terça-feira, dezembro 16, 2008

mais uma oportunidade perdida

Esta crise deveria ser aproveitada para um desenvolvimento sustentado do país. No entanto, não me parece que a aposta do governo vá ao encontro desta perspectiva. Faz parte da nossa idiossincrasia, enquanto nação, o não aproveitarmos certas conjunturas económicas. Foi assim com os Descobrimentos, o ouro do Brasil e, na nossa contemporaneidade, a entrada na CEE. Agora o dinheiro escasseia, como é óbvio, mas um conjunto de empreendimentos se anuncia. Porém, não se trata de um conjunto de empreendimentos. Deveria antes ter escrito: um punhado de grandes obras públicas. O adjectivo torna-se, pois, necessário para caracterizar a aposta do governo no relançamento da economia. Não quero aqui esboçar uma crítica ao paradigma de sustentação económica. O mundo ocidental encontra-se nele mergulhado, como se mais nenhuma alternativa houvesse. Na verdade, o que aqui merece comentário crítico tem a ver, essencialmente, com uma gestão preconceituosa dos dinheiros públicos, os quais deveriam existir enquanto verdadeiros fundos de coesão nacional. Por que razão a aposta não é, definitivamente, na homogeneização do território nacional, enquanto país com índices de desenvolvimento desiguais? Mantinha-se o tradicional desígnio nacional das obras públicas, só que com uma grande diferença: deixava-se a fobia do TGV, do aeroporto, da "auto-estrada da justiça", para apostarmos em salas de aulas adequadas, em hospitais condignos, em tribunais remodelados, em passeios aprimorados, em estradas aperfeiçoadas, em caminhos-de-ferro relançados, em cidades equilibradas, etc.
Mas os nossos governantes nunca gostaram de micro-empreendimentos. Pensam tudo em grande. Gostam de deixar assinatura. É por isso que sabemos que foi D. João V que mandou construir o Convento de Mafra, D. Manuel I o Mosteiro dos Jerónimos, o Mosteiro da Batalha por D. João I (com a ajuda divina da Batalha de Aljubarrota), a Ponte 25 de Abril, outrora Salazar, por...Salazar, o Centro Cultural de Belém por Cavaco Silva, e por aí adiante. Aliás, não é menos verdade que muitas vezes uma espécie de cognome se cola aos responsáveis maiores de um período histórico específico (muitas vezes também num processo identitário de auto-designação): o das auto-estradas, o do túnel, etc.
No entanto, é curioso verificar como se ganham eleições com este tipo de (des)sustentação económica. Daí a questão: será que não merecemos este tipo de políticos?

(publicado no jornal A Voz de Trás-os-Montes em 24/12/2008)

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa tarde,

Relativamente à sua pergunta final, devo dizer que se calhar até merecemos os políticos que temos. Ao ler o seu post veio-me à lembrança os "divertidos" momentos televisivos que a Presidente da Câmara de Felgueiras e os seus munícipes nos presentearam, à saída do tribunal, quando foi lida a sentença do saco azul que a condenou a seis anos de pena suspensa e a perda do mandato.
Ora a Exmª Srª Presidente saiu do Tribunal toda radiante a gritar que a verdade tinha sido reposta.
Bem, de facto ela tinha razão de estar contente, pois apesar de ter sido condenada a perda de mandato, ela por lá continua.

Temos, igualmente, Pedro Santana Lopes que vai novamente concorrer à Câmara de Lisboa, depois de ter saído para ir para o governo. E por aí fora.

Claro que merecemos. Pena é que, como tudo na vida, paguem uns pelos outros.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...