domingo, janeiro 16, 2011

a alegre campanha

Como é hábito nestas coisas, os jornais e comentadores construíram a ideia de que a campanha eleitoral tem sido caraterizada por uma inocuidade de assuntos e de visões futuristas. Devem ter razão. No entanto, eu não encontro grandes diferenças para outras campanhas presidenciais. É certo que há já um vencedor antecipado (mais uma efabulação mediática); é também acertado que Alegre tem sido, desde o seu impulso iniciático, um desastre, um fuzil poético no meio das dívidas, dos défices, dos pec's e restantes desorçamentações, das reduções salariais, das obrigações do tesouro, dos leilões, dos juros, dos "credit default swaps"; e que Francisco Lopes é o costumeiro candidato comunista sem nada para dizer que se afigure novidade; e também que Fernando Nobre desiludiu imergindo na sua surpreendente vaidade. Temos, portanto, variegados esboços analíticos, paradoxalmente convergentes nas suas individualidades.
O resultado desta salsada não vai ser dos melhores. O vencedor Cavaco sai fragilizado por ter sido, pela primeira vez na sua longa carreira política, confrontado com a sua própria incapacidade e também com a nulidade do cargo que ocupa. A par disto, Cavaco Silva não é, afinal - tem-se vindo extraordinariamente a provar -, o tal que se encontra por cima da podridão partidária. Pelo contrário, ou por incapacidade de análise, ou por (o que é bem pior) se julgar efetivamente acima da choldra política, o atual presidente da República viveu embrulhado em algumas negociatas pouco recomendáveis. É assim uma espécie de segundo nascimento, que ele, curiosamente, avençou nesta campanha eleitoral.
Do mesmo modo, Cavaco perde pela simples razão que vai ser, provavelmente, o presidente da República reeleito com menor percentagem de votantes em confronto direto com o segundo classificado. Mas mesmo que isto não aconteça, o mito Cavaco Silva enquanto alter ego de uma certa portugalidade acabou, definitivamente.

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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