segunda-feira, novembro 02, 2009

isabel alçada: evolução na continuidade?

É meu entendimento que a ex-ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues, desempenhou, ao longo dos seus penosos e longos quatro anos de mandato socialista, um péssimo trabalho à frente de um dos mais importantes ministérios de qualquer país. Não vale a pena esboçar aqui os vários parâmetros em que Lurdes Rodrigues e a sua equipa menearam o mundo da educação. De qualquer modo, afigura-se-me evidente que o focus de toda esta narrativa política se centrou na incapacidade total do ministério de entender o mundo das escolas. Estas não são, definitivamente, espaços que se podem programar dentro de quatro paredes incontestavelmente teóricas. Assim pensada, a escola resulta numa incongruência altamente burocrática, num “linguarejar sem sentido e sem ideias”, na expressão feliz de António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa. E é precisamente o que tem vindo a acontecer, desde há muito – é justo referi-lo – com as várias equipas que têm gravitado no interior do Ministério da Educação. O exemplo porventura mais marcante e pragmático desta filosofia educativa teve o seu epicentro com a revisão do Estatuto da Carreira Docente, designadamente com a divisão artificialíssima e sem sentido dos professores, a qual resultou em nomenclaturas absurdas como o são, por exemplo, as de professores titulares e professores não titulares (bastaria centrar-nos na singularidade do nome para facilmente verificarmos do completo absurdo da coisa: titulares do quê?!...). Passados dois anos desta inserção nas escolas, evidencia-se pertinente a questão: quais as mais valias que trouxeram os professores titulares às escolas? Acaso funcionam melhor? Os alunos estão melhor preparados? Cidadãos mais fiéis? A resposta é naturalmente negativa. O que não é de espantar, visto que a essência da invenção não tem nada de pedagógico. Para percebermos esta evidência, basta notarmos que somente os titulares conseguem chegar ao topo da carreira. E nestas coisas de topo da carreira, as variáveis economicistas costumam sobrepor-se às restantes, mesmo que nestas se enquadrem realidades pedagógicas meritórias.
Daí que fique ligeiramente espantado quando li que a actual ministra da Educação, a prevista Isabel Alçada, tem, como farol político, a consolidação, reforço e desenvolvimento das alterações introduzidas por Maria de Lurdes Rodrigues. E digo ligeiramente espantado porque me lembro de a ter ouvido aquando das sessões de esclarecimento do Partido Socialista no âmbito da campanha eleitoral (“Avançar Portugal”), e ter ficado espantado com o registo discursivo da então candidata a ministra. Entendi então que Isabel Alçada se posicionou para conquistar o cargo, tal a amplitude panegírica da prédica. José Sócrates gosta deste tipo de personalidades “consensuais”. Daí a contratação.
Felizmente, temos hoje um governo que precisa dos votos da oposição para governar. Conseguintemente, paradoxos como os de Maria de Lurdes Rodrigues e a sua extraordinária equipa educativa, não terão muita razão de existir na actual conjectura política. A não ser que seja por meio da educação que o governo aposte na tão irascivelmente proclamada responsabilidade da oposição. É um preço demasiado alto, sabendo de antemão que, nesta matéria, é o próprio governo que se encontra isolado. Para além disso, a educação tem sido, provavelmente, a área governativa mais errática ao longo da nossa vivência em democracia. O que – facilmente se constata – tem sido também o nosso maior erro.

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