terça-feira, abril 14, 2009

uma esquerda estúpida

Ilda Figueiredo, cabeça de lista do PCP às eleições europeias, defende a luta do seu partido no sentido de eleger o terceiro deputado para o Parlamento Europeu. Nada mais natural e legítimo. Porém, questionada, reiteradamente, pelos jornalistas sobre um dos possíveis cenários pós eleitorais, ou seja, a eventual não eleição do terceiro deputado, a deputada responde, lacónica, que não quer sequer ouvir falar da hipótese de a coligação obter um resultado inferior aos três eurodeputados e que "quem vai decidir é o povo português". Adiante, confrontada pelo que disse há quatro ou cinco anos, quando afirmou que este seria o seu último mandato, Ilda Figueiredo respondeu que o importante são as eleições de 7 de Junho e que não se lembra de ter dito tal coisa (um disparate, presume-se nas suas palavras), mas que "a vida é assim, é uma dinâmica". Uma dinâmica! Curioso o uso deste vocábulo num partido como o PCP, que é, indubitavelmente, o partido mais preso a concepções passadistas. Na verdade, Ilda Figueiredo não podia ser menos dinâmica (no sentido psicologista do termo) com esta sua asserção, a qual denota uma concepção ideológico-discursiva ultrapassada.
O segundo exemplo que quero abordar diz respeito à extraordinária ideia de uma petição que defende uma "convergência de esquerda nas eleições para Lisboa", que não é mais do que uma frente anti-Santana Lopes. Parece que os inspiradores da coisa foram Jorge Sampaio e José Saramago. Sinceramente, não consigo entender a lógica de tal extravagante ideia, ainda para mais quando, a haver uma coligação, o candidato primeiro seria António Costa, que já provou que não tem jeitinho nenhum para autarca. Por que não Ruben de Carvalho, que já é, aliás, o candidato apurado pela CDU? Não entendem os promotores desta coligação estapafúrdia que com este tipo de iniciativas, só estão a dar mais força de vitória a Santana Lopes?
De qualquer modo, realça-se, nestes dois exemplos, que afinal não é só a direita portuguesa que anda em crise de identidade. Quanto a Ilda Figueiredo, estamos conversados. Em relação à petição, ela evoca o reconhecimento de uma não-aceitação natural em torno do actual presidente da Câmara de Lisboa. É que, se assim não fosse, não seriam necessários estes tipos de iniciativas.

(publicado no jornal A Voz de Trás-os-Montes, em 16/04/2009)

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