terça-feira, setembro 27, 2011

cavaco silva e o descalabro da madeira

A revista Sábado remete-nos na sua última edição para 2008, aquando duma intervenção de Cavaco Silva, presidente da República, no Parlamento. Interessa-me a reprodução, designadamente em alguns pontos discursivos fundamentais, a respeito da Região Autónoma da Madeira: 1- a região "é um caso de sucesso económico e social"; 2- o "desenvolvimento aqui registado deve servir de estímulo para Portugal inteiro"; 3- a Madeira mostra ao país "que é possível fazer melhor"; 4- é "legítimo que o governo regional exija mais e melhor da parte das autoridades da República". Sabemos também que o Tribunal de Contas tem vindo alertar, preditivamente, nos últimos anos, para as sucessivas irregularidades financeiras do governo regional. Conjugando tudo isto, há uma conclusão que emerge, meia embrumada, de tudo isto. Esta gente, que ocupa os lugares cimeiros do nosso desenho político-administrativo, é de uma completa inutilidade. E esta minha afirmação não se dirige em especial ao presidente da República. Todavia, gostaria de relembrar aos mais descuidados que Cavaco Silva toma a palavra como um ponto de honra. Na verdade, repetiu até à exaustão, nas duas campanhas eleitorais para a presidência da República, o valor da (sua) palavra. Para além, obviamente, do seu alto grau de doutor em ciências económicas, o que dá sempre um jeitaço nestas coisas da alta política.

terça-feira, setembro 20, 2011

a madeira e nós

Sem demagogias (apesar das contingências próprias e naturais duma leitura poder encaminhar o raciocínio para esse sentido único), importa questionarmo-nos sobre o seguinte: quantos mais desempregados, quantos mais encerramentos de instituições públicas, quantos mais cidadãos serão irremediavelmente afetados pelas desgraças de Alberto João Jardim, apesar de este não ser, como sabemos, caso único? Jardim vai ganhar novamente as eleições, com maioria confortável, fazendo jus à nossa bonomia, a qual ajudou a reeleger outros candidatos-tipo como Valentim Loureiro e Isaltino Morais. Será mesmo a democracia, num país com estes cidadãos, o sistema mais viável? Apesar de tudo, penso que sim. Um outro ponto que gostaria de referir diz respeito ao estafado argumento do político que faz obra, argumento que garantirá quase naturalmente a reeleição do líder. Na verdade, o difícil, nestas circunstâncias, residiria em não alcançar o desígnio da autoestrada e do túnel, da rotunda e da fonte luminosa. Já o ensinamento helénico, pela pena de Isócrates, nos alerta que o governante, para merecer as honras do seu povo, terá de exercer sobre si próprio uma severa disciplina e que a sua superioridade está ligada a uma excelência na virtude que iguale ou exceda as honras de que é objeto. Mais respeitinho, portanto, com a Grécia. Afinal, somos todos gregos.

segunda-feira, setembro 19, 2011

a madeira dos partidos

O pior que podia acontecer a este imbróglio batoteiro madeirense é ser tratado como uma disputa de galos partidários, entre o PS e o PSD. Conhecendo os políticos da nossa praça, esta inclinação chineleira era inevitável. Jardim, que devia estar muito caladinho, começou logo a acusar o Governo PS sobre a lei da finanças regionais, a qual resultou num encolhimento das remessas cubanas. Antes, porém, já Miguel Relvas, a respeito duma ocultação de seis milhões de euros no Instituto do Desporto desde 2003 ou 2004, convocou aparatosamente tudo e todos, ameaçando com tudo e todos para o apuramento de responsabilidades. Interessante verificar agora o seu silêncio mudo. Neste propósito, convém realçar o sóbrio comportamento político-partidário do PCP, separando o povo madeirense dos políticos extraviados do arquipélago, apesar, julgo eu, das responsabilidades que aqueles também detêm no caos contabilístico do Governo Regional, ao eleger sistemática e alegremente João Jardim há mais de trinta anos. E continuarão a fazê-lo. Tudo porque a política, para esta gente, é qualquer coisa que não lhes pertence.

sábado, setembro 17, 2011

o naufrágio esperado na madeira

Para estarmos parecidos com a tragédia grega nos noticiários internacionais só faltava mesmo este descalabro escondido das contas da Região Autónoma da Madeira, governada há mais de trinta anos por uma personagem igualmente digna dos melhores aprendizes de déspotas políticos. O poder origina muitas vezes estas tortuosas veredas, as quais acabam invariavelmente num ponto sem retorno. Ouvindo João Jardim agora, mete dó. O homem que se impôs, ano após ano, legislatura "cubana" após legislatura, tenta apontar, desapontado ele mesmo, o dedo ao último governo socialista. Não deixa, no entanto, de ter alguma razão. Acontece que os atores políticos não foram somente socialistas. Houve presidentes da República, e outros (contas, constitucionais, banco de Portugal...), social-democratas, democrata-cristãos e até uma Assembleia da República que nunca ligaram angularmente para o país do Alberto João. Uma classe política adormecida, anestesiada, a mesma que deixou o país (Madeira incluída) chegar ao presente vergonhoso que nos governa. Por isso aquele gesto de Vítor Constâncio, em Bruxelas, quando os jornalistas lhe perguntaram sobre as contas madeirenses, encolhendo infantilmente os ombros, basta para percebermos a tragédia, a nossa tragédia.

quinta-feira, setembro 15, 2011

crise económica e crise social

Temos um manual de instruções que o governo prometeu religiosamente seguir. Na última página, o sol renascerá para Portugal. A crise económica resolver-se-á. Ficaremos, portanto, todos mais felizes. Todos exceto uns milhares de sacrificados, os quais estarão, nestas suas únicas vidas, irremediavelmente excluídos. Substituiremos, assim, uma crise económica por uma crise social. Acontece que esta, em grande parte, é muito mais silenciosa, isto é, mais conveniente. E a Troika não trata destas coisas.

domingo, setembro 04, 2011

o discurso de passos

Este tipo de argumentário de Passos Coelho ao reclamar o início do fim da crise para 2012, ao mesmo tempo que aponta o dedo para aqueles que "pensam que podem incendiar as ruas e ajudar a queimar Portugal" não pega. Em primeiro lugar, porque é demasiado mofoso. Depois, porque nos remete para uma certa pacovice nacional quando, por exemplo, afirma que "pode haver quem se entusiasme com as redes sociais e com aquilo que vê lá fora, esperando trazer o tumulto para as ruas de Portugal”. Para as ruas de Portugal... lá fora... Será um recado ao facebook cavaquista?

quinta-feira, setembro 01, 2011

o super álvaro e a pagadoria da crise

Candidamente, o ministro Álvaro advoga que os contribuintes não devem ser mais carreteados com a crise. Por isso, coadjuvado com o menos super Gaspar, defende a urgência nos cortes da despesa do Estado. E esses cortes resumem-se, simplificadamente, a uma palavra: desemprego, isto é, colocar no olho da rua aqueles que presumivelmente estão a mais. Tudo em nome, obviamente, de um acordo que o seu partido siamês (socialista de seu nome) também assinou e que não foi (não foram) capaz(es) de discutir verdadeiramente (dinheirinho sonante, de imediato, fala mais alto do que qualquer argumentação...). Acontece que este governo, liderado por Passos Coelho, sofre de um certo provincianismo cavaquista, o qual também se pode resumir ao que foi, em tempos, o (auto)epíteto do melhor aluno. Daí que a estafada asserção do querer ir mais longe ande na boca desta gente, como se com isso ganhasse o respeito da sr.ª da Alemanha e dos restantes parceiros. Provavelmente até olharão Passos com alguma benquerênça e - quiçá - com fugazes esgares de algum respeito. Mas valerá realmente a pena? Naturalmente, a resposta é não. O que este governo delineia, na sua globalidade estruturante, não é mais do que tratar os portugueses mais dependentes como meros objetos de índole abstrativa. Os portugueses não são números, dizia o eufórico Guterres na onda de uma vitória contra Cavaco Silva. Pois não. Mas também não são instrumentos.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...