terça-feira, dezembro 16, 2008

a prisão de mário soares

Sei que Mário Soares não é dado a pessimismos crónicos. Sei também que deu uma grande lição de humildade quando se candidatou às últimas eleições presidenciais e perdeu. O que não entendo é como, num dia, avisa os críticos (internos) de José Sócrates, salientando a vacuidade dos seus reparos para, logo no dia seguinte, escrever isto: "a crise aprofunda-se e generaliza-se. Os Estados desviam milhões, que vêm directamente dos bolsos dos contribuintes, para evitar as falências de bancos mal geridos ou que se meteram em escandalosas negociatas. Será necessário. Mas o povo pergunta: e as roubalheiras, ficam impunes? E o sistema que as permitiu – os paraísos fiscais –, os chorudos vencimentos (multimilionários) de gestores incompetentes e pouco sérios, ficam na mesma? E os auditores que fecharam os olhos – ou não os abriram suficientemente – e os dirigentes políticos que se acomodaram ao sistema, não agiram e nem sequer alertaram, continuam nos mesmos lugares cimeiros, limitando-se a pedir, agora, mais intervenções do Estado, com a mesma desfaçatez com que antes reclamavam "menos Estado" e mais e mais privatizações?"
Será que o ex-presidente da República não entende que esta sua linha de pensamento vai ao encontro do que foi, por exemplo, o paradigma analítico que constituiu o recente fórum da esquerda, em que Manuel Alegre marcou uma presença assinalada?
Parece que Mário Soares se encontra numa espécie de prisioneiro da sua própria deliberação, a partir do momento em que aceitou ser candidato presidencial pelo Partido Socialista. Neste sentido, José Sócrates jogou e ganhou, ao agrilhoar o expansionismo crítico do fundador do Partido Socialista.
Neste sentido, só nos resta esperar que Mário Soares, objectivamente, se decida. É que não chega proclamar – e bem! – uma maior justiça social (a todos os níveis) para depois se colocar ao lado de um governo que pouco ou nada tem a ver com isso. Aliás, o fórum das esquerdas surgiu num governo de esquerda. Não é sintomático?

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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