domingo, fevereiro 13, 2011

as moções de censura

São já demasiadas as moções de censura que se alevantam. O governo Sócrates teve, no seu decurso governativo, salvo erro duas. Devida e estrategicamente chumbadas, obviamente. Nesta fase pós-eleições presidenciais, com Cavaco Silva acalentado como nunca na cadeira de Belém (o não-político chegará, finalmente, ao fim deste seu interessante e profícuo percurso político dentro de cinco anos), o PCP adiantou-se à concorrência e sugeriu o óbvio: não prescindirá da possibilidade constitucional de apresentar uma moção de censura ao governo. Marcelo Rebelo de Sousa, comentador-mor do reino, numa ânsia devoradora concorrencial, rematou que o governo estava já morto. Seria, portanto, uma questão de semanas, porventura meses. Entretanto, o Bloco de Esquerda, espreitou uma janela de oportunidade: com o fracasso do estapafúrdio acordo presidencial, urgia a possibilidade de determinar a agenda política. Aparentemente sem grande debate interno, Francisco Louçã, num infantilóide jogo de palavras com o primeiro-ministro no Parlamento, respondeu-lhe com a apresentação de uma moção de censura, a qual ocorrerá no primeiro dia "útil" de Cavaco Silva enquanto presidente da República deste seu segundo mandato. Sócrates tremeu (tremeu sim, senhores). Louçã, no entanto, habituado à caridade dos meios de comunicação social, foi por estes esmagado, aniquilado, ridicularizado...
O desporto preferido dos comentadores políticos nestes últimos meses (anos) tem sido a caça ao Sócrates. Eis que Louçã, esse endiabrado e eterno contestatário de abriladas passadas, tem a coragem de sugerir, assim, por dá cá aquela palha, a prostração definitiva de José Sócrates, o nosso primeiro-ministro. Saltam para a arena, ávidos, gulosos, impiedosos, os jornais - televisivos, escritos, radiofónicos -, os quais, através dos seus fazedores de opiniões (gostava de saber se é ao quilo que esta gente é paga), remetem o Bloco de Esquerda para uma extenuação que poderá significar o seu fim enquanto partido político (um PRD tardio). Neste momento, toda a gente se esquece que o país anda miseravelmente governado por pessoas animicamente derrotadas, impossibilitadas, por isso, de efetuar um bom trabalho. Na verdade, não existe Governo: só Sócrates. Do mesmo modo, as palavras de todos os agentes políticos da oposição, sem exceção, são repentinamente esquecidas. Mas o que interessa isso se o que está aqui em causa não é o país mas antes o partido, ou então o momento mais oportuno para pegar nas rédeas orçamentais. Preencheria horas de citações, mas deixo aqui a de Pedro Passos Coelho, na sua bendita contenção frásica: "Não vamos andar com o Governo ao colo com medo de queimar os dedos. Ou entrar em calculismos políticos para deixar que ele 'torre' até ao mais difícil estar realizado (...) Apesar de não termos grande expetativa sobre a confiança que o Governo merece para fazer as reformas que nunca quis fazer até hoje, colocamos o interesse do país à frente de qualquer objetivo interno (...) também quero garantir que avaliaremos sempre, dentro de uma análise custo/benefício para o país, o comportamento a seguir: mantendo as coisas com estão ou contribuindo para as alterar" (entrevista ao Diário Económico, no dia 4/02/2011).
O exemplo da moção de censura apresentada pelo Bloco é um infeliz exemplo de como os políticos da nossa praça obedecem a uma agenda mediática. Todos, sem exceção (e posso estar a ser um pouco injusto com o Partido Comunista Português). Por conseguinte, é triste verificar como se espera por essa gente que pulula de jornais em jornais (televisivos, preferencialmente) para se esboçar as diversas inclinações discursivas partidárias. E, nestas coisas, bastam os dois ou três primeiros opinion makers abrirem a boca...
O Bloco de Esquerda foi censurado. Essa é a verdade.

1 comentário:

Anónimo disse...

muito bem dito

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...