segunda-feira, agosto 18, 2008

“Silly season” e “reentré”

Aos poucos se vai definindo a “reentré” dos partidos políticos. No entanto, tivemos que atravessar a chamada “silly season”. Nada de extraordinário, se tivermos em conta que tudo isto faz parte duma espécie de ritualização que todos os anos nos obriga a olhar o mundo em geral e Portugal em particular da forma peculiar com que os editoriais dos diversos telejornais televisivos preparam as suas grelhas. Lembro-me, de repente, das vezes que vi uma senhora de Abrançalha-de-Baixo, seguida de uma sua irmã, relatar a maneira com os GOE lhes entraram pela casa quando procuraram dois indivíduos que tinham agredido dois agentes no Entroncamento. Os quinze minutos de fama que Wharol preconizava foram largamente ultrapassados pelas televisões que tiveram no ar estas declarações durante três dias, nos dois noticiários. Qual maná dos Deuses, apareceu depois o infeliz caso da menina desaparecida há mais de um ano na Praia da Luz, com o arquivamento do processo, coadjuvado com o lançamento do livro do ex-inspector responsável pela investigação. Novas pistas, novas aparições, novas deambulações fantasistas (não vi o Moita Flores desta vez, possivelmente remetido nalguma silenciosa e envergonhada praia algarvia) e também novo encerramento. Tão cedo não voltaremos a ouvir falar de Maddie Maccain. De repente, algo estranho perturbou as pacatas águas estivais. Lá longe, entre a Rússia e a Geórgia, um forte conflito armado se iniciou a pretexto das já velhas pretensões separatistas (desde o fim da URSS) das regiões, integradas na Geórgia, da Ossétia do Sul e da Abkázia. Mas tudo isto, de uma gravidade extrema para o mundo, foi remetido para um segundo plano dentro dos alinhamentos dos jornais televisivos. Só depois das notícias dos jogos particulares do Benfica, do Sporting e do Porto (geralmente com honras de abertura) é que assomavam os mortos e os milhares de desalojados que a guerra tem vindo a alimentar.
Mas, aos poucos, começam aparecer sinais de que algo está a mudar. São os partidos e as suas “reentrés”. O PCP, igual a si próprio, resguarda-se na festa do Avante, em Setembro. O Bloco de Esquerda anda por aí, nuns comícios envergonhados e em acampamentos cómicos, sempre na busca duma originalidade tonta. O PS, talvez por falta de imaginação e acomodação que o poder inevitavelmente desenvolve, não organizou nada de especial para este fim de Agosto. Vi o José Sócrates na televisão, no seu regresso de férias, como ele fez questão de sublinhar, enaltecendo a prestação dos atletas portugueses nos Jogos Olímpicos, com especial afectação para o luso-nigeriano Francis Obikwelo que, perdendo a possibilidade de correr nas finais dos 100 metros (e depois de jurar que estava na melhor forma de sempre) se apressou a declarar o seu adeus às competições. Isto quando tinha ainda a possibilidade de correr os 200 metros, corrida que, segundo muitos especialistas, estaria muito melhor preparado. E temos o PSD, claro, o partido mais popular de Portugal, como não se cansam de repetir muitos dos seus militantes de renome. Desta vez, a grande questão fracturante foi a não ida de Ferreira Leite, a líder que não gosta de ajuntamentos populares porque pensa que todos eles são populistas, à grande e tradicional festa do Pontal, no Algarve. Ainda por cima, Ferreira Leite, num desdém inusitado, não deu cavaco a ninguém. Se não fosse o Alberto João Jardim, lá nas areias de Porto Santo, a acusar o primeiro-ministro de ter um projecto totalitário para Portugal na construção “de um estado policial”, a par de outros mimos vocabulares como “fascistas”, “mafiosos” e “intuitos ditatoriais”, só acordaríamos com o ajuntamento comunista no Seixal. Desta vez, o Presidente da Região Autónoma da Madeira desafiou o seu partido através de um repto, o qual consiste na possibilidade de aparecer, sob a sua égide, um novo partido (já com nome e sigla: Partido Social Federalista, PSF), caso o PSD não consiga, até Outubro, aparecer com um novo e aliciante projecto para Portugal. Afinal, para quem declinou apresentar-se a eleições intra-partidárias, onde poderia apresentar, de forma mais coerente, os seus intentos, o líder madeirense surpreende, agora, na sua “reentré”. O problema é que ele nos habituou a não o levar a sério. Até um dia, dirão alguns…

(publicado em A Voz de Trás-os-Montes em 21-08-2008)

1 comentário:

Anónimo disse...

lindo!

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...