pois um dia o seu zénite chegará e, com ele, Portugal entrará numa nova etapa da sua gloriosa história. Mas, enquanto esse dia não chega, Santana Lopes não faz mais do que a sua auto-construção, o que passa, em muito, por desmentir muito do que é publicado a seu respeito na imprensa.
Como sabemos, uma dessas mistificações tem a ver com o seu (putativo) aprazimento pela chamada vida social. Nisto, o agora auto-proclamado (embora ele recuse esta terminologia) candidato à Câmara de Lisboa é peremptório: "eu não gosto da vida social. Odeio." Pelos vistos, a repórter sorriu, pois ele rapidamente retorquiu: "Pode rir-se à vontade. Ninguém acredita [ele não gosta que lhe chamem Calimero]. Mas detesto. Recuso tudo que posso." Diz mesmo que "não frequento sítios de desregramento de comportamentos". Ora, na mesma entrevista, algumas perguntas e respostas depois, já Santana, à questão astuciosa do jornalista, responde que "Sempre gostei de ir a uma discoteca. Ouvir música, dançar..." e que "gosto de ir ao sábado à noite jantar a um restaurante com amigos, depois podemos ir beber um copo". Mas ele avisa: "a maior parte das noites não saio." Só mesmo com sacrifício: "olhe, sábado tenho uma festa de anos. É uma festa com muita gente, enfim, tenho de ir. Mas por mim, não vou. Sei que a minha imagem é ao contrário, não há nada a fazer. Agora, se me perguntar: vai a recepções de embaixadas? Não, não vou." Continua o hilariante Santana Lopes: "Nesse dia fui a três cerimónias: essa, a entrega do prémio da Fundação Champalimaud e outra no Espaço Chiado. Era da sobrinha do rei de Espanha (...) Lançava um produto e convidou-me". Finalmente, a vertente social da entrevista com Santana Lopes a reconhecer que, quando era Primeiro-Ministro, entrou no bar Alcantâra-Mar (presume-se com a segurança toda atrás) para "dar um abraço a uma amiga minha que comemorava os seus 50 anos".
E é desta maneira que Santana Lopes jura a pés juntos que não é lá muito dado à vida social. É capaz de ter razão…

(publicado em A Voz de Trás-os-Montes, em 13/11/2008)

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