segunda-feira, agosto 10, 2009

política desacreditada

Não sei muito bem o que faz com que os políticos, de uma maneira geral, falem como se fossem uma espécie de damas virtuosas. Quando os ouvimos, independentemente da cor partidária, o que primeiro denotamos, na mensagem geralmente televisiva, é a postura séria, virtualmente cumpridora. Só depois somos capazes de decifrar a semântica da própria mensagem. Nos dias que correm, extraordinariamente audiovisuais, quem falhar neste primeiro pressuposto, não terá grandes hipóteses de ganhar o que quer que seja. É o que Manuela Ferreira Leite tem vindo a desenvolver, aparentemente com sucesso, de há um ano para cá. Até porque José Sócrates se encontra nos antípodas de uma postura de credibilidade. Daí que não se perceba muito bem a onda crítica interna que se levantou com a não inclusão, na lista de deputados, de alguns membros indicados pelas respectivas distritais. Pedro Passos Coelho terá sido, porventura, o afastado de maior relevo, até porque foi, como se sabe, um adversário da líder nas eleições internas do partido. Mas não tem, quanto a mim, razão na sua indignação (embora se lhe reconheça, naturalmente, legitimidade política), pois a postura do líder da Assembleia Municipal de Vila Real, aquando das eleições europeias, foi de uma inconcebível rejeição, a roçar muitas vezes o desprezo, no que diz respeito ao apoio à líder do seu partido. Preparava, pois, uma nova candidatura e as contas saíram-lhe torcidas. A sua reacção, ao afirmar que não fará campanha nestas legislativas, não é mais que um amuo tardio e acriançado.
Mas voltemos ao princípio: o potencial virtuosismo da mensagem política para nos determos em duas personalidades, as quais ocupam os mais altos cargos políticos da nação: o Presidente da República e o Presidente da Assembleia da República. O que fará, por exemplo, Cavaco Silva afirmar, de modo subliminarmente crítico (já uma espécie de imagem de marca), que os diplomas enviados para Belém pelo governo, neste final de legislatura, dariam para quase encher um bom jipe? As suas palavras foram objectivamente direccionadas e implacáveis: “Não me recordo de tantos diplomas. Penso que quase enchem um bom jipe”. É que, conforme revela o Expresso na sua última edição, foi Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro, quem mais diplomas enviou ao Presidente da República Mário Soares em final de mandato legislativo. Só nos dois meses finais do X Governo Constitucional (1985-1987), por exemplo, foram 119 diplomas, os mesmo que, em igual período de tempo, foram remetidos para Belém, na legislatura seguinte, já com maioria absoluta (1987-1991). Soares, segundo o mesmo jornal, não emitiu qualquer espécie de recadinho televisivo.
Quanto a Jaime Gama, basta lembrar a famosa polémica que criou, enquanto deputado, em 1992, quando chamou, de forma explícita, Bokassa a Alberto João Jardim (“não temos medo de nenhum Bokassa, nem do Bokassa madeirense”, virava-se o então deputado socialista para a bancada social democrata) para, há pouco mais de um ano, em visita à Madeira enquanto Presidente da Assembleia da República, pronunciar, adocicadamente, o seguinte: “Temos de reconhecer (…) que toda esta obra (…) tem um rosto e um nome e esse nome é o do Presidente Regional da Madeira (…) exemplo supremo da vida democrática”. Palavras para quê? Leva-as o vento, não é verdade?

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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