quinta-feira, janeiro 29, 2009

o relatório da ocde

Enquanto o país anda entretido com o dúbio e alarmante espectáculo em torno do empreendimento Freeport, um outro caso de manifesta gravidade passou muito ao lado da opinião publicada. Trata-se de um putativo relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), no qual esta instituição internacional terá elogiado as presumíveis reformas educativas do governo. Este, como é seu timbre e tique, iniciou logo uma campanha de informação propagandística, com comunicados vários e coloridos para toda a comunicação social. E o que diz então a nota do governo? "Somente" o seguinte: "O primeiro-ministro, José Sócrates, e a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, assistem amanhã, segunda-feira, dia 26 de Janeiro, à apresentação da avaliação feita pela OCDE das reformas realizadas no 1.º ciclo do Ensino Básico".
Esta "avaliação" (com as devidas aspas) da OCDE aprimora-se ao ponto de julgar que "as reformas [do governo] tiveram um grande apoio em todo o país e irão atrair um crescente interesse internacional" (encontra-se também a aparição de umas ténues e perceptivas críticas quando refere o aconselhamento para um paradigma prático mais visível, no âmbito do aplauso geral e laudatório que constituiu a escola a tempo inteiro no primeiro ciclo de estudos).
Ora, nada disto seria preocupante se não revelasse, por parte do governo e deste ministério da educação, uma ligeira inclinação para a esquizofrenia mediática. É que, afinal, o relatório da OCDE não é da OCDE. A própria organização já desmentiu qualquer vínculo com o documento. Trata-se apenas, como ingloriamente teve que sublinhar José Sócrates no último debate parlamentar, de um estudo que "segue de perto a metodologia e abordagem da OCDE”, mas que foi feito por – note-se o esmero titubeante – “peritos internacionais independentes” (convém também sublinhar que o âmbito geográfico de análise do estudo tem muito de – mais uma vez – estratégia política, ao remeter a investigação para sete autarquias maioritariamente socialistas e apenas dez escolas). Acontece que esse estudo levantado por "peritos internacionais” que seguem de perto os ditames metodológicos da OCDE, parece não passar de um análise encomendada pelo governo em que nada de relevante diz no que concerne a uma verdadeira aferição qualitativa do ensino durante estes quatro anos de Maria de Lurdes Rodrigues. A questão é, portanto, sintomatológica: por que razão o governo encenará estes verdadeiros golpes de teatro? É aqui que me lembro da atávica frase da Ministra da Educação, aquela de perder os professores, mas ganhar a população, ou seja, a opinião pública. E, muitas vezes (demais), também a publicada.

terça-feira, janeiro 27, 2009

yes, we can (versão do seixal)

Anda para aí um candidato a presidente de Câmara pelo PSD (penso que é do Seixal) que não arranjou melhor slogan de apresentação do que o prolongado "Sim, nós podemos". O interessante é a sua honestidade: "trata-se de marketing político". O PSD anda, de facto, com reais problemas na apuração dos seus candidatos autárquicos.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

o "domingo desportivo" e o serviço público de televisão

Vale a pena ver o programa "Domingo Desportivo" na RTP1. Dá aos domingos e é suposto ser uma pósvisão da jornada da liga desse fim de semana. Nada mais errado. Na verdade, chega a ser confrangedor ver o serviço público de televisão ao serviço dos três maiores clubes de Portugal. Parece que não, mas o retrato provinciano do nosso futebol, impulsionado pela televisão e pela extraordinária casta que dá pelo nome de comentador desportivo, é um espelho fidedigno da nossa sociedade.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

pcp

Más notícias para o PCP: Júlia Vale e mais três sindicalistas da FENPROF enviaram uma carta ao PCP anunciando a desmilitancia partidária. Muita ingerência do partido nos sindicatos é a principal razão desta tomada de posição. A sindicalista sublinhou que está "desde os 11 anos de idade, presume-se como militante. A má notícia reside precisamente neste ponto: quem é que está desde os onze anos num partido? Dito de outra maneira: que partido aceita alguém com onze anos de idade? Os partidos são clubes de futebol? É legal?

até já

Mais uma vez, lembrei-me do Pacheco Pereira, na sua análise crítica à comunicação social, relativamente à apologia duma imagem exaltada de José Sócrates. Foi quando ouvi o seguinte na Antena 1, a respeito do possível encerramento da fábrica Qimonda, em Vila do Conde: "o primeiro-ministro está a fazer tudo para evitar a falência, até já ligou à chanceler alemã" (o sublinhado é meu). Ora, torna-se por demais evidente que o reforço semântico dado pela expressão "até já" se relaciona com uma putativa e desesperante luta do primeiro-ministro para evitar o encerramento da unidade fabril. É, pois, uma luta hercúlea. Mas temos que confiar no inaudito esforço de José Sócrates, que até já falou com Angela Merkel.

oportunismo e demagogia

Na política, oportunismo e demagogia andam muitas vezes de braço dado. A maioria socialista chumbou, com se esperava, a proposta do CDS visando a suspensão da avaliação dos professores. O primeiro-ministro não demorou muito para rematar o seguinte: " vi agora alguns elementos do PS a votar com o CDS e não gostei". Não sei se algum deputado tremeu. É normal, pois o período que segue, na vida interna dos partidos, tem muito a ver com a constituição das listas de deputados. Mas Sócrates, com a sua habitual aura de líder incontestado (construção demasiado pacífica do PS) ainda atinou no seguinte: "acho lamentável que no país a única instituição que quer a avaliação seja o Governo". Ora, como se revela óbvio, é totalmente falso que seja assim. Chama-se, pois, a isto, demagogia. E da mais barata.

terça-feira, janeiro 20, 2009

o presidente obama

Acabei agora de ouvir na CNN uma crítica ao discurso de Obama. Dizia então o comentador que foi o primeiro discurso presidencial em que não se ouviu uma frase sonante, daquelas que ficam gravadas na memória ao longo dos tempos. É verdade! Mas o que torna o discurso do novo presidente dos Estados Unidos um discurso extraordinário para uma tomada de posse (com um registo enfático, objectivo, acutilante...) é precisamente a ausência. Não a ausência conteudística, mas a ausência duma retórica ufuna, precisamente aquela que carrega um sem-número de frases feitas. Por isso é que aquele início, com as duas gafes seguidas de Obama e com a mão timidamente levantada, foi talvez a marca mais visível desta sua tomada de posse. E ainda bem.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...