terça-feira, novembro 04, 2008

o vendedor de computadores

O que faz um primeiro-ministro, em plena cimeira Ibero-Americana, colocar-se numa posição de uma espécie de promotor comercial de uma empresa? Parece-me crível que a tomada de posição de José Sócrates, ao propagandear o computador Magalhães, não foi ingénua. Ele sabia que os partidos da oposição, com Louçã à cabeça (Manuela Ferreira Leite manteve um acostumado e - desta vez - sapiente silêncio) não deixariam passar esta sua excentricidade. E é precisamente este alarido que o primeiro-ministro, neste momento, mais precisa. Num momento em que os bancos portugueses (e europeus) estão à beira de um ataque de nervos, em que os professores se preparam para mais uma mega-manifestação, em que o fantasma do desemprego assoma a cada dia que passa e em que a taxa de crescimento para o próximo ano será, com sorte, de 0, 5%, o barulho em torno de um assunto colateral como é a apresentação aos seus colegas ibero-americanos de um computador “made in Portugal” (afinal, é ou não é português?...) favorece – e de que maneira! – a agenda política do governo. Para além disso, José Sócrates demonstrou, com esta atitude de vendedor, uma postura que os portugueses (principalmente aqueles que decidem eleições com o seu voto – o chamado “centrão”) gostam: um homem “sem peneiras” que não se importa de agarrar num computador e, com umas piadinhas à mistura, fazer uma pequena demonstração relativamente ao seu funcionamento.
No entanto, esta pantomina criada por Sócrates revela o que de pior ele, politicamente, circunscreve: a vacuidade do seu ideário político, ou melhor, a “nobreza” das suas convicções. Com efeito, nem mesmo aquelas frases soltas que tanto gosta de citar (“alguém disse que…”) o libertam das amarras desguarnecidas desta realidade. A presente crise económico-financeira serve como paradigma: passa de um neo-liberalismo encapotado em esquerda moderna (com que ganhou o partido), para uma esquerda que acusa esse mesmo neo-liberalismo de protagonizar um “capitalismo selvagem”. É o tempo em que vivemos, dirão alguns. É verdade. Mas convém não esquecer que são os Homens que devem estar à frente do tempo, modelando-o, e não o contrário.

(publicado em A Voz de Trás-os-Montes, em 06\11\2008)

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