domingo, fevereiro 20, 2011

redução salarial dos gestores públicos

Nesta semana foi rejeitada, no Parlamento, a proposta que visava a redução salarial dos gestores públicos. Os vários e unívocos projetos partiram, exemplarmente, dos partidos tradicionalmente à margem do arco do poder. Os votos desfavoráveis foram, também exemplarmente, dos partidos que, por norma, são uma espécie de agência de alto-emprego: o PS e o PSD. Subjacente ao chumbo destas propostas, alinharam-se variadíssimos pretextos, desde a regulação dos objetivos das empresas (dos cargos), até à demagogia inerente a tal tipo de juízos proclamatórios e ao momento da sua apresentação.
Há, todavia, algumas variáveis que convém não esquecer. Uma delas diz respeito à paranóica visão de que estes gestores são uma espécie de "special one" da gestão. É, obviamente, uma pura divagação. Quando de repente uma música dos Deolinda se converteu num símbolo de uma geração "que parva que eu sou", "revelando" que, afinal, existem muitas pessoas - muitos jovens e menos jovens entronizados nos corredores (virtuais ou não) dos centros de emprego - cujos perfis profissionais e académicos nada devem a esta gente que sistematicamente pulula de governo em governo com sequiosas e por vezes pensadas pausas mais ou menos longas, damo-nos então conta – pelo menos os mais incautos –, de que existe, na nossa sociedade, uma narrativa ainda muito apegada ao culto dos homens providenciais. Neste ponto de vista, estes homens (e poucas mulheres) não devem, por isso, obedecer às mesmas leis laborais do que os demais. São senadores da coisa pública. São, por isso, tidos como demasiado valiosos para que isso aconteça. A pátria partidária não pode prescindir dos seus serviços.
Uma outra variável diz respeito ao agravamento do fosso entre os que recebem mais e os que auferem ordenados miseráveis. Neste propósito, convém igualmente recordar que Portugal apresenta um salário mínimo que é dos mais baixos da zona euro. Ou, se quisermos ir mais além, dos países da OCDE, só a Turquia e o México ficam atrás de nós nos índices de desigualdade social (na UE somos os primeiros). Pelo contrário, a discrepância relativamente aos salários mais altos (os representantes cerebrais públicos da nação) é bem menor, muitas vezes até a ultrapassarem a média europeia. Portugal é também a terceira maior potência europeia no que à precariedade laboral diz respeito.
Tudo isto se revela, portanto, digno de uma democracia evoluída, tipo Egito, Líbia, e outros países que andam nestes conturbados tempos a alimentar os noticiários internacionais.

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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