domingo, julho 21, 2013

crise e salvação ou salvação e crise

Sabemos que o acordo não vingou. Sabemos que se iniciou de imediato o habitual passa-culpas. Sabemos que o comentário político continuou na venal senda que o tem caraterizado (haja pelo menos alguém que passe ao lado da crise!...). Afinal, o que não sabemos? De facto, parece não existir nada que não saibamos. As teorias são diversas e têm contribuído, de certo modo, para o deslindar da situação presente. Da história económica à política, passando pela social e das mentalidades, anotando costumes e conjeturas personalísticas, tudo tem sido repassado nos jornais, televisões e rádios.
A democracia é também sinónimo de pactos, sejam eles partidários ou sociais. Daí que a proposta do presidente tivesse sido considerada uma mais-valia para o arranjo político-partidário que fomentaria uma verdadeira salvação nacional. Se tivermos em conta os quarenta anos da nossa democracia, por exemplo, não podemos deixar de considerar válida esta asserção. Ainda há dois anos, com a assinatura do famoso memorando, se criou um pacto entre a troika portuguesa e a troika estrangeira e antes se havia criado, embora não escrito, um outro pacto entre a direita e a esquerda mais esquerdista no sentido de não-aceitação do PEC 4, com o consequente derrube do Governo, derrube esse que conduziria, como se hoje claramente se sabe, à intervenção estrangeira, sob a forma de resgaste (sabemos também que tudo seria diferente, mais próximo da situação de Espanha ou Itália, que não foram miseravelmente intervencionadas, se não houvesse tido lugar essa convergência de interesses partidários, poupando-nos também à mais mentirosa campanha eleitoral da história democrática portuguesa por parte do partido vencedor). Acontece que, inteiramente por culpa da incompetência e de algum deslumbramento do Governo, ocasionada pelas magnânimas influências de Vítor Gaspar e de António Borges na tenebricosa cabecinha de Passos Coelho, o que foi acordo tripartido deixava paulatinamente de o ser, quando o PS e Seguro eram remetidos para a parte do problema e nunca para a que configurava a solução. O próprio CDS, parceiro in limine do PSD, foi muitas vezes empurrado para esse lado da contenda, atestada com a perlocutória paciência de Paulo Portas. Assim, foi o PSD quem se demarcou daquilo que era um acordo de regime (ou de salvação nacional) ao ir mais além do que a troika delineava (é o nosso programa de Governo, queremos ir mais além do que a troika, diziam, então embasbacados).
Depois de incontáveis meses de uma governança presidencial abnóxia, eis que surge Cavaco Silva, à sua boa maneira, travestido de o garante de um certo equilíbrio mental da nação, visto que a Constituição, esse documento ao qual jurou fidelidade e tantas vezes chamado à contenda, há muito que deixou de ser lido à letra. Mas Cavaco equivocou-se, mais uma vez, na sua leitura dos sinais, principalmente aquele que, por ora, mais contava: o reconhecimento da sua própria imagem política enquanto presidente da República capaz de congregar forças advindas. Façamos a leitura doutra maneira: tivéssemos nós um sólido Presidente da República e, naturalmente, esta sua salvífica aspiração jamais deixaria de ser ouvida e executada. Como sabemos, ficou só pela audição e levada a cabo por mero exercício de cálculo político-partidário.
E agora? É a pergunta que todo o povo ainda não divorciado destes atores políticos coloca. Agora, senhor Presidente, só mesmo eleições antecipadas para setembro. E basta uma razão: em vez de salvação nacional, o melhor é mesmo uma catarse nacional. E esta só acontecerá com eleições antecipadas. Ao contrário do que Passos Coelho afirma, eleições não são sinónimo de incerteza. Na verdade, qualquer forma de eleição, nesta quadratura social, configura antes uma sinonímia mais próxima da certeza: a certeza de que é ao povo que compete decidir qual o caminho a seguir. O resto são meras interpretações. E destas temo-las aos montes.

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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